Parte IV

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– Você é o anjo mais belo, o dotado de sabedoria, o que tem uma voz tão bela como águas fluindo, o querubim responsável pelo trono mas, mesmo assim, não sabe manejar uma espada… – ele estreitou um sorriso entre os lábios rosados, enfurecendo Lucífer.

– E você é o conhecido entre todos como o mais sábio, mas age sempre como um tolo. – Ele respondeu, indiferente.

O anjo voltou o olha-lo, agora com perspicácia.
– Hmmmmm… acha que sou tolo por segui-lo, ou é outra coisa?

– Talvez tolo por dizer coisas como essa que acabou de dizer. Sabe que quando conseguimos extinguir todos, serei eu a me sentar naquele trono. Eu tenho boa memória, Yenku. Espero me recordar de você como um servo disposto a servir, e não o contrário. – ele aproximou-se mais do anjo, sussurrando: – E enquanto estamos indo para a batalha, limite-se a dizer coisas discretas, você mesmo diz que todos podem nos ouvir…

– Digo por último que, talvez não seja tão tolo como pensa. De nossas bocas escapam gotas dos mares de nossas mentes, talvez possa sair gotas sujas ou gotas limpas, pôde vê-las, mas não pode enxergar os mares de onde vieram. Nunca vai consegui vai ver minha mente – E sumiu pelo lado oposto para onde estavam indo. Lucifer tentou pensar no que Yenku iria fazer, mas logo desistiu. Yenku é como qualquer outro, pensou.

Quando chegaram à porta da sala do trono, Lucífer conseguiu dizer aos anjos para que escondessem suas espadas, e assim fizeram. Após um longo tempo à espera do lado de fora, surgiram outros a caminho pelos infinitos corredores, todos pareciam desprover de quaisquer conhecimentos sobre a razão da reunião.

  Entraram todos, em um mar de asas e togas relampejantes, como se uma áurea escapasse de cada um dos anjos. Mas qualquer brilho era ofuscado pela forte e penetrante luz que vinha do trono.
  Sentia-se familar àquela luz, em seu próprio nome tinha luz. O que traz luz, pensou. Eu trago luz a todos estes que me seguem. Talvez estivessem sempre me esperando, esperando a luz que eu traria."

  O mais leve roçar de luzes cintilantes tocaram seu rosto quando pararam junto ao trono. Miguel estava lá, parado no primeiro degrau, e do outro lado, Raguel.

Lucífer pensara nisso todo o caminho. Não ordenaria o ataque, o esperaria, caso fosse ordenado.  
  Um dos serafins falavam sobre algo que era impossível de escutar do lugar onde estava, então limitou-se a olhar para os seus, certificando que todos estavam preparados para caso algo não saísse como planejado.
 
Foi então que ouviu o rugir forte da voz do Criador, um som estrondante tocando as paredes de mármore.
– Raguel, diga-lhe o motivo pelo qual estão aqui.

O anjo curvou-se e desceu alguns degraus, sob a luz exalada de Deus, ele olhou para todos.
– É com pesar que digo que temos um traidor entre nós. – Ah, não acredito. – Um de nós tramou uma rebelião, e atiçou os anjos para segui-lo. E por isso, deverá ser destituído de todo o poder hoje mesmo…

Não pode ser, maldito o seja! Como ele descobriu. Não pode… Não pode… Logo agora que eu consegui todos eles. Ah, maldito.        No topo do trono o altíssimo observava todos abaixo, sem aparentar nenhum contentamento.

– Rafael – continuou Raguel. – Faça.

Outro anjo desceu dos degraus, esse tinha a pele da cor do ébano, com belos caracóis negros decorando sua cabeça.

Ele vestia uma toga dourada, assim como os outros companheiros.
– Traga-nos.

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