Capítulo 3

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Estava eu fazendo meu trabalho, a última vez que eu tinha mirado o relógio, passava das 02:00 hrs da manhã e eu precisava adiantar o máximo possível. Mas meus olhos estavam bastante pesados. Do nada, comecei a pensar na possibilidade de sair mesmo com o Eduardo, de me envolver, de rolar sexo... Se ele transasse comigo e depois fingisse que nada havia acontecido, não estaria sendo tão cretino. Eu fazia isso o tempo inteiro e achava super normal. Aiiii, olha só no que estou pensando, já já faço algo errado com esse trabalho. Foco Laura, foco!

Acordei assustada, já era de manhã e nem acredito que consegui adiantar boa parte do TCC antes de pegar no sono em cima do Notebook. Vou para o banheiro, tomo um banho gelado para espantar o calor, desço para tomar café e estranho o fato de não ter ninguém na cozinha.

Acordei tão abalada. Não sei se sonhei, mas o fato é que agora eu estava lembrando do meu passado, pensando que talvez, se a minha mãe não tivesse nos abandonado, nossa história tivesse sido diferente.

Em uma manhã eu estava brincando em meu quarto e ouvi gritos, eram meus pais, brigando, algo que talvez estivesse virando rotina. Mas essa era diferente, eu sentia, pois ouvia meu pai pedir para que a minha mãe assinasse o divórcio e fosse de uma vez, sem me envolver naquela sujeira dela. Eu tinha apenas 5 anos e não fazia ideia do que era aquilo tudo, mas ao sair do quarto, vi que ela estava descendo com malas. Minha mãe voltou, me abraçou, beijou meu rosto e pediu que um dia eu a perdoasse por ter viajado sem me levar com ela.

No dia do meu aniversário de 15 anos, eu pensava em minha mãe outra vez e queria procurá-la, saber onde estava, que vida levava longe de nós. E mais uma vez, minha madrasta decidiu deixar sua marca de víbora e me contou que minha mãe havia ido embora com o nosso antigo motorista, que eles construíram uma linda família longe de mim, e que eu não fazia parte daquela felicidade. Aquilo me deixou arrasada, eu nunca tinha entendido o motivo da minha mãe ter ido embora daquela maneira, ninguém nunca havia me explicado, mas o fato de saber que minha mãe preferiu estar outro homem ao invés de passar sua vida ao lado da filha, me deixou em frangalhos, inventei uma dor de cabeça e consegui, com a ajuda da megera, cancelar a festa de aniversário que eu sempre sonhei em ter.

Balancei a cabeça tentando afastar aquelas lembranças terríveis, já tenho 25 anos e consegui viver muito bem sem ela, não vai ser agora que vou fraquejar. antes de ir trabalhar, passo no quarto do meu pai para dar um beijo nele, já que irei passar o dia inteiro fora.

- Bom dia papai, vim te ver e já estou de saída para a empresa. De lá vou direto para a faculdade, tenho um trabalho daqueles para apresentar hoje.

Acho a expressão do meu pai diferente, como se algo sério estivesse o preocupando.

- O senhor está bem papai? – por um instante esqueço que ele não pode me responder, é tão triste vê-lo nessa situação.

- Bom, estou indo. Passo aqui assim que chegar para lhe dar um beijo de boa noite – falo pegando em sua mão e sinto o aperto. Oh Meu Deus, ele apertou a minha mão, isso é um ótimo sinal, arregalo os olhos e penso em sair correndo para chamar alguém da equipe médica, mas logo em seguida desisto, vou esperar para ver se isso acontecer outra vez. Então, me estico para dar um beijo em sua testa e sigo para a porta. Antes de sair, viro mais uma vez para ver meu pai, tenho a impressão que ele está tentando me dizer algo, mais uma vez penso em fingir que não é nada, talvez seja só impressão mesmo. Vou em direção ao meu carro que está na garagem, pensando em como o médico do meu pai é indiferente a mim, às vezes tenho a sensação que ele me esconde alguma coisa a mando de minha madrasta.

Minha rotina ao chegar na empresa é a mesma de todos os dias. Abro meu e-mail, respondo o que posso e deixo os demais para quando tiver as informações necessárias. Decido não sair para o almoço, peço um delivery de sushi e tenho certeza que vou conseguir me manter satisfeita até mais tarde. O que eu não contava era que naquele dia, eu iria escutar uma conversa um pouco confusa, ao passar em frente a sala do Eduardo.

Era aquilo mesmo que eu estava ouvindo? Celeste estava dizendo ao irmão que eu era sonsa,  fingida e  às vezes agressiva? De onde aquela louca tirava aquela ideia? O que ela estava tentando fazer, contando isso ao seu irmão? Depois dessa, vou até sair daqui, respirar ar puro, conversar com a minha melhor amiga, ver o que ela pensa a respeito disso. Faço o caminho de volta para a minha sala, pego a minha bolsa e desço. A essa altura eu já havia perdido o apetite, então, peço que a recepcionista se encarregue de pagar o entregador e fazer o que quiser com o sushi e também que comunique a minha secretária que não retornarei mais hoje. Pego meu Fusca e corro pelas ruas até chegar na casa da Gisele. Caramba, ainda estou um pouco confusa com o que ouvi! Será que o Eduardo acreditou nela?

Assim que cheguei ao prédio da minha amiga, o porteiro me deixou passar, porém, pelo meu estado, deve ter avisado que eu estava subindo, pois a Gih já me esperava na porta do apartamento, com a cara assustada.

- Qual o nome do furacão que te trouxe aqui sem avisar?

- Celeste, claro. Preciso de um copo com água para me acalmar e contar a respeito de uma conversa dela com o Eduardo que ouvi quando ainda estava na empresa.

E assim, contei tudo que escutei para a minha amiga.

- Eu preciso descobrir o que ela está tentando fazer, pois com certeza, ela tem algum plano. Eu posso até ser maluca, mas jamais seria uma pessoa agressiva!

- Calma amiga, às vezes ela só estava contando a respeito de algum discussão entre você e ela, sabe que ela adora se fazer de vítima em certas situações. - Gih tenta me acalmar, é possível que eu esteja exagerando, mas que isso é algo muito estranho, ahh isso é.

- Talvez eu esteja fazendo uma tempestade em copo d'água, mas o que pensar diante de tais palavras? Mas você tem razão amiga.

Passamos o resto da tarde conversando amenidades, colocando o "projeto casamento" da Gih para andar e eu consegui distrair a mente um pouco, mas assim que saí do apartamento da minha amiga, toda aquela conversa louca que ouvi me veio a mente, não consigo entender o motivo da Celeste inventar esse tipo de coisa ao meu respeito. Talvez a Gih tenha razão, ela poderia estar apenas contando a respeito de alguma das nossas brigas em casa, não que eu tenha sido agressiva alguma vez, mas ela tem um drama que não cabe dentro dela... Tento relaxar, tenho coisas mais importantes para pensar agora, algumas questões complicadas na empresa e um trabalho da faculdade que está consumindo o meu juízo e se eu ficar pensando nessa conversa, não consigo me concentrar em mais nada.

Meu CAFAJESTE é um PRÍNCIPEOnde histórias criam vida. Descubra agora