III

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Quando o almoço começa a ser servido, Harry não tem certeza se deve ou não acordar Louis, mas acaba por fazê-lo.

Enquanto o mais velho se senta e se espreguiça na beliche, ele busca pelas bandejas que estão sendo passadas por uma brecha no portão e aproveita para devolver a que foi usada pelo seu colega de cela no almoço do dia anterior, a única ali, já que Harry tinha dispensado a refeição e nenhum deles jantou à noite; Louis optando por dormir mais cedo por querer cortar o garoto e sua tagarelice de uma vez e Harry por acreditar que seu estômago não seria capaz de segurar nada ainda.

Com uma careta nada discreta, ele observa o almoço na própria bandeja enquanto vai até a cama e entrega a de Louis.

— Não é tão ruim quanto parece.

— Eu sei que é um prato inglês típico, mas é... — deixa a frase morrer.

— Pois é, eu sei.

Harry observa por mais um tempo o prato composto por ervilhas, cenoura e brócolis, um pedaço grande demais de torta de carne  e um pouco de batata-frita, com uma pequena combuca de um molho esquisito na lateral. E quando ele dá a primeira colherada — garfos são armas muito visadas ali dentro, Louis contou —, realmente não é tão ruim como parece.

Talvez um pouco sem sal, mas não era a pior coisa que já tinha comido na vida.

— O que você fez para estar aqui?

Do topo da beliche, Louis olha para Harry como se o garoto fosse um alienígena ou algo tão fora do comum quanto.

Sentado no chão, provavelmente manchando seus desenhos com as próprias costas desnudas que estão postas contra a parede, ele dá de ombros de forma inocente. Os olhos tão inofensivos quanto.

— Não sabe que não deve perguntar isso aqui dentro?

— Desculpe, não pensei que corresse o risco de ser esfaqueado por você.

— Você corre o risco de ser esfaqueado por qualquer um aqui dentro, Harry — responde antes de encher a boca de comida.

O mais novo desvia o olhar e encara o corredor ao seu lado, vendo alguns detentos descendo e subindo as escadas, agindo como se fosse interessante observar eles, mas, na verdade, só estava se concentrando em não permitir que as palavras de Louis o abalasse.

Não seria nada legal dormir e acordar paranóico com a ideia de ser ou não esfaqueado pelo seu colega de cela durante todo o dia.

— Tráfico.

Harry desperta de seus pensamentos com a voz meio rouca de Louis, e sua boca cheia de comida. Ele olha para onde o mais velho está sentado no colchão, olhando-o de volta sem uma expressão definida no rosto.

— De drogas?

— Não, não, de Snickers.

O garoto dá risada e levanta a caixinha de suco que está ao seu lado, escondendo o riso com ela enquanto dá um gole na bebida doce.

— Louis! — ele o chama animado depois que engole o suco, os olhos brilhosos pela animação. — Isso seria um negócio e tanto aqui dentro! Contrabandear e traficar Snickers para quem não tem dinheiro na lojinha nos deixaria ricos.

Flowers and Confessions | L.S. |Onde histórias criam vida. Descubra agora