Três

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- Eu não vou ouvir 5 Seconds of Summer de novo, Flora. - Marco reclamou e eu revirei os olhos, colocando a playlist da banda australiana ignorando os protestos do meu melhor amigo.

Era sexta, e o treino da manhã do dia seguinte tinha sido cancelado pra que todos pudessem descansar para o jogo de terça-feira contra o Sevilla, pela Supercopa da UEFA. A viagem para a Noruega seria no domingo logo cedo. Eu também tinha sido liberada das minhas aulas de filosofia em decorrência de uma viagem do professor pra um congresso nos Estados Unidos, então eu e Marco resolvemos fazer um programa à moda antiga: pizza e maratona de algum seriado ou filme que nós dois gostássemos. Mesmo com tudo o que acontecera na vida de Marco nos últimos anos, ele ainda era o mesmo garoto que amava jogar bola e que eu conhecera há quase dez anos atrás.

- Fala sério, você gosta dessa. - eu disse quando "Good Girls" começou a tocar e ele fez uma careta ainda encarando a rua segurando o volante com as duas mãos.

- Coloca aquela nossa playlist, por favor! - ele pediu.

Nós tínhamos uma playlist colaborativa no Spotify, onde colocávamos todas as músicas novas que nós conhecíamos e achávamos que o outro iria gostar. Além disso, nossas músicas preferidas também estavam ali e músicas que tinham alguma importância na nossa amizade. Era a maior de todas as minhas playlists e a mais variada delas, que ia de Aerosmith a One Direction.

- Precisamos renovar as músicas dela, aliás. Descobri umas bem legais. - eu disse, selecionando a playlist no modo aleatório. "Dancing Queen", na versão de "Mamma Mia!", soou pelos autofalantes do carro e eu explodi em uma gargalhada.

Uma das minhas memórias mais incríveis era a de Marco dançando e cantando a coreografia dessa música depois da primeira vez que assistimos ao musical, que se tornara o meu preferido. Naquela ocasião, eu tinha terminado meu relacionamento sério com meu primeiro namorado, e não conseguia parar de pensar que a culpa era toda minha por não ter dado certo, e não pelo fato de que nós dois éramos imaturos demais para que aquilo durasse. Nós tínhamos apenas 17 anos quando tudo acabou, mas eu acreditava piamente que ficaríamos juntos pra sempre. Mesmo não tendo nenhum relacionamento verdadeiramente sério depois daquele, eu tinha passado por experiências o bastante pra chegar àquela conclusão, quase quatro anos depois.

Me lembro de chorar muito e não saber exatamente o que fazer. Liguei para Marco, que não hesitou em ir até a minha casa e tentar me entreter de todas as formas possíveis. A sugestão do filme também surgiu dele, que acertou em cheio. Um filme com uma história divertida, tendo como cenário a Grécia e ABBA como trilha sonora melhorou definitivamente o meu humor, apesar da única cena daquela noite ainda marcada na minha mente ser a do meu melhor amigo dançando e apontando pra mim.

- Você escolheu essa! Fala sério, Flora! - ele reclamou e caiu na gargalhada, enquanto eu me contorcia rindo.

- Eu juro que não escolhi! - eu disse entre uma gargalhada e outra. - Acho que é o destino, Marco: precisamos assistir "Mamma Mia!" de novo.

- Sob uma condição.

- Qual?

- Quem dança dessa vez é você.

- Fechado.

🍀

- Nem pense em gravar nem nada do tipo. - eu disse com as mãos na cintura ao lado da grande TV de plasma da sala da casa de Marco.

- Claro que não. Por que eu faria isso? - ele disse jogado no sofá com um sorriso malando no rosto e o celular ao alcance da mão direita. Eu me aproximei e peguei o celular dele e coloquei no bolso do meu macacão jeans. - Sério, Flora?

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