que tudo ficaria bem

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F R A N C E S

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Já fazem três dias.

Três malditos dias que Clay simplesmente desapareceu sem dar sinal de vida. Três malditos dias que não consigo viver normalmente.

Durante as passadas setenta e duas horas só consegui pensar nele com a nova namorada, nele dividindo seus segredos com uma outra menina e vivendo feliz com ela do jeito que eu não pude - ou não quis - continuar a fazer. Acho que no fim das contas me sinto culpada pela minha própria tristeza e essa sensação é horrível demais pra transmitir em palavras.

Queria saber quem é ela, eu costumava conhecer todos que cercavam Clay, mas acabei me privando até disso. Também queria descobrir o que ela tem de tão incrível para ser capaz de tomar um lugar que, de acordo com ele, sempre me pertenceria além do fato de saber até o momento de salvá-lo de uma conversa chata com uma garota do passado. No fim das contas, acho que queria, acima de tudo, poder apagar esses sentimentos que tenho por Clay, só que isso não vai acontecer, a saudade começou no momento que ele foi e parece que não vai embora nunca mais.

Levanto da cama e me olho rapidamente no espelho tentando tirar essas coisas da cabeça, ainda estou com a maquiagem de ontem, mas isso já virou costume nesse tempo aqui. Deixo o quarto ainda vazio - me recuso a arrumar alguma coisa aqui por motivos de "ainda não sei se quero ficar nesse lugar" - e desço para a cozinha com a intenção de comer alguma coisa doce pra começar finalmente o dia no meio da tarde.

A casa toda ainda tem o mesmo cheiro de desinfetante graças ao piso e isso é bom, me faz sentir em um lar de certa forma. As escadas rangem ao toque dos meus pés e percebo que alguém conversa na cozinha como de costume, nunca fazemos isso em lugares abertos.

- A gente precisa de comida... - é minha mãe que fala.

- Flora, você tem que entender. Isso não é comida, a gente pode e vai viver sem todas essas coisas - percebo que meu pai tenta manter a calma na discussão. - O dinheiro não é suficiente pra esse tipo de besteira. Temos que juntar para ajudar meu irmão.

- Deveríamos deixar aquele sítio de lado, dar tudo aquilo àquele agiota nojento...

- Nossa renda vem daquele sítio, sem ele não somos nada, por isso caímos nesse buraco. Jonh foi idiota ao se afundar nos jogos e acima de tudo ao penhorar a casa pelo empréstimo.

- A minha filha voltou, Mike, e eu me sinto cada dia pior em saber que não posso dar nada a ela, em saber que Frances sai todo maldito dia para não ter de conviver com a gente nesse buraco.

- Ela já é bem grandinha, sabe das dificuldades que estamos passando, Flora, a Frances não pode deixar coisas assim a atingirem.

- O problema é que ela não é a única... Janie quase não fica mais nessa casa e se meu Erick tiver morrido eu juro que não será uma grande...

- Vira essa boca pra lá - meu pai a interrompe antes que eu o faça. - Eles estão crescendo, a gente sabia que isso iria acontecer.

- Não deveria - sua voz carrega um choro discreto. - Quero meus bebês de volta, quero poder ama-los como antes, quero poder sentir alguma coisa.

Uma única lágrima corre pela minha bochecha sem qualquer dificuldade e tenho vontade de me esconder novamente sob os lençóis. Não acredito que isso está acontecendo.

- São os remédios, Flora... Eles estão te fazendo melhorar com o tempo.

- Me sinto uma porta com essas porcarias, eu não sinto nada, Mike. Nada. Enquanto não podemos comprar nem comida direito, eu me encho desses remédios que custam o olho da cara pra nada.

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