P I L O T O

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 Bournemouth, 15 de março, 2011

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Bournemouth, 15 de março, 2011

O picolé preso entre os lábios de Jesse derretia lentamente, fazendo com que os pingos densos caíssem em sua camiseta perfeitamente branca, diferente das paredes escuras de seu quarto devido ao total breu presente, cujo talvez esse fosse um dos motivos de tamanho calor dentro do cômodo. É possível que, ele estivesse ignorando tudo isso, ou a concentração de seus olhos no videogame era tanta que não o deixava focar em outra coisa.

Ele tinha desmarcado o terceiro compromisso com seus amigos naquela semana. Sua consciência pesava um pouco por isso. Quem sabe se estivesse do lado de fora de sua zona de conforto e parasse de procrastinar, sua vida seria mais feliz, e teria do que se orgulhar no futuro. Ou... poderia ter mais arrependimentos.

Desde pequeno ele escutou dos seus pais que devemos dar valor aos poucos amigos que temos, e que estão conosco em todos os momentos. Mantê-los cada vez mais perto e honrar o espaço que ganharam em nossos corações. Mas será que isso valia também até quando ele não tinha nada além de um vazio existencial para oferecer aos seus?

"Não estou solitário, apenas gosto de ficar sozinho."

Essa era a frase que mais repetia para seu melhor amigo, Theo, nos últimos tempos. E mesmo ela não sendo totalmente verdade, funcionava quando ele não tinha uma desculpa ensaiada para quando o amigo questionava sua isolação do mundo. Talvez ele não entendesse que no momento, sua cabeça e sua vida estavam bagunçadas demais para qualquer coisa. Precisava tomar um rumo.

— E aqui estou eu fazendo exatamente isso... – As palavras carregadas de ironia escapam da boca de Jesse em um sussurro para si mesmo, ainda com os olhos no jogo.

Se sua mãe estivesse lá, provavelmente ela estaria gritando com ele para sair do quarto e ir ver o quê está acontecendo com o ar condicionado. Desde de manhã, ele tinha parado do nada, sem explicação. Jesse disse para si mesmo, que quando voltasse da faculdade iria checar, mas é meio óbvio que não foi isso que ele fez.

Sua necessidade tóxica de procrastinar qualquer tarefa do seu dia-a-dia falou mais alto, e seu videogame estava mais ao seu alcance do que sua já extinta vontade de ser produtivo. O rapaz não sabia como ainda não teve problemas no trabalho. Naquela altura do campeonato era uma das poucas coisas que o distraiam de seus pensamentos intrusivos.

Podemos dizer que o dia não foi dos melhores, já que seus professores chamaram sua atenção pelo baixo rendimento das suas notas. Ele não dava a mínima, nunca passou pela sua cabeça estudar Administração, só estava naquele curso, pois sua namor... Ex-namorada, Lúcia, disse que seria o melhor pra ele, já que ele não tinha ideia do que fazer da vida. Ele precisava ter um futuro, e o que mais odiava era não saber como consegui-lo. A única luz que brilhava na sua vida era Lúcia, e agora ela foi embora. E mesmo que ele estivesse uma completa bagunça naquele momento, sua prioridade no momento era zerar o mais novo Battlefield.

Como uma pessoa consegue obter tanto poder sobre alguém? Ele também não sabia responder essa pergunta. Mas não importa, ela ainda passava pela sua mente todos os dias, juntamente com a dúvida do que ele havia feito de errado.

Ele se entregou total e completamente, ignorou suas necessidades e preferências para satisfazer as dela, a colocou como prioridade em sua vida e assistiu a si mesmo ser jogado de escanteio inúmeros vezes. Tudo isso para provar de todas as maneiras possíveis que a amava, mas nenhuma delas foi o bastante. Por isso, agora ele se pergunta...

Como uma pessoa consegue obter tanto poder sobre alguém?

Com os olhos fixos e concentrados no monitor, e a mente longe, o garoto sente algo gelado entrar em contato com a pele do seu peito.

— Ah, não, mas que merda! – Jesse esbraveja irritado ao perceber que o sorvete havia derretido completamente em sua camiseta. Ele se levanta, enquanto bufa, e vai em direção à cozinha.

Se posiciona em frente à pia com uma escova em mãos e esfrega a camisa sem parar. Falhando miseravelmente em tirar a mancha, mas obtendo êxito em espalhá-la ainda mais.

Foda-se!  Vou ver o que diabos está acontecendo com aquele ar. – Solta bruscamente a escova na pia e sai porta afora, seguindo para as escadas, sem se importar com a camiseta grudenta que tinha no corpo. Ninguém iria vê-lo, e mesmo que vissem, ele estava puto o suficiente para não se importar.

Talvez, o fato do prédio não ter elevador fosse bom. Odiava lugares pequenos. Ele sobe as escadas com rapidez, queria terminar logo com aquilo, mas seria mais rápido se ele não morasse no quinto andar.

Bom, pelo menos não é no térreo.

"Puta merda, e agora, qual é mesmo?" Ele pensa ao chegar no terraço e se deparar com vários aparelhos. A última vez que tinha subido ali em cima, ainda era um pré-adolescente que a maior das preocupações era as espinhas internas na testa. Okay, não vai ser tão difícil assim se lembrar.

Ele sente os seus fios de cabelo loiros serem bagunçados pelo vento, e leva suas mãos até eles, tirando-os da testa, grudados pelo suor. Esse simples gesto o lembra instantaneamente de Lúcia, se ainda estivessem juntos ela não pararia de pegar em seu pé para cortá-los, seu principal argumento era que o fazia parecer um "vagabundo". Ele não sabia ao certo, mas talvez ela estivesse certa, afinal, ela sempre estava.

Ao andar mais pro meio do terraço, ele se lembra que da última vez, havia escrito suas inicias e o número de seu apartamento no aparelho. Depois disso, foi fácil encontrar. Jesse segue em passos largos até ele, e quando chega perto o suficiente consegue perceber o motivo do problema. Uma pipa estava presa em uma das grades.

"Eu mereço." o rapaz pensa antes de se pendurar na grade do aparelho e começar a subir para alcançar o objeto de papel colorido, já desgastado. No topo, ele estica seu braço, agarrando a rabiola da pipa, e continua impulsionando seu corpo cada vez mais para frente. Ele segura firme na linha e começa a puxar a pipa, mas o garoto coloca tanta força em um puxão que perde o equilíbrio, o levando direto pro chão, do outro lado do aparelho.

"Puta que pariu!"

Claramente, ele iria pro inferno se o aparelho estivesse mais perto da beirada do terraço, já que suas últimas palavras seriam um palavrão enorme e não algo fofo como: "Eu te amo, mãe". Mas, graças aos deuses, isso não aconteceu. Apenas dois gritos estridentes foram ouvidos, e o de Jesse foi o mais longo, claro.

Espera... Dois?

Oeeeee, gatinhos! Tudo bem com vocês?

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Oeeeee, gatinhos! Tudo bem com vocês?

Esse é o primeiro cap de Gravidade, bem curtinho só pra vocês pegarem o ritmo da estória e conhecerem o Jesse.

Os próximos capítulos vão ser maiorzinhos, então espero que gostem!

Deixem o feedback de vocês que me ajuda muuuito. Principalmente sobre a escrita e os personagens que vão conhecer mais logo logo :D

SZ

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