Parte I

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Era certo que o Lar Celeste estava quieto nos últimos dias, disso ele tinha certeza. Mesmo assim, os olhos pálidos de Yekun o estudavam friamente, tornando aquilo algo nada discreto. Atrás de suas grandiosas asas brancas, estendiam-se uma sequência simétrica de paredes formadas de rosas douradas que se entrelaçavam. Coroavam o Jardim de Ouro com um brilho incandescente nas tardes de sol poente, unidas à cor das Narcisos, Proteas, Palmas, Lisiantos, Lírios e as cores saturadas das recém-desabrochadas tulipas.

– Então… você planeja matar todos os anjos… e até mesmo Deus? – Perguntou Yenku, com uma leve surpresa em sua voz suave.

– Sim. E você estará do meu lado? Vejo que não tem muito espaço entre os outros anjos, é uma pena. Você é mais capaz que quase todos eles, tem uma inteligência maior que a minha.

– Hmmmm. Mas, diga-me… Por quê? – Ele sorriu pelos lábios rosados, mas os olhos continuaram como antes: Branco e sem vida, eles o estudava, sabia, tinha certeza. – Você é um querubim, é o mais belo de todos nós. É o melhor.

Exatamente por isso, sou o melhor, é por isso, idiota!
– O homem, ele criou Javé… Não estava lá? – perguntou, virando-se para as magníficas Orquídeas Azuis. – Ainda pediu que eu o louvasse. Que eu, o maior dos anjos, louvasse uma criatura como aquela. Não podia, não podia! Ele é que deveria me louvar, não o contrário.

Yekun andou um pouco à frente, com os cabelos castanhos lambendo seus ombros largos.
– Hmmm. Compreendo, também achei uma ideia estúpida criarem um ser como Eles. Mas acho que não conseguiríamos lutar contra milhares, e ainda tem ele… o Arcanjo, está todo o tempo no sopé do trono.

– Não seremos só nós. Fale com Kesabel, apesar de inferior ele nos será útil, ele é fraco e cederá, e você é próximo dele.

Yekun desviou seu olhar, e um leve tocar do vento balançou sua toga branca, que acentuava suas asas pálidas. 
– Pergunto-me se está certo sobre o que disse... Não acho que eu seja mais inteligente que você. O que fará quando… realizar seu plano? – perguntou.

– Não me esquecerei de você, com certeza. Destruirei o homem e arruinarei aquele que não me adorar. Eu é que devo ser adorado, não Ele.

– Tome cuidado – preveniu Yekun, olhando para os dois lados. – O jardim anda silencioso esses dias, sim, sim. Não mostre seu desejo, o realize primeiro, para que todos o vejam e não possam fazer nada para impedi-lo. Eu sou um caso à parte, não direi nada, mas… ouça meu conselho: Vá até Gadreel, ele poderá ser útil se estamos pensando em destruir os outros. Ele é ainda mais influente do que Kesabel, e não está nada feliz com os planos de Deus, assim como você.

Será se está dizendo a verdade, ou me levando para um armadilha? Nunca vi muito esse Gadreel… será mesmo útil?
– Farei – respondeu. – E não esqueça do que eu lhe disse, vá atrás de Kesabel e o traga para o meu lado.

Yekun sorriu, enquanto o fitava.
– Nosso lado – corrigiu. – Estou de seu lado, Lucífer.

Seu voto é muito importante, deixe-o. Lembre-se que não custa nada ☆

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