CAPÍTULO 1 - TEMPESTADE

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Ian estava sentado a beira da janela do seu quarto já a algumas horas, vendo a forte chuva cair na rua de paralelepípedos em frente a pequena casa onde morava com a mãe. A chuva havia começado um pouco antes do meio-dia e agora quase cinco e meia da tarde parecia ter atingido seu ápice de força.

Sua expressão era de tédio total. No vidro da janela, escorriam pequenas gotas que traçavam seu trajeto, quase em uma disputa em direção a parte inferior. Um longo suspiro fez com que um dos enquadramentos da janela se embasasse .

O garoto de treze anos se perguntava se a mãe chegaria antes do anoitecer. Algumas horas atrás, um raio havia acertado o poste de eletricidade em frente a casa, derrubando toda a rede do bairro e queimando pelo menos um terço dos eletrodomésticos da casa. O som foi tão forte que o ouvido do jovem ainda zumbia um pouco, mas não sabia ao certo se ainda persistia um efeito do evento ou pelo fato de que havia passado as últimas horas ouvindo músicas em seu celular. Fato é que devido a isso, a bateria havia acabado fazia uns quinze minutos, trazendo-o de volta ao ambiente dentro da casa, que obviamente não era nem um pouco acolhedor.

Aquela era uma tarde de poucos soms. Era possível ouvir o vento soprando do lado de fora, o som metálico de uma telha de alumínio que ficava na varanda da casa, quando os pesados pingos de chuva a acertavam e ocasionalmente um raio caia distante, acompanhado de um forte clarão, antecipando o colossal som do trovão, que por sua vez fazia tremer todas as janelas da casa.

Pensou na mãe. Era de costume passar uma parte da tarde sozinho em casa, já que ela costumava chegar entre três e três e meia, mas a mesma já estava atrasada pouco mais de duas horas. "_Deve ser o trânsito. As ruas do centro costumam alagar" pensou. Olhou para o celular descarregado no outro canto da janela e angustiou-se, pois a mãe devia estar ligando incansavelmente, mas com o celular desligado a comunicação se tornara impraticável, visto que não tinham telefone fixo em casa. Claro que em outra situação, não seria diferente, porque desde quando a chuva começara, a rede simplesmente desapareceu.

Lentamente desviou o olhar para o temporal que tomou conta da paisagem na janela. Suspirou. Certamente aquela não era uma tempestade comum. Estava acostumado com chuvas fortes como essa apenas no verão e agora, no fim do outono, nunca havia presenciado tamanho temporal. A rua de paralelepípedos em frente a casa se transformou em um pequeno rio que provavelmente já estava com quatro ou cinco centímetros de profundidade e corria levando rua abaixo todo o tipo de objetos.

Em todos os lados as árvores se inclinavam tamanha a força do vento, quase que em subordinação. Hora ou outra um pedaço de galho passava voando perto da janela, e alguns minutos atrás, viu o que sobrou de um guarda-chuva, passando acima da casa de um dos vizinhos.

E mesmo com toda a anarquia orquestrada pela natureza, o ar daquele dia estava pesado, quase que insuportavelmente denso. E um tanto triste, por assim dizer. A única luz dentro da casa naquele momento, vinha da penumbra do entardecer e mal chegava a iluminar todo o quarto. O jovem provavelmente não admitiria, mas estava com medo. Dentro de talvez meia hora, talvez menos, provavelmente já não restaria luz alguma dentro da casa, e esse pensamento gerou-lhe calafrios, pois morria de medo do escuro.

Certa vez a energia acabou no meio da noite e ele acordou em meio a escuridão total. Procurou o interruptor do quarto e acionou-o, porém não teve resposta. Sentiu falta de ar, tontura, pavor, tudo ao mesmo tempo. O resultado disso foi uma série de consultas com a Dra. Katarina durante quase dois meses. Por um momento lebrou-se do café que ela sempre servia e quase sentiu o cheiro no ar. Não gostava nenhum um pouco de café. Pensando bem, já fazia algum tempo que a mãe não falava dela.

Filhos da TormentaWhere stories live. Discover now