Buraco negro

16 2 3
                                    

Capítulo 002


"Ande logo com essa mala." Christina grita da sala, mãe de Stella está apressada, perder um voo para o Chile não era uma opção. O país tem o melhor deserto para observar as estrelas, é oportunidade única.

"Ainda não sei o motivo dessa viagem" Chega na sala arrastando uma mala de tamanho médio. "Podíamos ver as estrelas do quintal, ou até mesmo do lago!" A loira nunca, jamais sairia de seu lar, ali é sua casa, sua cidade, seu país, para que ir a outro lugar? O que tinha ali era o suficiente para ela.

"No Chile as estrelas e constelações são mais visíveis." Explica a mulher baixinha pegando suas malas e indo em direção a saída da casa. "Qualquer adolescente nesse fim de mundo iria adorar ir à um país sul-americano."

"Eu não sou qualquer adolescente." Bate o porta malas do carro, como uma adolescente ranzinza qualquer.

O vento sopra e Stella franze as sobrancelhas, os olhos vasculham a rua, o que ela tanto procurava? Nem ela sabia, mas sabia que perdeu algo quando criança, sempre vasculha onde pode enxergar á procura de tal coisa.

"Toda vez que saímos você fica com essa cara de quem vai para um enterro." O comentário de christina faz com que a 'não qualquer' role os orbes claros. "Agora coloca um sorriso nesse rostinho lindo, vamos para outro continente!" Rindo, a mulher batuca o volante no ritmo da música animada que toca no som do carro.

Stella ri baixo voltando a olhar a paisagem de fora, ruas estreitas formam a pequena vila costeira, jardins bem arrumados, construções medievais de alguns séculos atrás, é como o toque final para o cenário. À medida que o carro deixa a vila para trás, a sensação de sufoco começa a tapar a garganta, e regressar para casa, pro colégio onde todos sabem seu nome, e você sabe o nome de todos, não irá acontecer. Que seus olhos jamais tornarão a observar o sorriso da garota que gosta. Tudo parecia tão distante naqueles míseros segundo que prendeu o ar nos pulmões, encarando a costa, o mar e sua vastidão finita.

*

"Está preparado para a chuva de meteoros de hoje?" A mãe de Stefan saltita por espaço estreito do ambiente, Stefan fora arrastado pela mãe para o meio do deserto, o garoto queria reclamar e fazer birra, que diabos fariam ali por dois dias? Sem internet, sem televisão 4K, um verdadeiro inferno! Mas na visão da latina, parecia um ótimo programa em família.

"Opa, mais animado impossível." Ele finge animação enquanto abre o armário da mini cozinha, pega o primeiro salgadinho que vê e caminha em direção a porta do trailer. "Vou dar uma volta." Parou com o pé no degrau, abrindo o pacote, parece saber o que vai acontecer agora.

"Não fale com estranhos, não aceite coisas de estranhos, não vá muito longe." Ali está a lista dos "não" que Amélia diz todas as vezes que o garoto decide caminhar. O segue até que ele desça os degraus e pise na terra seca.

"Não respire perto de estranho Stefan." Numa tentativa falha de imitar a voz da mãe o garoto arranca risos da mesma. "Aqui só tem trailers de hippies, cabras e sei lá o que." Tenta tranquilizar a mãe já a bons passos de distância do veículo, pega um dos salgadinhos amarelos e joga para dentro.

Os passos calmos do rapaz faz barulhos baixos pelo atrito da sola contra as pedras do solo, um barulho suave faz com que os passos travem, e o olhar se perder na enorme montanha dezenas de milhas de distância. O cenho franzido sinalizando que está confuso, tanto pela origem, que não parecia se quer 'real', quanto sentimento explosivo, queimando no peito.

Quando está virando o corpo para seguir o barulho suave do guizo, avista a garota mais linda que já viu em sua curta puberdade. Os cabelos lisos se movem sem pressa alguma com ajuda do vento, que antes estava agitado, agora não passava de uma brisa beirando o inexistente.

Heróis GregosOnde histórias criam vida. Descubra agora