Prazer, me chamo Ellen

15 3 0
                                    

Como havia perdido minha carteira de cigarros, resolvi parar numa cafeteria conhecida que além de café vendia cigarros e nas noites de sexta-feira tinha leitura de poemas e pequenas apresentações de Bossa Nova . Ao entrar, o cheiro inconfundível penetrou minhas narinas e uma sensação de aconchego veio ao meu encontro. Creio que tomar um café forte não me fará mal. Fui em direção ao balcão, onde Augusto, um senhor de aproximadamente 74 anos estava servindo um casal que ali estava.

—Boa tarde Augusto. Como está?– observei que não estava contente, não que isso seja uma novidade, quando eu encontrar esse homem contente, saibam que é o apocalipse chegando.

—Velho! Como os últimos anos da minha vida.

—Acredito que a velhice é algo inevitável.

—Cuide da sua vida meu jovem.– balancei a cabeça com um sorriso fraco no rosto

—Certo, certo. Por favor, um expresso grande e dois enrolados de queijo e presunto.– Ele se virou e foi em direção a cozinha que ficava no fundo do balcão. Por um milésimo de minuto, olhei para trás e me deparei uma moça. Cabelos negros e compridos, olhos azuis como o mar, em sua boca, um batom vermelho, era complementamente encantadora. Ela acabou notando que a observava e sorriu, retribui o sorriso meio sem graça e voltei a minha atenção ao velho que trabalhava com tanto desgosto que eu prescinto que um dia ele mata alguém nesse lugar. Senti uma mão em meus ombros e olhei para o lado

—Acho que isso é seu.– Disse a jovem de olhos azuis me entregando uma carteira de cigarro que por ironia, era a mesma que achei que tinha perdido.

—E você tem razão, é minha. Muito obrigada. Por favor, sente-se.

—Licença.– pegou uma banqueta e sentou- se ao meu lado, ela tinha um sorriso lindo.— Horário de almoço?

—Na verdade não, vim comprar cigarros achando que havia perdido minha carteira, mas a senhora a encontrou.- Dei um sorriso de canto.

—Olha que sorte hem?- ela piscou e riu.

—Com toda certeza. E a senhora?

—Senhorita.

—Ah! Perdoe-me.

—Sem problema– com uma risada tímida ela prosseguiu— Gosto de dar uma sumida do meu trabalho, então, venho aqui me distrair.

—Compreendo. Gosto das noites de poemas, são as mi...

—Está ai o seu café detetivizinho– Interrompeu Augusto com o rosto fechado

—Quanta delicadeza a dele hem.– ela riu e me olhou curiosa.

—És detetive?

—Sou– disse pegando minha xícara para um gole quente de café forte

—Deve ser incrível, não? Mistérios, roubos, assassinatos e todos esses crimes

—Infelizmente minha cara, não é assim a muito tempo– havia uma certa decepção nessas palavras, mas era verdade, havia tempos que não sentia adrenalina correr pelas minhas veias, mas quem sabe com esse caso as coisas mudam.

—Não?- disse curiosa

—A maioria dos casos são entregues a polícia, que agora tem seus próprios detetives. Alguns me chamam ou os casos vão direto para mim, coisa que não acontece a muito tempo.

—Compreendo. É assim no mundo do jornalismo também.

—É jornalista?–Observava seus olhos que pareciam me hipinotizar

—Diretora de redação do jornal Cidade maravilhosa.– não havia tanto entusiasmo em sua voz.

—Sério? Parece bem interessante, eu gosto bastante desse jornal.

—Mas é como você disse– ela revirou os olhos e bufou— Alguns acontecimentos não chegam até nós ou somos os últimos a saber, ou seja, fazemos resumos sobre o acontecimento, para não haver uma certa "cópia" de manchetes.– ela fez aspas com as mãos para se referir as cópias

—Mas os resumos que são publicados por vocês, são bons, acredite.– Isso era verdade, eu assino esse jornal a mais de 6 anos.

—Fico feliz que goste. Porém, algumas reportagens estão sendo censurada pelo Departamento de impressa e propaganda. As pessoas precisam saber o que está acontecendo.

—Estamos vivendo num verdadeiro caos minha cara– Abaixei a cabeça e finalmente percebi que não havia comido nem um pedaço do meu enroladinho, a conversa estava tão boa. Olhei no relógio e mostravam 12:40, nunca vi a hora passar tão rapidamente— Como a hora vôo.

—Realmente–Disse com um sorriso em seu rosto, olhando seu relógio—Acho que preciso voltar para o escritório.

—Bom, somos dois então. Augusto, você pode embrulhar para a  viagem?– disse chamando atenção do senhor que continua com a cara fechada.

—Tenho opção?– era uma pergunta sem resposta, ele pegou meu prato e foi para a cozinha novamente
—Ele não parece muito feliz– ela disse enquanto vestia seu casaco de cor azul.

—Esse é o normal dele– novamente, ele apareceu e deixou o pacote a minha frente– Obrigada viu, o seu pagamento está aqui. Fique com o troco– a moça riu e a acompanhei para a saída.

—Aliás, qual seu nome?– disse ela me fitando.

—Conversamos tanto que nem perguntei seu nome. Me perdoe. Prazer, me chamo Bruno. E a senhorita?

—Prazer, me chamo Ellen.

O Assassino da GravataOnde histórias criam vida. Descubra agora