a tragédia no ato um

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F R A N C E S

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    Toda a cena é engraçada. Quando Eddie me ligou não pensei que era desse tipo de encontro que falava e se soubesse nem víria. Todos estão aqui por Eddie, Eddie nos convocou por Clay e o próprio tentou ir embora quando viu no que tinha metido. Os irmãos resistiram, Andy também está no meio disso e pelo visto o garoto tem algo a dizer. Muita coisa acontece envolta de Clay desde que voltei.

    Olho a minha volta, olho meus meninos e e sempre que faço isso noto um novo detalhe. Eles estão muito diferentes, não gosto de pensar nisso, mas um ano realmente é muito tempo.

    - Você vai falar alguma coisa? -Matty pergunta ao garoto diretamente a sua frente. - Tenho coisas mais importantes pra fazer.

    - E você acha que eu não tenho?

    - Eu sei que não tem...

    - Tenho pessoas me esperando - Clay deixa escapar e ao me olhar vê que, sem querer, matou dois coelhos em uma só cajadada.

    - Vocês não vão brigar de novo - Andy interrompe os garotos. - Só fala logo, Clay... por favor.

    - Eu não tenho nada a dizer pra eles, cara. Frances me odeia porque sou um babaca e Matty... bom... - ele indica o proprio rosto para depois voltar a cruzar os braços. - Vocês podem ver.

    É horrível estar aqui tão pouco tempo depois de uma briga daquelas. Ninguém entendeu o que nos levou até aquilo, mas todos foram capazes de absorver as últimas palavras de Clay vomitadas em minha direção e o som de um bong indo ao chão enquanto o garoto corria para fora. Tivemos que pagar pelo prejuízo e acho que Clay nem sabe o que fez.

    Andy me levou até em casa.
   
    Minha mãe me viu chorar...

    Não preciso lembrar disso agora.

     - Você ainda não entendeu, né? -Matty tenta não aumentar o tom de voz. - A gente se importa com você e essa é a merda do problema. Não dá pra te ver acabando com a sua vida de braços cruzados.

    - Eu acho que...

     - Meu Deus eu já cansei disso - Eddie interrompe a fala do loiro. - Ele pode morrer por causa das merdas que fez mas é muito homem para pedir uma merda de ajuda.

    Clay fita o chão quando volto a observa-lo meio sem reação.

    - Isso é real? - pergunto.

    - Mais do que eu queria - ele ainda sorri enquanto fala.

    Começo a me sentir mal, meio enjoada e isso é estranho. Olho para Clay, olho para a nossa garagem, olho para os meus meninos, mas parece que tudo está errado. Parece que algo já nos foi arrancado, mas Clay ainda está aqui, não podemos deixar ele partir assim.

    - Como assim, cara? - Matty solta mais como uma pergunta retórica.

    Uma pergunta retórica que faz Clay começar a falar.

    - Eu tô devendo um cara, um traficante pra encurtar. A gente era amigo, eu pegava algumas coisas, revendia outras... - o garoto fala lentamente olhando para um ponto fixo no piso. - Enfim... coisas aconteceram e ele me cobrou essa dívida. Tenho mais ou menos quatro meses agora para arrumar algo em torno de cinco mil e vou morrer porque é impossivel.

    - Não é impossível - protesto. -Quatro cabeças pensam melhor que uma, não é? Há quanto tempo aconteceu tudo isso?

    - Há uns três meses, eu acho.

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