3. Ingrid

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Ingrid encarava Eva, perplexa. Seus olhos semicerrados demonstravam sua desconfiança, como se Eva estivesse mentindo desde o primeiro momento. Isso só deixava-a mais desconfortável, e apesar de Ingrid ser sua melhor amiga, Eva se questionava o porquê de contar essas coisas a ela. Ainda mais sendo tão íntimo. Naquele momento, a garota ruiva estava se sentindo errada, suja, e sem moral alguma.

— Você o quê? — Ingrid disse, praticamente gritando. — Meu deus do céu, Eva!

Eva levou à mão até a boca de Ingrid, cobrindo-a, para que ela se calasse. Ninguém precisava saber daquela história, ainda mais assim.

— Shhh. Fala baixo, minha mãe não pode ouvir isso!

Ingrid assentiu, encarando-a com os olhos brilhando em diversão. Eva se perguntava o que aquilo significava, mas nunca entenderia.

— Você é uma vadia, Eva! Meu deus! — Exclamou, absorvendo a notícia, mesmo que, da pior forma possível.

Aquilo só piorava a situação de Eva.

Quando ela estava com o garoto, não pensou o quão suja poderia sentir-se. Na verdade, chegou a ficar confortável em algum momento. Mas com Ingrid encarando a situação como algo catastrófico, fazia com que ela questionasse tudo de forma negativa.

— Ingrid, você não pode contar isso a ninguém, ok? — Eva pediu, falando o mais baixo possível.

Seus olhos não saiam da direção da porta do meu quarto, temendo que sua mãe quisesse falar comigo e entrasse sem aviso prévio.

— Na hora de foder com qualquer um você não estava preocupada, né?!

Ela engoli em seco, cutucando minhas unhas livre de qualquer esmalte. Ingrid parecia eufórica, e Eva, não estava gostando nada daquilo.

— Eu não lembro muito bem, Ingrid — Eva disse, evitando olhá-la.

— Bom, tanto faz — Ela moveu os ombros, não dando importância. — Você vai ir à escola amanhã? Parece que as aulas vão ser canceladas por causa dos jogos.

A mudança de assunto foi essencial para Eva, ela conseguiu finalmente relaxar meus ombros. Ajeitou suas costas nas almofadas, tocando a cabeça na cabeceira da cama.

— Eu não sei. Normalmente não contam presença, então não vejo o porquê ir.

— Não sei com qual escola a nossa vai jogar contra, mas acho que vão avisar daqui a pouco — Ingrid avisou.

Eva apenas moveu a cabeça, pouco interessada no assunto. Só havia dois motivos para as garotas irem aos jogos: Ver os garotos do time oposto. Ou fazer algum trabalho relacionado ao tema.

Eva só ia para acompanhar Ingrid, que só ia para ver os garotos do time oposto, como se não fosse umas das garotas mais desejadas por eles. Mas Ingrid dizia que E.D era muito limitada, e não havia garotos tão interessantes.

— Você soube que teve uma briga semana passada? Se não me enganado, foi uma garota do segundo ano e, outra do primeiro.

— Sabe o motivo? — Eva perguntou, se inclinando para pegar meu celular, assim como Ingrid.

— Parece que a garota do primeiro, estava dando em cima do namorado da outra — Explicou, prestando atenção em seu aparelho, que apitava a todo instante de tanta mensagem que chegava.

— Oh, não acredito, sério?! Nunca ouve brigas na E.D., são raras as que têm — Eva comentou, distraída com as fotos que Ingrid mostrava a ela. Duas garotas discutindo em sequência, até que ouve um tapa na cara uma da outra e, fim de história. — Nossa!

Ingrid pegou o celular para si novamente.

— E esse jantar que terá entre nossos pais, huh? — Perguntou.

Ingrid nem desviou o olhar para respondê-la apenas resmungou: — hum?

— O jantar — Eva repetiu paciente. — Minha mãe acabou de me comunicar que seus pais e seu irmão virá aqui.

— Ah sim! Verdade, minha mãe ficou falando por horas, queria que eu estivesse maravilhosa... como se eu já não fosse.

Eva soltou uma risadinha achando graça no balançar exagerado de cabelo que Ingrid provocou.

— Minha mãe também. Contou até um vestido novo, fiquei surpresa, apesar de estar acostumada com as maluquices da Edith.

Ingrid moveu os ombros, despreocupada. Eva deitou-se na cama suspirou, logo, lembrando-se do último momento que estivera com o Garoto Desconhecido. Havia esquecido de perguntar a ele, mas de qualquer forma não mudaria nada, eles não iriam se encontrar novamente.

Era o que ela pensava.

Mas, de repente, a ideia de que poderia saber mais do garoto era tentadora.

Você é modelo? — O garoto perguntou, incerto.

Eu pareço ser modelo?

Sim, tem estrutura para isso. Além de ser linda.

Eva sorriu agradecida.

Não sou, apesar de ter grandes influências para isso. Era meu sonho quando eu era pequena...

E agora?Desviou seu olhar para Eva, após parar no semáforo.

Agora?Eva juntou as sobrancelhas.

Sim. Você disse "era", qual seu sonho agora?

Ah, não sei. Não faço a mínima ideia.Disse perdida — E você?

"Eu? Queria ter oportunidade de escolher — soltou uma risada sem graça — Por ora, trabalho como mecânico."

Ah, legalDisse, sem ter noção de o que um mecânico fazia exatamente. Sempre que o carro de seus pais quebravam vinha alguém consertar em casa, mas ela nunca viu, nem ao menos tinha qualquer referência que lhe ajudasse.

Ele conserta carros. Ok.

O Garoto Desconhecido ligou o rádio, deixando uma musica calma fluir dentro do carro, na intenção de tirar aquele clima estranho entre os dois. Apesar de que, Christoffer estivesse com o corpo relaxado no banco de couro, os olhos concentrados na movimentação a sua frente e os dedos batucando sobre o volante. Ele parecia tranquilo, sereno, totalmente calmo com a ideia de ter uma garota qualquer ao seu lado.

Ele deve estar acostumado, pensou Eva.

Resiliência ¡ ChrisevaOnde histórias criam vida. Descubra agora