Lauren havia passado dia inteiro na Divisão de Operações, chegar em casa era um alívio no meio do caos que tinha sido seu dia. Estacionou seu carro na garagem e de longe já dava para ouvir o latido de Ares, o labrador que ficara sob sua guarda desde que seu irmão Chris antes que ele partiu para o Oriente Médio. O cachorro tem sido o melhor companheiro de Lauren nesses anos, sempre a espera voltar para casa para subir em cima dela e lambê-la pedindo por comida e carinho. Seu pelo negro e olhos sempre curiosos as vezes escondiam o excesso de agressividade quando não gostava de alguma pessoa. Foi treinado para ser um cão policial, mas um problema em uma de suas patas durante um treinamento comprometeu sua carreira na organização. Chris o adotou assim que soube que ele seria sacrificado.
- Ei, amigão! Estava com saudade da mamãe? – O cão pulou no colo de Lauren assim que ela cruzou a porta de entrada da casa, lambeu sua cara como sempre fazia e isso era uma das raras vezes em que ela sorria de forma genuinamente despreocupada e feliz.
A agente não deixou de notar na bagunça que ele havia feito na sala, mas estava cansada demais para brigar com ele e além do mais ela precisava da distração que ele lhe proporcionava.
Lauren colocou comida para Ares e o observou comer em silêncio ao seu lado. Apesar da bagunça que ele estava fazendo ela estava distante e ficou um tempo assim até ser despertada pelo barulho do alarme do celular que anunciava a hora de mais um de seus remédios. Tinha um estoque deles havia alguns anos e por mais que se irritasse em depender dos medicamentos ela sabia que era isso ou não conseguiria levantar de sua cama.
Depois de perder o irmão, perdeu também seu Norte. Em seguida veio sua separação e o afastamento do trabalho. A depressão não foi só um aviso de que ela não aguentava mais ser ela mesma todos os dias, mas a única resposta que ela podia oferecer para si mesma e para o mundo. Por muitos meses usou o silencio como paliativo, evitava pensar nessa possibilidade para não se sentir o fracasso atravessar seu corpo e sua cabeça. Ela foi atropelada pelos sintomas antes que pudesse pedir ajuda. Em uma dessas terças-feiras comuns ela achou que talvez uma quantidade a mais dos remédios pudessem ajudá-la a fazer tudo passar. Não passou. Então nessa terça-feira comum, os latidos de Ares ficaram impossíveis a ponto de chamar a atenção da sua vizinha. Foi a senhora da casa ao lado que a encontrou desmaiada no chão e a levou ao hospital. Depois disso se sucederam um volume enorme de medidas para que ela ficasse segura.
Ela lembrava disso todas as vezes que ia tomar os remédios. Quase 1 ano depois desse incidente ela sabia que não era justo não existir. Pessoas que ela ama muito perderam a vida lutando pelo que elas acreditam e ela faria o mesmo. Viveria pelas pessoas em que acredita e lutaria a luta delas.
Ares havia terminado de comer e deitou ao lado da sua dona repousando a cabeça no colo dela. Lauren tinha nas mãos um volume de papeis que guardava embaixo da caixa de remédios. Eram cartas que recebeu do irmão quando este estava ativo. Já tinha perdido as contas de quantas vezes lera aquelas palavras, já sabia o conteúdo decorado, mas todas as vezes que lia sentia a dor da primeira vez. Essa dor que se arrasta em silêncio em cada lembrança, em cada parte da pessoa que lhe foi tirada. Cada frase registrada ali era para Lauren a possibilidade de ouvir o irmão mais uma vez, mesmo que contando a mesma história.
Era como se, naquele pequeno momento, tudo que separassem os dois fosse uma parede pronta a vir a baixo a qualquer momento.
Eu sinto sua falta, bro – suspirou levando os papeis contra o peito.
Decidiu ler mais uma vez antes que o sono chegasse.
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A Face da Guerra
FanfictionLauren Jauregui é uma agente da C.I.A especializada em Linguagem e Inteligência. Trabalha diretamente no setor de Operações Especiais Clandestino que cuida das investigações no Oriente Médio. Aos 23 anos, tenta retomar seu trabalho depois de seu afa...