Will

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5.
No dia seguinte, após almoçarem juntos, ela volta ao cemitério junto com Emerson. Havia sido ideia dele, pois Emile se recusava a esquecer dessa história até que acontecesse outra coisa para que eles fossem à delegacia. A ideia é procurar no buquê o nome da floricultura onde foi comprado. Caso encontrassem, ir até lá e procurar por informações de quem comprou.
Um dia de sábado. Ele havia trabalhado pela manhã, e disse que ficaria a tarde inteira com ela.
O crepitar das folhas secas a cada passo é horroroso, como se os ossos daqueles defuntos estivessem se quebrando junto com elas.
Continuam andando, o braço dele em volta do seu ombro, fazendo-a ter um pouco da sensação que não sentia já fazia tempo: segurança. Param em frente à lápide de Will, e Emerson pega o buquê. As flores levemente murchas agora. Ele observa aqueles detalhes dourados, admirado. Depois arranca um adesivo que encontrou no plástico e mostra para ela, que lê em voz alta:
— Floricultura Bom Jardim.
— Vamos até lá agora! — diz ele.

**

A recepcionista da floricultura insiste em não concordar.
— Infelizmente, não posso — olha para o buquê nas mãos de Emerson, com um pouco de desconfiança. — Vejam o que estão me pedindo. Não sou a proprietária deste lugar. Não posso deixar vocês olharem as filmagens da câmera de segurança... se meu patrão chegar aqui com os dois lá dentro, estarei demitida. — Ela solta um suspiro e desabafa: — Oh, aquele homem é um carrasco!
— Você não vê o perigo disso tudo? — Emile pergunta. — Já te explicamos...
— Essa história está muito mal contada! É uma verdadeira loucura... Um assassino que morreu, mas deixou flores no próprio túmulo... Isso me causa arrepios — ela olha os dois com seriedade. — Saiam daqui, por favor.
Emile vê Emerson pegar a carteira e tirar algumas notas de lá. Ele as mostra para a recepcionista.
— Pensando bem, acho que não tem problema algum se derem uma olhada rápida nas filmagens — diz a mulher, com um sorriso, pegando o dinheiro da mão de Emerson.
Alguns minutos depois de ela informar onde fica a sala, os dois já estão sentados, procurando as filmagens da véspera no computador.
Digitam a data e começam a procurar pelo horário de 8h da manhã. Emerson acelera a gravação.
— Caso você reconheça alguém, peça que eu pare. Ok?
Ela balança a cabeça.
As imagens continuam passando rapidamente. A câmera foi centralizada para mostrar a porta da frente e o caixa da floricultura, de modo que se vê quem entra e quem é a recepcionista que está operando o caixa. A recepcionista que os atendeu não era a mesma do horário da manhã, por isso não sabia nada sobre os detalhes no plástico do buquê... se havia sido encomendado ou não.
Agora são as imagens de 9h. Ele continua passando rapidamente. Uma mulher aparece, passa pelo caixa virando à direita, provavelmente para escolher suas flores no gramado onde ficam todas as plantas. Alguns minutos depois, volta com um vaso de flores nas mãos, paga no caixa e sai.
Depois de alguns minutos, entra um homem de pele branca, com roupas casuais, um boné de beisebol e óculos escuros. Ele para no caixa e conversa com a recepcionista. Ela sai da visão da câmera. Ele retira os óculos e, enquanto limpa-os na camiseta, olha em volta com cautela; e com o rosto levantado, seus olhos fixam na câmera. Põe os óculos no rosto rapidamente e desvia o olhar.
Olhando isso, Emile solta um gemido.
— Pare. É ele!
Emerson obedece e volta a filmagem, deixando-a paralisada no exato momento que o homem olha para a câmera. No cantinho da tela marca 9h27.
Ela sente os olhos se encherem de lágrimas. Olhar para aquele rosto a faz lembrar-se daquele terrível desastre. Lembrar-se de como ele se alterou quando soube que ela queria terminar; de como foi até sua antiga casa, dizendo que queria apenas conversar... E o mais doloroso: reviver as imagens do momento que ele atirou em seu pai, depois na mãe, assim que ela correu para atacá-lo, e, por último, na irmãzinha. E quando logo em seguida jogou os corpos pela sacada da casa, sorrindo e dizendo que a amava... Lembrar-se de como ele tocou em seu rosto, enquanto ela chorava, e a olhou com uma aparência tranquila, dizendo: “Pronto, meu amor. Eu livrei a nós dois dos empecilhos do nosso relacionamento. Estamos livres!”. Ele fugiu a seguir, quando viu que ela não iria parar de chorar. Saiu dizendo que se mataria.
Emile foi até a sacada. Ficou observando lá de cima os corpos quietos na neve. Era inverno. Os três juntos. Os três sangrando juntos. O vermelho contrastando com o branco. Ela chorou ali, e muito, deixando as lágrimas caírem, para que se congelassem lá embaixo, junto com as pessoas que mais amava. Desejou ir até a sala buscar o telefone. Desejou muito ligar pedindo socorro. Mas suas pernas estavam paralisadas, e continuaram assim, por minutos. Até que não suportaram mais e cederam. Ela desmaiou ali mesmo, no chão da sacada.
Dois dias depois, a polícia cercou um galpão em que supostamente Willian estava. E disseram que ele mesmo provocou um incêndio. Tiraram de lá o corpo, que estava 95% queimado e enterraram logo, sem nenhuma cerimônia, pois ele não tinha parentes vivos.
Emile deixa os pensamentos para trás e volta ao presente, assim que Emerson a envolve nos braços. Não para de tremer. Aquele canalha está vivo. Um psicopata à solta!
Ele vai até a tela e deixa a gravação rolar. Na filmagem a recepcionista volta com um plástico enorme; mesmo de longe é possível ver os detalhes dourados. Depois ela fala algo para Willian e os dois saem de cena. Voltam em alguns minutos com as rosas. A mulher envolve as flores no plástico e faz os ajustes finais, pondo uma fita e dando uma última organizada nelas. Ela entrega o buquê, Will paga e sai.
Depois de ver toda a filmagem, os dois saem da floricultura, entram no carro. Emerson diz:
— Temos que ir à delegacia.
— Agora não, por favor. Eu quero ir pra casa.
— Então vou com você. Fico contigo, fazendo companhia...
— Não. Você vai pra sua casa. Quero ficar sozinha. Quero tomar um banho e... depois eu penso no que fazer.
— Ok — ele responde sem emoção.

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