CAPÍTULO 3 - ESCURIDÃO

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O jovem abriu os olhos mas não viu nada. Primeiro pensou que algo estava sobre seus olhos, mas então levou as mãos até eles e não encontrou nada que lhe obstruisse a visão. Lentamente sentiu o ar faltar-lhe aos pulmões. Um terror lento e assombroso tomou conta de seu corpo e descontroladamente gritou tão alto quanto pôde, até que um som interrompeu sua histeria: algo bizarro e descomunal gritou não muito longe dali. O som foi tão alto e agudo que imediatamente e inconscientemente o fez parar. Na sequência, pode ouvir passos rápidos correndo em sua direção. Instintivamente o garoto se abaixou e pôs as mãos sobre a cabeça, até que um forte estrondo ecoou pelo ambiente. Havia uma porta entre ele e o que quer que estivesse do lado de fora.

Nesse momento outra duas vozes gritam junto dele no mesmo lugar e então soube que não estava sozinho.

O som se repetiu, porém mais baixo dessa vez. Definitivamente não se parecia com nada que conhecesse. Novamente o silêncio voltou a reinar, logo pode ouvir os mesmos passos, porém dessa vez mais lentamente, se distanciando da porta.

Nem seu corpo, nem sua mente, já não tinham mais forças para responder a aquela situação. Não voltou a gritar. Passou a chorar baixinho e quando já não conseguia mais chorar, tudo que lhe sobrou foi uma respiração ofegante. Sua garganta doía. Seu peito doía. Sua cabeça latejava e talvez sangrasse um pouco, devido ao tempo em que foi arrastado até aquele lugar.

_ Se acalme. - As palavras eram de em uma voz doce, de uma garota, talvez da mesma idade dele. - Antes de qualquer coisa, não force a perna. Você está preso, se forçar os pregos vão lhe ferir. Eu vou tentar acender uma vela.

_ Não! É a última vela. - Outra voz surgiu da escuridão. Essa era de um garoto. - Deixe que ele se acalme sozinho! Precisamos da luz para uma emergência Ellen.

Ellen percebeu então que já não fazia idéia de quanto tempo fazia que acenderam a última vela. Na verdade, ao todo foram apenas duas e a primeira delas, foi acessa justamente por causa do medo do outro garoto, que acabara de se pronunciar.

_" Que ironia" - Pensou.

Ian tentou falar, mas não conseguiu. Levou a mão até o pé e sentiu algo metálico entorno do calcanhar. Era frio e pesado. Seguiu com a mão pela peça e viu que do lado posterior, uma grossa corrente seguia para o alto.

Lentamente o restante de seu corpo voltou a obedecer. Primeiro moveu os pés. Quase não os sentia, havia passado tempo mais em uma posição só.

_ Por favor... Eu não gosto do escuro. Parem com essa brincadeira, não tem graça! - A voz do menino era trêmula, fraca e chorosa.

_ Também não gostamos do escuro, mas você vai se acostumar com ele. Desculpe-nos, mas não ganhamos velas com frequência, então não podemos desperdiçar essa por causa do seu medo. Além disso, temos poucos fósforos. - Disse o garoto.

_ Quem são vocês? Por que estão fazendo isso?

Ian tentou se levantar mas sentiu o músculo da coxa repuxar. Além disso, estava com muitas câimbras na batata da perna.

_ Não estamos fazendo nada. Somos prisioneiros assim como você.

Forçou a memória para tentar entender como chegara até ali. Lembrou-se da tempestade, das roseiras brancas descendo a rua com a correnteza e lembrou-se do estranho parado em frente sua casa. Lembrou-se do cheiro de podridão que invadiu seu quarto e então tudo ficou preto. E depois, veio o lamaçal. E tornou a chorar. Não saberia dizer por quanto tempo chorou, já que depois caiu no sono. E também não saberia dizer quanto tempo dormiu, pois quando acordou ainda estava escuro.

Filhos da TormentaWhere stories live. Discover now