[04] • Asas cortadas •

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As borboletas não veem suas asas, ou ao menos acho que não; elas não veem a beleza que carregam juntamente a elas; não percebem o quanto encantam cada pessoa que as vislumbram, assim como muitos de nós.

Eu acreditava que todas as pessoas possuíam asas, preparadas para alçar voo todas as vezes que elas acreditassem que eram capazes de fazer isso.

Asas que te faziam voar em direção aos seus sonhos; que te faziam trilhar o caminho que tanto queria; que te mostravam que sim, você sempre possuiria a força necessária se não tentasse se limitar. Mesmo muitas pessoas não as enxergando, e esse, também foi um dos meus problemas: eu estava muito ocupada observando os grandes voos que as pessoas que me faziam mal podiam estar dando e não percebi que elas estavam roubando a minha oportunidade de voar.

Eu sabia que sonhos podiam chegar ao fim, mas não sabia que pessoas também poderiam ter suas asas cortadas; não sabia que podíamos perder nossas asas por conta do mal que outras pessoas fazem a nós; não sabia que minhas asas poderiam ser tiradas de mim de forma tão brutal.

Eu fui ingênua, muito ingênua.

Eu tentei me levantar de tudo aquilo; tentei me desvencilhar de todo aquele ciclo sem fim; tentei fugir deles.

Mas foi ainda pior.

Eles me destruíram ainda mais, pelo simples fato de eu não ser igual; por não gostar das mesmas coisas e conversas; por não me vestir da mesma forma; por não possuir as mesmas médias de notas...

Minhas asas se perderam naquele dia, quando eu tentei me defender silenciosamente; quando meu grito por socorro tentou se materializar, porém, na frente das pessoas erradas.

Não valia mais a pena dizer alguma coisa; ninguém me entenderia, não é? Seria considerado só mais um clichê adolescente; só mais uma coisa da idade para todos aqueles adultos que se encontravam ali para fazer exatamente o contrário do que eu julgava que iriam fazer, não seria? Do que adiantaria dizer tudo o que eu passava para eles naquela época? Exatamente, de nada. Ainda tenho certeza disso, mas eu não percebi que ainda existem pessoas certas, que ainda existiam pessoas em quem eu poderia confiar.

O motivo é simples: as pessoas idealizaram a depressão; o bullying; o suicídio, de forma completamente errada.

A sociedade não percebe que ela mesma cala nossa voz; ela não percebe que é responsável por todos os nossos becos sem saídas; ela não percebe que, na maioria das vezes, temos medo pois sabemos que diante dela, estamos completamente errados, somos perca de tempo.

Foi por isso que continuei calada; foi por isso que abafei todos aqueles gritos por socorro; por isso que todos aqueles cortes e torturas a mim mesma nunca chegaram a passar de um ínfimo detalhe comparados a toda dor das palavras que eu ouvia me dizerem.

Pois, sentir seu interior se rasgar e fragmentar é ainda mais doloroso do que todos os machucados externos que poderíamos adquirir.

Eu gostaria muito de poder ter tido esperança, mas não conseguia ter.

Eu destruí tudo aquilo que existia a meu redor, por culpa de pessoas que deveriam me levantar.

Minha vida, assim como minhas asas, se perdeu.

Eu construí meu próprio ponto final.

Eu cometi suicídio e hoje eu simplesmente gostaria de poder salvar todos os que estão prestes a acabar com a própria história também, gostaria de poder salvar os que estão prestes a cometê-lo, mas não posso, pois ninguém me salvou.

Capítulo dedicado à fasedalua


Próximo capítulo é o "epílogo", sim ou clarooo? Alguém me helpa!!

Asas Que Se Perderam Em Meio Ao Voo | ✓Onde histórias criam vida. Descubra agora