A noite já chegava ao seu apogeu quando Keith saiu do castelo pela janela, deixando a cama vazia e revirada para trás. Seus passos cuidadosos - acostumados a não fazerem barulho - o fez atravessar sem ser percebido o telhado molhado e depois o pátio onde havia uma enorme fonte que expelida água das bocas de dois pássaros estranhos daquele planeta. pássaros que ele não reconhecia, mas se viu obrigado a parar para admirar.
Podia frequentar aquele lugar há anos, mas nunca havia entendido como os animais daquele lugar se formavam ou se possuíam alguma lógica. Mas não podia ignorar o fato de serem lindos. Tão coloridos e em sua maioria dócil... tão diferente de seu planeta natal ou o de sua mãe... E aquela fonte... tinha certeza que era nova, não estava ali da última vez que havia sido mandado a Altea.
Mas não era momento para pensar naquilo. Se demorasse de mais, provavelmente não acharia o que buscava.
A capa grossa que vestia veio bem a calhar e ele usou o capuz para cobrir sua cabeça, se escondendo nas sombras graças a ela, agradecendo ao sangue humano de seu pai por sua aparência, que enganaria facilmente os outros guardas, que certamente pensariam que ele era apenas mais um altean andando pelo jardim.
Seu coração palpitava. Não era para fazer aquilo depois de tanto tempo. Não deveria sequer pensar na possibilidade! Nada garantiria que o que buscava se encontrava naquele mesmo lugar, mas ele não conseguia ficar a noite toda deitado naquela cama que nem mesmo possuía mais o cheiro que se lembrava. Não era a mesma coisa estar naquele lugar sem ter as sensações que tinha todas as outras vezes que havia estado ali. E não queria simplesmente aceitar aquilo, ainda mais tendo em mente que o que buscava podia ainda estar a alguns metros de distância.
Seus passos eram lentos demais para seu gosto no caminho pelo jardim. Sua vontade era de correr, mas ele parou para fingir cheirar uma flor brilhante azul. Deveria parecer apenas distraído, um altean que não tinha sono e saiu para apreciar a noite. Mesmo que sua vontade fosse de simplesmente correr. Mas não podia. Sua atitude em si era arriscada e ele sabia que aquilo colocaria anos de trégua e muitos tratados a perder. Mas não era como se fosse possível pedir que fosse racional naquele momento em um nível maior que não ser pego pela guarda galra.
Keith queria pensar que tudo aquilo era arquitetado por uma força maior e que quando chegasse onde queria, encontraria o que precisava. Queria pensar que os anos que havia vivo ali eram o bastante e a atitude que havia tomado naqueles poucos dias que havia retornado não houvessem mudado muita coisa. Mas sabia também que talvez quando chegasse a aquele lugar mágico, apenas se deparasse com suas próprias lembranças e um arrependimento frio.
E talvez, mesmo que o que queria estivesse lá ainda, o que receberia seria um tapa acompanhado de reclamações. O que ele aceitaria. Merecia.
A sua frente a floresta de cristais se erguia como gigantes, tampando as luas. Keith se lembrava que da primeira vez que havia estado ali, haviam lhe contado que era um lugar sagrado, mas nunca havia entendido o porquê de chamar "floresta dos cristais", afinal, eram arvores. Mas poucos dias depois havia descoberto o motivo do nome, afinal, se antes ele não questionou a luz estranha azulada que vinha de dentro da floresta, ganhando dos astros e das estrelas ao iluminar parte do grande jardim, hoje ele conhecia bem de mais o que exista ali dentro.
O caminho entre as árvores parecia cada vez mais se abrir em direção a uma luz azulada cada vez mais intensa, provida de cristais muito antigos que cresciam como se fossem parte da vegetação em alguns lugares de altea. Keith diminuiu o passo ao entrar em um local onde havia apenas cristais, que se juntavam e abriam caminho até que se formassem uma espécie de clareira azul e perigosa em meio as arvores dali.
O mestiço parou nos cristais de borda - que mais pareciam duas pilastras - que criavam uma espécie de portal que dividiam os dois ambientes. Keith tocou o da sua esquerda e fechou os olhos, pedindo em pensamento que o deixassem entrar naquele lugar e, com um choque leve nos dedos, ele soube que poderia seguir seu caminho.
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Pela ultima vez
FanfictionMovidos pela saudade de um passado promissor, dentro da floresta dos cristais, escondidos pela luz azul, o guarda mestiço galra encontrava-se com o principie altean para tentar concertar as coisas entre eles e discutir sobre o futuro que os agudava.