CAPÍTULO 4 - DESESPERO

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Ian lentamente caminhou até a portinhola. A cada passo, lembrava-se do som bizarro que ouviram no primeiro dia. Tinha tido coragem todo o tempo, mas cada passo em direção a porta, parecia miná-la lentamente.

_Eu não sei se consigo.

Os outros dois se entreolharam.

_Eu entendo. Não sabemos o que espera lá fora. Mas pense Iam, que vida é essa que levamos aqui? Deus sabe o que é aquilo que comemos. Não quero te forçar a nada, mas eu em seu lugar não pensaria duas vezes. Prefiro morrer do que passar o resto da minha vida preso nesse lugar imundo.

Marcus tinha razão. Olhou para seu corpo, castigado pela fome e cansaço. Não agüentaria muito tempo nessas condições. Tinha que arriscar.

Caminhou na direção de Marcus. A perna ainda doía.

_Eu vou voltar. E vou libertar vocês. - E o abraçou.

Virou-se para Ellen. A garota estava encolhida segurando as duas pernas observando-o.

_Eu prometo Ellen.

Ela sorriu para ele. Mas não conseguia estimulá-lo a fazer nada. Não sabia se queria que ele partisse e se arriscasse daquela maneira.

Se agachou e levantou a portinhola. Marcus que era o que estava mais próximo da porta, com algum esforço levou o braço em auxílio de Ian, a fim de sustentá-la, para que o garoto pudesse passar mais facilmente.

Antes que Ian notasse, metade do seu corpo já havia passado pela peça. Não conseguia enxergar nada do outro lado. Escuridão total, mas agora depois de tanto tempo vivendo em meio as trevas, elas já não eram mais tão assustadoras assim. Com mais algum esforço suas pernas atravessaram a portinhola e agora seu corpo inteiro já estava do lado de fora. A única coisa que enxergava era a luz fraca da vela que ainda estava do lado de dentro..

_ Tome. Pegue-a. – A mão de Marcus levou a vela até o alcance de Ian. – Tenha cuidado cara.

O garoto se levantou lentamente. A perna doía a cada esforço. Pegou a vela com uma mão e com a outra segurava a corrente que na outra extremidades estava ainda presa ao pé. Notou que estava em um corredor estreito, com paredes de pedra, todas úmidas e repletas de musgo.

O cheiro era ainda pior que o quarto onde estava. Ali, o cheiro era de carne podre.

Avaliou ambos os lados, mas não conseguia enxergar nada que estivesse a mais de 5 metros de distância. Então, a mérito da própria sorte, decidiu ir pela esquerda. Havia outras celas no corredor, mas estavam todas vazias. Caminhou por alguns metros até que o caminho dobrou a direita, dando acesso a outro corredor menor com uma escada no final. O cheiro parecia piorar e o a cada passo, via uma criatura diferente partindo da sombra e o atacando, como em seus pesadelos, mas que, de repente não existiam mais.

_ São obras da minha cabeça. Eu preciso me concentrar em sair daqui.

Com passos temerosos Ian subiu degrau por degraus cuidadosamente, chegando a uma sala quadrada, com alguns armários velhos e empoeirados feitos de madeira testados pelo tempo e em parte devorados por cupins. No chão o que restara de um telhado que parecia a muito ter cedido, criava pequenos obstáculos, que naquela situação, poderiam alarmar qualquer inimigo próximo, se pisados descuidadosamente. Levantou a cabeça e leves pingos de chuva caíram sobre seu rosto. Colocou a palma da mão sobre a vela, protegendo a chama. Passou pelos escombros, sem fazer quase nenhum ruído, a não ser pelo momento em que quase pisou em o que parecia ser uma lacraia, grande demais para o gosto do jovem, mas que parecia tão assustada quanto ele e logo desapareceu nas sombras. Do outro lado da sala havia uma porta aberta, tão velha quanto os armários, presa por apenas uma das dobradiças. Caminhou, até a alcançá-la, chegando a outro corredor lateral.

Filhos da TormentaWhere stories live. Discover now