LUCIA
Entrei em casa pensando na minha conversa com a Vivian sobre o Felipe, tinha que admitir que a minha amiga estava certa, era muita sacanagem da minha parte mantê-lo preso a mim da forma que estava fazendo, principalmente um profissional como ele, o seu projeto de teste para promoção estava perfeito, foi difícil descartá-lo e me sentia a mais insignificante das criaturas por ter feito algo dessa natureza, mas fazer o quê?! Não conseguia evitar o meu egoísmo e o desejo oculto de que ele me visse de uma maneira diferente da que enxergava em seus olhos.
Nunca fui romântica nem vinculei minha vida a de um homem, mas tem uma fase em que chegamos na vida que desejamos muito ter algo mais, um som diferente quando entramos em casa e porque não admitir, morri de inveja quando ouvi uma conversa do Felipe com a noiva, a maneira como ele era um cara sensível e muito atencioso. Acho que meu relógio biológico clamava por flores e bombons.
Sentei no sofá e a biju, minha gata de estimação veio para o meu colo. Enquanto coçava sua cabeça lembrei a mamãe dizendo quando a adotei: "agora as coisas se complicaram Lucia, adotar uma gata sendo solteira é estar fadada a não mudar essa questão da sua vida".
Sorri para ela e não respondi ao questionamento, afinal a biju era o meu amorzinho e tê-la em minha casa não queria dizer que não constituiria uma família.
Admitia meu gênio insuportável, minhas esquisitices e que amava a praticidade que a liberdade de não dar satisfação a ninguém possibilitava como, por exemplo: tomar minhas decisões e escolhas sem me preocupar com sentimentos alheios, por isso que reconhecia que tentava me fazer ser notada pelo Felipe da maneira menos indicada, apenas para não abrir mão dos meus critérios.
Talvez o melhor fosse imitar a Vivian e pensar em adoção, não me via em um relacionamento amoroso, mas com certeza me via mãe de uma criança.
Cheguei ao trabalho na segunda e fiquei de olho no Felipe, estava incrivelmente desligado o que não era do seu feitio.
- Algum problema? Perguntei quando o vi repassando pela terceira vez uma petição.
- Minha filha precisou ser internada pela terceira vez esse mês e o pediatra não dá um parecer correto sobre o problema. Acabou dizendo.
Percebi que estava tão envolto no problema que não ligou de contar justamente para mim, uma pessoa que demonstrava a cada atitude que aguentava porque não tinha jeito.
- Não tenho filhos, mas minha mãe sempre diz que no caso de doenças, principalmente em crianças devemos sempre ouvir várias opiniões.
- O problema que a minha ex-mulher não está se preocupando com isso. Diz que não sou médico, não posso fazer diagnósticos e ficar questionando.
Olhei para Felipe e percebi que realmente estava cansado e pelo que deu para perceber ele se importava mais com a menina que a própria mãe, então fiz o que minha consciência mandava.
- Passe para a Solange as petições que precisa terminar e pode sair mais cedo. Disse.
Felipe me olhou desconfiado e receoso.
- Não vou repetir e se continuar parado me olhando com esta cara de pateta pode ter certeza que retirarei a oferta – ergui uma das mãos e comecei a cantar – um, dois, três...
Finalmente ele entendeu e com um sorriso amarelo recolheu os seus papéis e levantou.
- Obrigado Lúcia. Disse.
YOU ARE READING
Quando menos se espera ( RETIRADA DO WATTPAD 31/03)
ContoEles se conheciam! Se viam todos os dias' Ela, sua chefe sarcástica, ele, o funcionário que tinha de obedecê-la se quisesse manter o emprego. Os dois com personalidades bem definidas, maduros e independentes que viviam com as consequências das escol...