A Face da Guerra

Strangers

Flashback on - Narradora POV

9 meses antes

Lauren havia conhecido sua ex-noiva ainda na adolescência. Acreditava viver em um desses "para sempre" que ela só via em filmes. Desses onde promessas de eternidade são professadas como mantras. Quando se é jovem e o amor te contamina os sentidos é difícil entender quando mesmo o mais forte "para sempre" vai se aproximando do fim. Talvez não seja um erro da juventude achar que o para sempre é sempre agora, talvez seja a falta de garantias, a necessidade de abraçar o outro e de entregar ao outro um pouco de si. Ainda que suas tentativas desesperadas prolonguem essa jornada rumo a eternidade em um dado momento você percebe que ela precisa anunciar um final.

A eternidade é uma sádica egoísta, ela te oferece o tempo como presente e ela determina quando seu relógio para. As vezes a eternidade dura tempo suficiente e outras vezes ela te rouba todo o tempo que você achava ter. Mesmo as melhores histórias, precisam encerrar. É como se, rindo da sua cara, ela dissesse que o mundo não fosse grande o bastante para comportar infinitos recomeços, então ela te esmaga e te força a entender que por hoje, chega. Que este amor, chega. O desfecho, bem, é difícil prever quando e onde ou calcular os danos, principalmente, quando não estamos seguros de quem está com as rédeas da nossa própria história.

Lauren assumiu as rédeas da sua quando voltava do trabalho para casa. Fazia 23º graus e no céu uma constelação inteira iluminava a cidade de Washington. Fora dispensada de seus dois dias de treinamento intensivo na sede das Operações Especiais e não podia estar mais feliz em voltar para casa e descansar nos braços de sua mulher. Estacionou o carro na pequena garagem da casa que elas estavam construindo aos poucos. Abriu a porta e chamou por sua noiva, estranhou a falta de uma resposta, mas continuou chamando por ela. Avistou do corredor a porta do quarto semiaberta e entrou. Em alguns segundos o mundo inteiro sumiu diante dela. Roupas pelo chão, taças de vinho sobre a cômoda e sua mulher nua na cama ao lado de uma outra. São segundos onde a eternidade brinca em câmera lenta e ela te força a assistir o espetáculo, seja lá qual for.

Dentro de Lauren um turbilhão de sentimentos lhe giravam a cabeça acompanhados de uma náusea que embrulhou seu estômago assim que o primeiro sinal de realidade lhe fez despertar de seu transe. Aquele era seu quarto, o mesmo que dividiu com sua noiva por anos, as roupas jogadas ao chão não eram as suas, a pessoa que bagunçara sua cama ela nem fazia ideia de quem poderia ser. Parada na porta, estática, lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. Naquele momento ela não via mais apenas uma estranha em seu quarto. Eram duas. Lauren jamais poderia acreditar que sua noiva, com quem ela iria casar pudesse ter feito isso. A mesma que lhe havia feito profecias sobre uma eternidade compartilhada, a mesma a quem ela escolheu dividir sua vida.

O vento que soprava da janela fez a porta bater acordando as duas mulheres. A noiva da agente arregalou os olhos assim que viu quem a observava acordando violentamente a mulher ao seu lado.

- Lauren, amor, eu posso explicar. – Alexa começou a se levantar procurando sua roupa pelo chão em vão. – Eu realmente posso explicar!

- Eu acho que sou completamente capaz de entender o que eu vi, Alexa. – o nome da mulher saiu da boca de Lauren como se ela fosse vomitar uma comida estragada.

- Não, não, Lauren! Eu juro, eu não sei o que aconteceu, eu estava num bar e aí foi tudo muito rápido, eu... – Lauren passou pela sua noiva e foi em direção à desconhecida.

- Você dopou ela? – sua pergunta fora tão ríspida que foi impossível a mulher não começar a tremer e gaguejar. Os olhos de Lauren faiscavam uma raiva assustadora.