Àquela hora até que o bloco era silencioso, e isso era bom.
O homem de uma barba rala e olhos fundos e exageradamente azuis, se recostou na parede gelada e pendeu sua cabeça para trás, soltando calmamente a fumaça do cigarro por entre seus lábios.
Louis Tomlinson definitivamente gostava mais das noites ali, porque aquelas eram as únicas horas em que ele podia fingir estar em um quarto de verdade, em sua própria casa e solitário por opção. Porque era assim que costumava ser lá fora.
Apenas um homem sozinho, vagando por aí e com poucos amigos ao seu redor. Cuidando de seus negócios e enchendo a cara em bares aleatórios por toda a cidade enquanto tinha um cigarro entre os lábios e às vezes procurando por uma companhia ou outra para que pudesse passar algumas horas fodendo para só então ir para a casa. Mantendo as luzes apagadas e se arrastando para sua cama logo depois de passar uma água no corpo e tentar tirar o gosto forte de álcool e tabaco da boca e língua.
Louis não costumava reclamar de sua vida lá fora, mesmo quando era um porre e mesmo quando tudo parecia estar conspirando para ferra-lo.
Louis simplesmente nunca reclamava.
E até mesmo ali, mesmo que as luzes demasiadamente claras do corredor pudessem destruir um pouco sua utopia de casa, Louis ainda poderia fingir. E quando colocava os cobertores em cima do rosto durante a madrugada, era quase que verdadeiro o sentimento de lar e tranquilidade.
Porque Louis era bom em enganar, mesmo que fosse a si mesmo. Então, isso era um bom passatempo.
Quando passos pesados nas escadas levaram seus pensamentos para longe, ele ajeitou sua postura e se pôs ereto.
Louis tragou forte algumas vezes seguidas, desejando aproveitar ao máximo seu filtro predileto para logo depois atirá-lo direto no seu projeto de vaso sanitário, ainda que as tragadas exageradas tivessem o deixado um tanto zonzo.
— Não aqui, não aqui —murmurou consigo mesmo ao colar o ouvido na parede para tentar ter uma ideia se os passos continuavam pelo corredor ou parariam em alguma cela ao lado. — Por favor, não aqui.
E no segundo seguinte seus ombros murcharam e penderam para frente ao observar a sombra do guarda e outro homem tomando uma forma realista em vez de vultos assombrosos e monstruosos conforme se aproximavam.
As grades cortando as sombras formadas por conta das luzes claras e acesas do corredor.
E não demorou muito para que as silhuetas fossem substituídas por formas humanas verdadeiras e haver um clique no cadeado de sua cela, sendo seguido pelo barulho alto do portão de ferro deslizando com uma força de excessiva até que atingisse a parede.
O guarda alto, musculoso e exalando tédio pelos seus poros empurrou o novo detento para dentro de forma bruta e o virou, seus olhos presos em Louis conforme abria as algemas do rapaz.
— Seu sonho se realizou, Tomlinson — balbuciou um tanto excêntrico e definitivamente, desafiador. — Você tem um amiguinho agora.
— Ah, não se subestime tanto, oficial Miller — respondeu com tanto desdém quanto, conforme observava as próprias unhas, entediado. — Você sabe que meu maior sonho é te ver rolando por aquela escada, morto.
O guarda nada respondeu, simplesmente resmungou algo incompreensível, provavelmente um palavrão e empurrou o detento mais para dentro, com mais força do que realmente precisava, o fazendo tropeçar nos próprios pés. Então, puxou o portão rangente de forma ainda mais exagerada e tornou a trancá-lo após uma batida que ecoou por todo o andar, para só então deixar Louis sozinho com seu novo colega de cela.
O de olhos azuis suspirou aborrecido e cruzou os braços no peito conforme observava a sombra de Miller sumir para longe daquele cubículo.
Só depois disso voltou seu olhar para o companheiro. O rapaz de uma cabeça cheia de cachinhos tinha o olhar preso no chão e seus ombros tremiam, assim como suas mãos que se revezavam para massagear os pulsos onde as algemas costumavam estar.
Em momento algum ele ousou olhar para cima, para onde Louis estava no topo de sua beliche.
— P-Posso me deitar aqui? — perguntou com a voz fraca e rouca ao apontar quase que imperceptivelmente para a cama de baixo.
— Onde mais se deitaria?
O outro assentiu e se arrastou para o colchão frio e não muito macio, puxando o cobertor de textura estranha para cima de seu corpo, desejando se poupar daqueles calafrios e tremores.
A cama metálica rangeu e balançou algumas vezes conforme o cacheado se ajeitava ali, e Louis aproveitou para se deitar também, conformado que seu conforto e serenidade tinham ido por água abaixo dali em diante.
E no momento em seus olhos de fecharam, as lamentações começaram.
Um choro baixinho e cheio de soluços ecoava pela cela e batia nas paredes brancas e geladas, voltando diretamente para os ouvidos atentos do homem de olhos azuis.
Louis puxou seus cobertores até o queixo e revirou as orbes conforme se mexia na cama e se virava de frente para a parede.
— Choros não valem nada por aqui, rapaz — comentou com a voz alta e indiferente. — Não importa o quanto você chore ou esgoele, ninguém vai te ajudar. E você precisa se conformar.
Em vez de cessar, o choro do cacheado só aumentou e seus tremeliques começaram a fazer com que a beliche toda balançasse.
Os olhos de Louis se estreitaram e por um momento ele cogitou descer e chacoalhar aquele rapaz até que parasse com aquela barulheira toda, ainda mais correndo o risco de algum guarda implicante ouvir ou pior, se outro detento ouvisse, usaria aquilo contra ele até seu última dia ali. Mas ainda assim Louis não fez isso.
Ele simplesmente respirou fundo e começou a tentar acalmar seus próprios pensamentos, afinal, não poderia julgar as outras pessoas por não se conformarem e aceitarem uma vida de merda como ele tinha feito.
Pois, desde o início, desde o primeiro dia fazendo algo que contrariava qualquer ensinamento dado por sua mãe durante sua criação, Louis sabia que iria cair.
Ele simplesmente sabia que uma hora ou outra iria se ferrar e passou anos e anos preparado para isso. Portanto, nunca relutou, reclamou ou fez algo para tentar mudar o curso que sua vida passou a tomar desde quando decidiu que dinheiro fácil era o melhor dinheiro. Independente de como ou porquê vinha.
Louis bufou e cobriu seu rosto; aquela seria uma longa noite.
...
Oi, oi!
Essa será uma shortfic de 5 capítulos + prólogo e epílogo, espero que gostem.
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All the love, xx.
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Flowers and Confessions | L.S. |
FanfictionLouis Tomlinson, presidiário há cinco anos, ainda tem meses e mais meses até cumprir toda sua pena. Já Harry Styles foi preso por engano e jogado na mesma cela que Tomlinson, que se impressiona com a ingenuidade do garoto tagarela que gosta de conve...