Selat - Sileus Sandorn Parte 1

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Selat estava chocado.

Como pode existir uma pessoa tão velha? Isso é impossível.

O menino ficou matutando esta pergunta e olhou então para Kumbus. Com todas as novas informações e impressões tão maravilhosas que estavam neste momento bombardeando o Ahalion Kinsain, Selat nem tinha tido tempo de analisar seu anfitrião mais detalhadamente.

Kumbus era um homem alto e de porte musculoso e bem treinado. Seus olhos eram verde oliva e ele tinha uma barba grisalha mal feita com muito estilo. Seu manto tinha semelhanças com o de Samira, contudo era de cor branco acinzentado e parecia refletir e fazer brilhar a luz que caía sobre ele.

Havia uma coisa que estava deixando Selat confuso. Ele não conseguia de jeito nenhum imaginar a idade deste homem. Ele tinha cabelos castanhos com mechas grisalhas e jovem ele não era, mas também não aparentava uma idade avançada. Sua linguagem corporal era elegante e ele poderia até ser uma estrela de cinema. No fim das contas ele irradiava segurança e poder, de um modo que o menino nunca tinha visto.

Uma menina na idade de Selat que passava por ali parou na frente deles. Seus olhos castanhos brilhavam cheios de excitação. Ela olhou alegre para Kumbus e falou com uma voz gentil enquanto brincava com uma mecha do longo cabelo castanho: "Mestre Kumbus, boa tarde. Eu espero que vosso convidado possa ver tudo da nossa cidade. Vós sois um excelente anfitrião."

Vós... Vosso... O que droga, eles usam outra maneira formal..., pensou Selat e coçou a cabeça.

A menina lançou um olhar para o novato e o examinou confusa da cabeça aos pés, o que deixou Selat sem entender o porquê.

Tem alguma coisa estranha em mim?

Kumbus deu um leve sorriso, abaixou um pouco a cabeça e respondeu descontraído: "Muito obrigado, Hanefi. Como vai indo seu curso de especialista de poções?"

A menina abriu a boca para responder, mas era como se de repente tivesse se lembrado de algo muito importante, pois suas pupilas dilataram de susto.

"Oh, não, eu esqueci de preparar meu experimento para amanhã!!", ela disse de supetão, "Eu tenho que ir, desejo-vos boa sorte. Heov veîmon siniuv!"

Dizendo isso ela pegou sua capa verde de Kinsor com a mão e saiu correndo.

Selat riu baixo e então se virou para o seu acompanhante, para perguntar: "Mestre Kumbus. O que significa essa despedida?"

O Kinsor riu e explicou: "Heov lunaîd sinio significa: Que Heov te guarde. Ou como Hanefi disse, Heov veîmon siniuv: Que Heov vos guarde. Tanto como segunda pessoa plural, quanto como tratamento formal."

Selat tentou gravar as frases na mente, mas ele tinha certeza que apenas ia se lembrar delas depois de repeti-las algumas vezes. Portanto, começou outra pergunta: "Como vocês me descobriram como Kinsor no meio dos humanos normais?"

O, supostamente velho, Kinsor riu.

"A única diferença entre Kinsain e Kinsor é o tamanho do bloqueio de energia e a quantidade de poder útil que dele emana. Qualquer um tem o potencial para esta força. Mas a maioria tem medo de se esforçar. ", explicou o mestre Kinsor com uma tranquilidade fora do normal.

"Seu bloqueio é grande demais se comparado ao seu poder de Kinsor. Essa assinatura energética é fácil de se captar. Quando os autômatos de procura te descobriram, pedi que fosse erguido um muro de proteção ao redor de Zoberhagen e fiquei te observando. No momento em que você teve o sonho então, Samira pôde te recrutar."

Ambos continuaram andando e Selat refletiu sobre estas informações.

Seus pensamentos perambulavam e volta e meia seu olhar parava em algum prédio maravilhoso coberto de plantas. Algumas casas tinham na sua fachada pedras de Lux que brilhavam em diversas cores.

De repente o menino pensou em coisas que queria perguntar: "Mestre Kumbus, antes quando estávamos na estátua do dragão, vós..."

Selat se sentia estranho usando uma forma tão antiquada de falar.

"...vós não dissestes nada sobre este cajado na mão do Kinsor. Samira tem um e eu vi o vosso. O que é isto?"

O homem parou e explicou: "O cajado Kinsor é a nossa ferramenta e arma mais importante. Eles são feitos de uma madeira cultivada especialmente para talhar o cajado que irá se transformar de acordo com o desejo de seu mestre."

Kumbus ergueu seu cajado com a mão. O objeto começou a se mexer e mudar de forma. Selat ficou observando a flexibilidade dos movimentos e ficou entusiasmado. Ele ainda não conseguia entender direito este novo mundo, mas a cada segundo ficava mais deslumbrado.

"Isso significa", continuou o mestre, "que o cajado pode tomar várias formas e se transformar de uma maneira que você poderá usá-lo em diversas situações."

Kumbus mostrou mais de perto sua ferramenta de madeira. Selat se aproximou e observou mais detalhadamente. A superfície da madeira entrelaçada não era simplesmente lisa, como o adolescente havia pensado à primeira vista. Escritos, desenhos e pequenas pedras brilhosas estavam lá organizados de maneira precisa e harmônica.

Kumbus olhou para o menino e parecia saber o que ele estava pensando e explicou logo em seguida: "Dentro da estrutura de madeira são fixadas gemas especiais, que permitem ao cajado, aumentar a manipulação de energia usada pelo seu usuário. Além disso, ele é dotado de magias de força e proteção e pode conter plantas de Algandion, ou suas sementes, que são extremamente úteis em várias circunstâncias. Mas em caso de você aceitar ser um Kinsor, Mestre Aidan irá te explicar tudo isso melhor num curso teórico."

Kumbus parou de falar. O adolescente estava começando a ter dores de cabeça. Ele vivenciou tantas coisas num dia só e via que sua concentração estava se perdendo. Porém ele estava tão encantado com o novo ambiente que ele se esforçava ao máximo para se manter atento. Ele ficou pensando sobre o que Kumbus quis dizer com curso teórico e uma estranha sensação tomou conta dele.

Será que eu tenho que ir pra escola aqui?

Depois de uma longa pausa em silêncio o Mestre voltou à sua fala: "Tem ainda uma coisa; o fato mais importante. O cajado de um Kinsor está conectado com a força da alma de seu dono. Isso faz dele uma parte do Kinsor. Enquanto o possuidor do cajado viver é impossível quebrá-lo."

À medida que ia dizendo estas palavras o mestre Kinsor rodava nas mãos seu cajado ornamentado, enquanto o deixava ir se transformando. Selat tentava se lembrar do cajado de Samira. O dela era completamente diferente ao deste do homem que estava em frente ao rapaz.

Selat tinha que pensar nesta conexão do cajado com a força da alma e isso o deixava agoniado de uma certa maneira.

O cajado está diretamente ligado à vida do seu dono... Mas...

Ele recordou as palavras de Kumbus: Enquanto o dono está vivo é impossível quebrar o cajado.

Logo em seguida a alegria e empolgação voltaram e ele ficou todo animado de imaginar receber uma ferramenta como aquela.

Um pouco depois Kumbus falou: "eu gostaria de te mostrar uma outra coisa: O parceiro Kinsor"

Ele deu um longo assobio. Ao longe surgiu um ponto no céu. À medida que foi se aproximando Selat reconheceu que era um macaco!

Um macaco com asas!!!

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Magia de Kinsor: Trilha da LuzOnde histórias criam vida. Descubra agora