II

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— Você fuma!

A voz que toma conta da cela está rouca pelo sono e também soa acusativa, como se Harry tivesse acabado de pegar uma criança aprontando.

— Que susto, garoto! — Louis reclama ao pegar o cigarro aceso que tinha derrubado no próprio colo. — Eu poderia ter dado início à um incêndio, agora mesmo.

— Não sabia que criminosos eram dramáticos — diz o mais novo seguido de um suspiro. — Achei que vocês todos fossem pé no chão e tudo mais, odiando qualquer tipo de drama e enrolação.

— Quem disse que eu sou um criminoso? — rebate Louis com um dar de ombros sutil e torna a colocar o filtro entre os lábios, dando um trago lento.

— Você é?

O cômodo fica em silêncio por um momento, mas logo ele é quebrado quando, do topo da beliche, o homem solta uma risada anasalada e baixa.

— Sou.

Harry também acaba por rir e se vira na cama, deixando de estar de barriga para cima para ficar de costas para a parede, encarando a cela à sua frente.

— Bem, isso é bem deprimente.

— Deprimente?

Louis se ajeita em seu colchão e se desencosta de onde estava, ficando curvado sobre as pernas, que estão cruzadas na frente de seu corpo.

— Sim, como se não bastasse ser um criminoso, seus pulmões ainda estão sendo corroídos por uma porcaria tóxica e fedida. Isso me parece bem triste.

— Ah, qual é, garoto! — ele diz com um sorriso estampado nos lábios conforme solta a fumaça pelas narinas. — A corrosão do pulmão é a melhor parte.

— A melhor? — Harry pergunta, curioso, com um pequeno sorriso também; seus dedos deslizando pela fronha do travesseiro.

— É como aquela brincadeira de qual morte sofrida você prefere — conta ele. — E em vez de ser esfaqueado no chuveiro por algum detento rancoroso, eu escolho os pulmões poluídos e escurecidos que vão me matar de forma tão lenta quanto.

— Brincadeiras saudáveis essas de criminosos.

A gargalhada que vem de Louis é alta e contagiante, e Harry também não consegue segurar a sua. Os sons se misturando ali naquela cela fria e ainda escura, quase como se tivesse o poder de aquecê-la um pouco.

— Você não faz ideia.

O mais novo continua a rir e se senta em sua cama, as costas apoiadas no concreto frio lhe causa arrepios, mas ele não se move.

— Vocês tinham uma escola específica ou coisa assim?

— Claro — Louis responde depois de outro trago. — As notas eram baseadas em quem dava mais socos durante o semestre e o nosso parquinho tinha pregos nos escorregares, costumava ser bem divertido.

— Gostaria de ter feito uma visita à uma casa aberta, mas agora parece tarde demais.

Louis sorri e traga pela última vez antes de arremessar no vaso sanitário o que sobrou do cigarro.

Flowers and Confessions | L.S. |Onde histórias criam vida. Descubra agora