5. Talvez eu tenha ido longe demais.

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Sem conseguir controlar as próprias pernas, Eva aproximou-se do garoto lentamente, evitando fazer qualquer barulho que pudesse chamar a sua atenção, o que era quase impossível levando em consideração que, parecia só haver os dois ali. Quando o garoto fez menção de virar o rosto, Eva desesperou-se e acabou por tropeçar um pé no outro, consequentemente se desequilibrando e caindo para frente. Colocou os braços embaixo da cabeça, como tentativa de aliviar a queda. Funcionou. Entretanto, a ideia inicial de apenas observar o garoto quieto e sair de fininho, deu errada.

— Olá — Cumprimentou ele, em meio a risadinhas.

Oh, ótimo!, pensou Eva.

Eva respirou fundo antes de erguer a cabeça em direção à ele, envergonhada. Ao contrário do que ela imaginava, o garoto não a encarava como se ela fosse uma estranha, apenas esboçava um sorriso de lado, enquanto se levantava para ajudá-la. 

— Não precisa, obrigado — Disse gentil.

Seus braços estavam ardendo, provavelmente pelo contato da pele batendo na areia áspera. Ignorando o fora que Eva havia dado, o garoto ajudou-a levantar, erguendo-a pelos braços.

— Eu falei que não precisava. Estava bem — Mentiu, revirando os olhos para ele.

— Devia estar mesmo — Ergueu as sobrancelhas, dando risada. Eva apenas ficou batendo no braço, para retirar a areia grudada nela. — E aí, machucou muito?

— Está ardendo. — Confessou ela, fazendo careta.

— Deixe-me ver — Disse, tocando o braço dela delicadamente, notando alguns arranhões de leve. — Uh, você vai precisar comprar spray pra passar.

— Ok.

Eva terminou de tirar os últimos grãos de areia do cotovelo e soltou os braços. Quando o silêncio estava tornando-se desconfortável, os dois ergueram o olhar, ambos se encarando com seriedade. Um suspiro escapou pelos lábios do garoto, que desviou o olhar e voltou a sentar-se na areia e puxar o violão para seu colo novamente. Eva não sabia se juntava-se a ele, ou ia embora. Caso escolhesse a última opção. Diria algo? Ou simplesmente dava as costas e ia embora, como se nada tivesse acontecido? A verdade era que, ela não queria ir embora, pelo contrário. Agora que teve uma segunda oportunidade, queria saber mais do garoto em que dormiu com ela — e beijou-a —, apesar das perguntas terem evaporado da sua mente quando se viu hipnotizada pela voz suave dele.

— Então, qual seu nome? — Eva arrependeu-se no exato momento em que terminou de fazer a pergunta. Além de parecer desesperada por alguma informação, ainda foi capaz de atrapalhar o momento musical do garoto. — Desculpa, eu... Acho que deveria ir emb-

— Christoffer — interrompeu-a, abrindo um sorriso sereno. — Christoffer Schistad.

— Bem melhor que Garoto Desconhecido — Ela sussurrou, mas não baixo o suficiente para que Christoffer não tivesse escutado. — Não que eu te chamasse assim, mas é que-

— Sem problemas. É um grande apelido. — Ironizou, novamente interrompendo-a. Dessa vez, Eva irritou-se com a atitude atrevida do garoto.

— Você pode parar de me interromper? — Perguntou amarga. Christoffer riu. — E de rir também, não que o som da sua risada seja tão ruim assim, na verdade é ótima, mas irrita!

— Minha risada é ótima? — Perguntou sereno, descansando os dedos nas cordas do violão.

Eva resmungou baixinho. Mais uma vergonha para adicionar a sua lista enorme de coisas que fizeram-na ruborizar.

— Você não disse seu nome, Garota Desconhecida — Perguntou como quem não quer nada, casualmente.

— Eva Mohn.

O silêncio tornou-se demasiadamente incômodo, Eva, sem conseguir controlar seus olhares perdidos, respirou fundo e olhou para a areia contornando seus dedos pequenos e delicados, dos pés. Christoffer se levantou quando percebeu que Eva havia entrado em uma grande bolha de constrangimento. Ele colocou o violão atrás das costas, calçou os chinelos e passou por Eva sem dizer uma palavra sequer.

Inquieta, Eva se moveu, olhando para trás percebeu que o garoto havia feito o mesmo, e sem evitar abriu um sorriso discreto.

— Pode vir comigo se quiser. — O simples pedido, acompanhado de um sorriso sincero, causou uma palpitação estrondosa no coração de Eva, entretanto, a oferta além de vaga parecia monótona aos olhos de Eva.

Recusar era uma opção aceitável? Eva respondeu a si mesma que, nunca iria saber se não fosse. A noite dela poderia terminar surpreendente, isso só dependia da resposta que ela daria.

Quando deu se conta de que estava perdendo tempo demais pensando, uma coragem extrema criou-se em Eva, consequentemente, trazendo a ela desejos que poderiam ser realizados, caso ela deixasse de pensar e apenas fizesse.

Olhando para a expressão neutra do garoto, Eva apressou os passos, encarando-o enquanto notava seus olhos arregalando a intensidade em que Eva se aproxima apressadamente.

Seus dedos delicados tocam o pescoço de Christoffer quando próxima o suficiente para lhe beijar. As sobrancelhas do garoto se erguem quando pego de surpresa, mas ele não diz nada, apenas acompanha os movimentos decididos de Eva.

De repente, é como se todos os problemas de Eva desaparecessem, sumindo conforme seus lábios sintonizam com os de Christoffer, como duas peças perfeitamente encaixadas. Conforme os movimentos iam ficando cada vez mais suaves, os dedos de Eva deslizavam pela pele fria do garoto, ao contrário dos seus lábios, quentes e macios, como Eva já havia provado antes. Mas agora, mais intenso, real e completamente envolvente. O corpo de Eva estava leve, completamente leve. Ela sentia que podia voar sob as nuvens, livre e encantada. Não sabia que sentiria isso algum dia, por mais que acreditasse no amor, imaginava que apenas pessoas sortudas podiam sentir tais sensações. Eva não achou que encontraria alguém com quem se sentisse corajosa, confiante e acima de tudo, como se a vida valesse realmente a pena de se viver.

Um estalo da onda do mar se chocando contra uma rocha, fez Eva ter clareza de suas ações, e consequentemente dar um passo para trás, totalmente assustada com o rumo que as coisas haviam tomado. O garoto, apenas sorriu de lado, colocou as mãos dentro do bolso da calça e após confirmar que Eva não diria uma palavra de quer, saiu andando como quem não quer nada.

— Ei! — Eva continuou parada, esperando que o garoto virasse, mas ele parecia não ter a escutado. Ou estava fingindo muito bem.

Abalada, ele apenas virou para o lado oposto pelo qual o garoto andava, e seguiu em frente. A caminhada foi longa até continuar pelo caminho de sua mansão, os pensamentos flutuavam pela mente de Eva, queria entender o que a levou a parar na cama de Christoffer. Algo na história parecia errado, já que ela quem teve a iniciativa de roubar um beijo dele. Mas deu-se por vencida, o cansaço era tanto que pensar estava se tornando ruim.

Após viver segundos de puro sonho, Eva deparou-se com sua mãe, parada em frente a porta de seu quarto, com os braços cruzados e um olhar descontente.

— Onde você estava? — Questionou, enfurecida. Eva respirou fundo e tentou ao máximo não se estressar, pois estava completamente exausta para ter uma briga com Edith.

— Sai um pouco para pensar, mamãe. Desculpa, acabei esquecendo de avisar. — Havia um pouco de verdade na história contada pela garota. — Mas posso continuar amanhã, agora, preciso descansar. Estou cansada. Por favor.

— Por hoje eu deixo passar. Mas não esqueça de passar os produtos de beleza, não quero seu rosto prejudicado pela sua falta de responsabilidade. — Alertou. — Amanhã cedo terá uma sessão de fotos para uma revista.

— Hum, ok. Mais alguma coisa?

— Não. Vá descansar, quero que acorde complemente bem amanhã.

Eva suspirou e entrar no seu quarto, chutou os chinelos e decidiu tomar um banho.

Naquela noite, Eva não teve pesadelos. Teve a oportunidade de beijar aqueles lábios novamente, mesmo que em sonho, ainda era incrível. Para sorte de Edith, Eva estava feliz o suficiente para dormir cedo e acordar renovada no outro dia.

Resiliência ¡ ChrisevaOnde histórias criam vida. Descubra agora