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–  Autumn

  

    Desde pequena que Autumn adorava chuva. Iria sentar-se no terraço e observar a forma de como a mesma caía no chão húmido sem parar. Era algo que a fascinava. Os pais dela achavam este amor pela chuva completamente absurdo, mas Autumn não se importava com a opinião deles. Ela tinha a esperança de encontrar, qualquer dia, alguém com a mesma paixão. Considerava-se uma rapariga normal, igual às outras, mas a verdade é que não era. Todos somos diferentes uns dos outros, mas Autumn tinha aquele toque especial... Afinal de contas, quem é que iria alguma vez ficar acordado durante toda a noite só para ouvir o som da chuva? A chuva acalmava-a imenso. Por exemplo, o chocolate acalma algumas pessoas, o chá acalma algumas pessoas... E chuva acalmava Autumn. Ela não tinha muitos amigos, mas os que tinha eram verdadeiros. Não se dava com rapazes e não tinha intenções de o fazer. Autumn tinha tudo para ser feliz. Tinha pais que se preocupavam com ela, um sítio onde viver, comida na mesa, tinha amor, mas faltava algo... Algo que ela ainda não tinha descoberto. Algo que talvez fosse aparecer quando ela menos esperasse.


    Encontrava-se agora a descer as escadas que iam dar à sala-de-estar. Encontrou os seus pais no mesmo espaço. A mãe comia uma maçã enquanto o seu olhar estava pousado numa revista de emagrecimento enquanto o pai segurava no jornal de notícias, lendo-o com atenção. Autumn foi ter com eles e depositou um beijo na bochecha de cada um, saindo depois porta fora, com a intenção de ir explorar um pouco da cidade onde habitara desde os seus dez anos. Tudo continuava igual, mas ao mesmo tempo não. Claro que as coisas, como bens-materiais, se iam degradando e iam ganhando mais anos, mas as memórias dos sítios continuavam as mesmas e não podiam ser melhores. Autumn fora sem sombra de dúvidas uma criança feliz. Era alegre e brincava sozinha nos parques infantis. Brincava sozinha, sim. Autumn sabia divertir-se sozinha; não precisava de ninguém para o fazer, e isso parecia deixar as pessoas intrigadas. A rapariga adorava o Outono, talvez por fazer referência ao seu nome, mas nos quatro anos de idade já dizia com o mais contente tom que alguma vez poderiam ouvir: "eu adoro o frio!". Os seus pais eram uns pais sortudos, com certeza. Ela sempre fora uma adolescente esperta que não trazia problemas. Tinha juízo. Mas só porque tinha medo que algo de mal lhe acontecesse se não o tivesse.

    Depois de andar uns quantos metros em direcção ao parque onde pessoas de todas as idades socializavam, Autumn deparou-se com algo escrito na parede e sorriu assim que se lembrou de algo. Há dois anos, ou seja, quando tinha 14 anos, Autumn escrevera num muro de pedra a citação – "Quem ama a vida é amado por ela" – com graffiti. Estava naquela fase rebelde, digamos. Mas aquilo não era vandalismo, era uma frase bonita que nunca falhara a fazê-la sorrir. Digamos que esta sábia rapariga amava a vida. Mas quem não amaria, no seu lugar? Ela sabia que se tinha de agarrar às pequenas coisas que a faziam querer viver. Olhava para tudo como se houvesse um tipo de magia a flutuar e aceitava as coisas da maneira que eram. Autumn não era a rapariga vulgar que todos pensavam que era, porque assim que tivessem a chance de a conhecer, nunca mais a largariam. A rapariga era simplesmente... Imensamente positiva em relação a tudo. Arranjava sempre resposta para um lamurio.

    Estava a fazer a sua caminhada até ao parque, mais uma vez, agora sem paragens, quando sentiu gotas de água a cair sobre a sua pálida pele, como um floco de neve. Olhou para cima com um enorme sorriso rasgado na face e fechou os olhos.

    "Chuva" – falou num murmúrio quase inaudível para si própria, abrindo os braços e rodopiando no pavimento agora encharcado. Agora Autumn podia dançar na chuva sem que os seus pais a parassem, dizendo que ela podia apanhar pneumonia. Autumn era livre neste preciso momento.

    Mas, eventualmente, teve que encontrar um sítio para se abrigar, pois começara a tremer dez minutos depois. Já tinha anoitecido e a única luz visível vinha de candeeiros altos e finos que pareciam estremecer devido à chuva que embatia neles. Autumn avistou uma paragem de autocarro ao longe e começou a correr em direcção à mesma. Quando a atingiu, deixou o seu tronco curvar-se totalmente e suspirou. Ela iria encontrar o caminho para casa, só tinha que esperar um pouco.

    Os seus longos cabelos brilhantes eram visíveis a léguas. Os olhos dela estavam semicerrados devido à chuva predominante no ar e as suas pernas encontravam-se dobradas, já que ela estava agora sentada no banco de metal da paragem de autocarro. O seu olhar que estava a subir desde os seus pés até ao poste de luz subitamente parou num rapaz que corria até ela. Ele tinha os cabelos tapados por um gorro cinzento e gotas de chuva na sua camisola quente. As calças que tinha sobre as pernas eram pretas e justas. Estavam coladas ao seu corpo. Assim que chegou perto de Autumn, sentou-se ao seu lado, na paragem, a respirar ofegantemente. A rapariga inalou o cheiro do perfume dele, que se fazia presente na atmosfera.

    "Não gostas de chuva?" – Autumn decidiu iniciar uma conversa.

    "Eu adoro chuva" – a voz masculina do rapaz fez-se ouvir. Era ligeiramente rouca e grave.

    "Então porque te abrigas aqui?" – inquiriu a adolescente, com a sua habitual curiosidade.

    "Estava a ganhar coragem para te perguntar se gostarias de apreciar esta chuva comigo" – ele sorriu-lhe – "Sou o Calum"

    "Autumn" – apresentou-se, apertando a mão do rapaz de olhos castanhos. Olhou-o durante breves segundos, antes de voltar a entreabrir os rechonchudos lábios. – "E adoraria apreciar esta chuva com um bonito estranho" 


Raindrops ➤ Calum Hood [Dropped]Where stories live. Discover now