Parte III

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Quando chegou mais perto, o olharam. Conseguia ver Abaddon com suas finas asas negras e, ao seu lado, Azazyel caminhou em sua direção, com um tênue som do vento chicotiando suas asas carmesim. Ele tinha hirsutos fios da cor do sangue decorando sua cabeça, e assemelhavam-se às minúsculas manchas de mesma cor que possuía na face.

  – Onde está Gadreel? – perguntou Yenku enquanto observava os anjos, contando-os. – Lucífer, você foi falar com ele, não foi?

– Sim, três luas atrás.  – E o idiota foi ainda mais difícil do que você.

– Você demorou – dissera-lhe Azazyel, relutante. - Se quiser pôr seu plano em prática, precisamos de armas, e eu já consegui elas.

Lucífer franziu o cenho. Não gostava nem um pouco o modo como Azazyel falava.
– Teremos as armas quando tivermos mãos suficientes para brandi-las – um forte rajada de vento soprou seus cabelos negros, e a mancha em forma de triângulos de farpas que tinha em um dos ombros tornou-se evidente.  – Temos quantos do nosso lado?

– Cento e noventa e nove – informou Abbadon. – Eu consegui a maior parte deles, lembre-se disto, Lucífer.

Leviatã levantou-se de sobressalto. Estava diferente naquele dia, ostentava uma túnica de fios dourados, com alças de couro entrelaçando-se em seu peitoral. Sua veste combinava em perfeição com seus longos cabelos flavecentes.
– Está enganado – ele rebateu. Sua voz era dura e ríspida. – Eu consegui cento e cinquenta, você só fez o que lhe foi ordenado, nada mais!

Lucífer entrou entre os dois, encarando-os com seus olhos cinzentos.
– Calem-se! Eu não os reuni aqui para vê-los discutindo. Vim para planejar o ataque, mas parece que estão sendo burros demais. Raguel está suspeitando, e não faz nem sete luas que conversei primeiramente com Yenkun.

– Raguel está suspeitando? - perguntou Penemue, com os olhos negros arregalados sob os cabelos de mesma cor. - Você não mentiu para ele? Deveria ter mentido!

– Eu fiz isso. E Azazyel... nos dê suas armas, precisaremos delas e...

Poderia ouvir um leve e estranho barulho. Por um momento pensou que fosse o riacho escorrendo, mas o som tornou-se maior, e do meio das árvores surgiu ele, Gadreel. De sua face escorria o suor, e nos lábios, um sorriso mostrava-se.  – Deus convocou todos os anjos para a sala do trono, é a nossa chance.

                        
                        ∞✡∞

À sua frente Gadreel dava instruções aos outros, ensinando-os a manejar as espadas prateadas que cada um segurava. A sua era igual a todas as outras, com o fio tão espelhado que conseguia se ver quando a erguia.
Estavam a caminho da sala do trono, e sentia um leve aperto no peito. O momento que sonhara havia chegado, um exército de anjos o seguiam, era tudo o que desejava, mas mesmo assim, sentia-se ansioso.
– Sabe manejar uma espada? – Yekun caminhava ao seu lado. Ficara o caminho todo silencioso, observando sua lâmina.

– Vi Miguel usar a dele muitas vezes, é claro que sei. – ou... não. Mas conseguirei, no calor da batalha saberei usa-la, e não deve ser difícil.

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