"Infection"

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[No fundo da minha mente, eu mal posso me lembrar quando não havia mais nada para esconder e ela já havia dado um jeito de entrar

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[No fundo da minha mente, eu mal posso me lembrar quando não havia mais nada para esconder e ela já havia dado um jeito de entrar. Então fui obrigado a andar sozinho, viver em uma casa vazia, tudo o que eu queria era esconder e tentar aliviar a dor lá dentro.]

           Charles sabia que era arriscado, mas enquanto estava sentado com uma espingarda ao lado e um pequeno cesto velho – que sua mãe mais uma vez lhe tinha fornecido sem  questionar – não conseguia parar de olhar um minuto sequer para Adla e Veludo que brincavam muito pouco afastados da beira do mar. Pela primeira vez, depois de muito tempo, um sol quente e brilhante iluminava o céu azul opalino e aquecia tudo ao seu redor, tal como o interior do seu peito se encontrava. Quente.

A tinha conduzido por trilhos até um ponto distante e remoto, mas todo o cuidado era pouco e, por isso, enquanto os grandes olhos azuis não se cansavam de apreciar o sorriso de dentes brancos, os cabelos com pequenos cachos crespos que tinham crescido um pouco mais e o vestido que se colava no corpo esguio para revelar os seios grandes e firmes que não paravam de balançar a medida que ela saltava com o cão que não parava de balançar a cauda, por sua vez as orelhas estavam atentas a qualquer movimento estranho, desde o som dos animais até a possíveis passos inoportunos.

Txarles, anda! — Ela o chamava enquanto atirava água para o alto fazendo chover gotas cristalinas acima de sua própria cabeça, mas nunca sem deixar que o limite das águas ultrapasse os seus joelhos, mostrando claramente que ainda não tinha como esquecer de que quase morreu afogada.

É corajosa. Ele a admirava de um jeito quase intrigante, pois era como se o mundo inteiro tivesse parado de existir desde que a tinha resgatado. Podia parecer cliché, mas não conseguia evitar pensar que toda uma vida tinha esperado para poder experienciar tal sentimento tão forte que o impedia de dormir direito. Passava todo o dia pensando nela e com medo do futuro, tal como um presságio que a todo custo tentava espantar de sua imaginação. Toda sua vida tinha crescido a ouvir seu pai dizer que jamais poderia deixar que uma mulher soubesse que o tinha na mão, mas nada lhe soou mais absurdo.

Não era na mão dela que estava, e sim no coração.

— Não. — Charles negou e não era porque não tinha vontade, ainda mais que se aquele sol fazia com que Adla entrasse na água, imagina para ele que estava habituado a um inverno degradante. Quase transpirava mesmo a vestir uma calça jeans velha que tinha sido cortada e transformada em calções desfiados nas bainhas e uma regata com algumas manchas de petróleo que nunca mais tinham saído.

— Por quê?

Ele não podia dizer que ultimamente se sentia como um adolescente e a todo momento seu membro enrijecia até doer só de Adla o encostar, mas o desejo de a preservar só tinha duplicado pelo respeito que tinha por tudo o que passara dentro daqueles barcos onde homens abusavam de outras em troca de um pedaço de pão bolorento. Não queria em nenhum momento que ela julgasse que deveria dar seu corpo como agradecimento, e era isso que o castigava dia e noite nas últimas semanas. Principalmente por saber que a mãe tinha feito aquilo para a preservar.

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