Vinte

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- O que você acha de Mia? – eu perguntei, abrindo o livro em uma página aleatória e escolhendo o primeiro nome sobre o qual os meus olhos bateram.

- Não, mi amor. Esse é o nome da filha do Griezmann.

- Marco, é praticamente impossível escolhermos um nome único. A não ser que você queira chamar a bebê de um nome indiscutivelmente misto e provavelmente feio.

Meu marido revirou os olhos e continuou mexendo a leiteira de chocolate quente, enquanto eu folheava os livros de nomes, tentando decidir a parte mais importante da vida da nossa filha.

- Ainda acho que ela deveria ter nome de flor, igual à mãe. – foi a minha vez de revirar os olhos.

Ao mesmo tempo, os dias passavam mais rápido e mais devagar. Tantas coisas precisavam ser resolvidas, mas eu sentia o peso das 25 semanas de gravidez sobre minhas pernas e minhas costas. Tudo sempre poderia ficar pior, é claro, mas cada dia parecia pior do que o anterior. E é claro que nem tudo eram flores, mas eu ainda assim me sentia abençoada por ter aquela pequena ali dentro.

Nos dias enquanto esteve de folga, Marco me ajudou a planejar o possível e o impossível. Resolvemos alguns detalhes e programamos todo o chá de bebê da pequena, que seria em duas semanas. Escolhemos também a data do casamento, o que nos deixava com pouco mais de cinco meses para organizar a cerimônia, que não seria grandiosa, mas ainda assim rendia um bom envolvimento e muito planejamento.

- Já pensamos em todos os nomes de flores e nenhum parece bom o bastante. Além disso, nenhum combina com nossos sobrenomes.

- Eu realmente acho que Iris Asensio Conte é uma opção sensacional.

- Não tem nada a ver, mi amor. Até Margarida é uma opção melhor do que essa.

- Ah, mas não é mesmo.

Ele suspirou, desligando o fogão e mexendo a bebida quente e doce pela última vez. Me levantei e escolhi nossas xícaras preferidas, nos preparando para a maratona de filmes da Disney que eu determinara como nosso programa para aquela última noite em casa antes que a rotina de treinos de Marco voltasse ao normal.

Nos aninhamos no sofá ainda em silêncio, com nossas canecas combinando, enquanto deixei a encargo dele escolher o primeiro filme: o seu preferido, Aladdin.

- Jasmine é um nome bonito. – ele sussurrou no meu ouvido enquanto eu cantarolava “Um Mundo Ideal”.

- Eu adoro, mas é muito óbvio. Todos saberiam que foi por causa de Aladdin.

Ele concordou e colocou a cabeça contra a minha, se juntando a mim ao cantar a música do casal principal do filme.

Seguimos a maratona, dessa vez com uma escolha minha: Branca de Neve.

- Por que não podemos ter um menino e chamá-lo por um dos nomes dos anões? Nossa vida seria muito mais fácil.

- E aí você encontraria um terapeuta para ele se ele sofresse bullying na escola por se chamar Dunga? – ele me olhou com cara de impressionado. – Caso não se lembre, mi amor, crianças são bem malvadas quando querem.

Ele riu, provavelmente se lembrando dos apelidos e brincadeiras de que eu e ele éramos alvos quando andávamos juntos para lá e para cá ainda em Mallorca. Não era incomum pais de colegas nossos e eles mesmos dizerem e acreditarem que éramos namorados, mesmo que só tivéssemos 13 ou 14 anos, fato que de início deixava a nós dois extremamente irritados, mas com o tempo, passamos a encarar como brincadeira, e levar na esportiva. Além disso, na infância, tanto eu quanto ele, isso eu descobriria mais tarde, recebemos denominações nada carinhosas de nosso colegas de turma. No meu caso, meu apelido era girassol: a grande flor amarela. Meus cabelos loiros e meu sobrepeso leve justificavam muito bem o apelido. Hoje em dia, eu consideraria um elogio, mas na época, eu me irritava com a alcunha.

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