1.

25 1 0
                                    

Manuela

- Mamãe? Tenho uma surpresa para você!

Abro os meus olhos com alguma dificuldade, mas logo após ouvir essa frase vindo de Kate sabia que não era boa coisa. A última vez que ela disse isso resolveu dar uma pintura leve em toda a cozinha com cinco pacotes de farinha, e outra vez que havia pintado as paredes com todos os meus batons. Sem mais demoras, levantei andando atrás dela, rezando para que ela não tenha feito nada de grave que me fizesse brigar com ela, outra vez.

Kate: Vem logo mamãe, anda! - ela gritava, enquanto eu me arrastava com um olho aberto e outro fechado pela casa. Assim que chego à sala o meu coração para de bater por uns momentos. Eu sabia que não seria boa ideia dar de presente a Kate uma caixa de tintas, mas ela insistiu tanto que eu não resisti. Graças à minha fraqueza, a minha sala havia se tornado um mundo de todas as cores. Tive que piscar algumas vezes para confirmar o que os meus olhos viam. Olhei para ela incrédula, e a mesma me encarava com um sorriso inocente no rosto, que foi se desfazendo ao ver que a sua surpresa não havia me agradado nem um pouco. De tem uma coisa que eu aprendi foi a nunca levantar a mão para a minha filha, seja em que situação fosse, pois na minha perspectiva essa não era a melhor forma de educar uma criança. Também porque cresci numa casa com violência, apanhava por qualquer desleixo e isso me mudou psicologicamente. Com 10 anos prometi a mim mesma que quando tivesse um filho nunca iria levantar a mão para ele.

Manuela: Kate... você tá vendo a bagunça que você fez?

Kate: Mamãe, eu... eu... - diz gaguejando e eu a interrompo.

Manuela: Não Katherine, eu não quero ouvir, você está de castigo. E nunca, nunca mais faça uma coisa destas, ouviu bem? - alterei a voz. O meu coração quase amoleceu quando viu a primeira lágrima descer pelo seu rostinho, mas eu precisava ser forte. Ou era ensinada agora, ou quando crescesse ninguém aguentaria essa menina. Ela foi correndo para o quarto e fechou a porta. Eu odiava discutir com ela, mas às vezes era preciso.
Depois de mais de duas horas a limpar tudo, a minha barriga reclamou pela quantidade de horas que eu não comia e dirigi-me à cozinha.
Peguei um pedaço de pão com chocolate e comi. Olhei no relógio e... estava atrasadíssima para a escola, que merda! Enquanto corria pela casa, liguei a babysitter de Kate para vir o mais rápido possível. Foi o tempo de tomar um banho, vestir uma roupa decente e ficar apresentável. Quando ela chegou, entreguei as coisas de Kate que ela iria precisar para o dia e saí. Quando cheguei ainda não tinha tocado, graças a Deus.

Suzan: Bom dia, anã mais linda do mundo! - diz uma voz feminina pulando nas minhas costas, nem precisei olhar para saber quem era.

Manuela: Quem é você? - brinquei, fazendo-a mostrar a língua. Suzan era a minha melhor amiga desde que eu me lembro, sempre me tentou proteger de tudo e de todos. Eu devia a minha vida a ela. Ela tinha 19 anos mas andava na mesma escola que eu e na mesma sala.

Suzan: Como está a minha sobrinha?

Manuela: Nem te conto... - digo negando com a cabeça.

Suzan: O que foi dessa vez? Cortou as suas roupas para fazer vestidos para as barbies? Quebrou a tv? Bebeu água da privada?

Manuela: Resolveu dar uma de Picasso e fez uma obra de arte na minha sala.
Mal digo isto Suzan quase chora de tanto rir. Ela tem uma paixão inexplicável por Kate, que é recíproca da parte da mesma. Suzan sempre me disse para ter mais paciência com Kate, que ela é muito novinha e fazia essas coisas para chamar a minha atenção, e eu até entendia isso, mas se eu deixar ela fazer tudo o que quer sem reclamar vai crescer e se tornar um ser humano insuportável. Fomos conversando até escutar o toque que anunciava o início da primeira aula. Enquanto tentava prestar atenção a aula, olho de rompante para trás e vejo Nathan me observando, garoto estranho.
Finjo que não vi e volto a olhar para o professor, no entanto alguém joga um bilhete dobrado na minha mesa.

Ligados pelo Amor Onde histórias criam vida. Descubra agora