Matthiola

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Terceira pessoa

Os dois garotos voltaram a escura estrada de mãos dadas, Tom na frente de Tord o guiando pela noite do céu estrelado, o rapaz de vermelho não parava admirava cada aspecto da vida fora de sua cama de hospital; o modo como o mundo parecia se aquietar pela noite, a forma como as luzes da estrada cintilavam em um ritmo único e a forma que, sob a luz do luar, os olhos negros de Tom pareciam ainda mais como o doce vácuo do espaço.

"Onde estamos indo?" Indagou o norueguês, ele sentia um pouco mais de frio que o normal, mas era de se esperar- era a noite, certo? Só poderia ser a noite.

"Um lugar que eu vou pra pensar, costumo ir lá sozinho, mas não é como se eu pudesse te deixar no hospital sem ser pego a essa hora..." Respondeu o britânico, tomando sua mão de volta para si e a pondo no bolso. "Estamos perto de lá, não acho que precisemos andar de mãos dadas..."

"Oh, claro." O comentário fez Tord corar de vergonha pela sua inconveniência, porém assim como os animais ignoravam a leve brisa arriscando os acordar, o jovem ignorou o tom de suas bochechas, bem como a dor em seu peito e membros.

Ao dar uma longa caminhada -O norueguês notou a mentira de Tom, esse 'lugar especial' na verdade era um tanto quanto longe- os dois rapazes se encontravam num penhasco decorado por um belo jardim de árvores e flores, sua vista dava para um amplo mar iluminado pela luz do céu e,justo no centro de tudo,se podia ver uma barraquinha de caixas de papelão e lençóis.

"As flores do caderno vieram daqui," Começou o garoto azul. "Eu as estudei por um tempo, existem todo tipo de flores por aqui, com todo tipo de significado, até mesmo medicinais!" Ao ouvir a última palavra, Tord deu um pulo de surpresa; medicinais? Será que por aí teria uma flor que o pudesse curar? Será que ela consertaria os erros no sistema do menor? Um sorriso se abriu no rosto do garoto, iluminado pela luz da lua.

"E se encontrássemos algo para me curar? Alguma flor, ou alguma outra planta, que servisse de medicina!? Podíamos até encontrar algo para você, afinal, o que tem?" Perguntou com um sorriso, suas mãos agora em seu rosto para conter os novos raios de esperança que brotavam.

"Oh...." Foi a única coisa que ganhou como resposta, isso e as pequenas lágrimas que logo foram limpas pelo casaco azul do rapaz. "Sinto muito...Foi uma pergunta e uma ideia estúpida mesmo." Completou o garoto de olhos cinzas, se sentando no pequeno forte de papelão onde, logo, Tom copiava seus movimentos.

"Não,não, tudo bem! Eu só não gostaria de falar sobre isso, mas as flores foram uma ideia interessante...Mas saiba que..." O britânico olhou para o rapaz a seu lado, suas feições perfeitamente destacadas sob a luz das estrelas, as flores que os cercavam dando vida a sua pálida face, ele não queria alimentar falsas esperanças para um menino doente mas também não gostaria de ser aquele que iria quebrar tudo que restava da mesma, então, com um suspiro, continuou. "...Que..hm, elas tem um gosto péssimo! Mesmo nos chás."

"Eu não gostaria mais de colecionar constelações, Tom."
"Constelações..?"
"É como chamo as marcas de agulha em meu braço, não faz sentido ter algo mais feio na minha vida, então, como acho as constelações bonitas, as chamei disso."
"Oh..."
"Estou cansado, e estou morrendo, sei disso- É inevitável tudo ao meu redor me faz lembrar disso, mas ao menos uma vez gostaria de depositar todas minhas esperanças numa só coisa, quero me arriscar- Já passei tempo demais seguro."

Ao ouvir tais palavras o coração do jovem estremeceu, ele se achava uma péssima pessoa agora-Como ele ousa fazer isso? Alimentar as últimas esperanças de alguém que pode nunca melhorar?Talvez o pai dele estivesse certo, pensou, talvez ele fosse mesmo um imprest-

"Tom?" Tord quebrou o silêncio, Tom estava chorando. "Foi algo que eu disse? Sinto muito, não costumo conversar com as pessoas assi-" "Não, não é nada só...Me impressionei." Engoliu sua mentira, o que foi dito já estava feito e nada poderia mudar isso.

Pegou o caderno de flores em sua mão e o entregou para o pequeno garoto ao seu lado, estava extremamente envergonhado ao compartilhar uma coisa tão boba quanto seu caderno de 'estudos' mas hey, ele se meteu nessa situação sozinho.

Ao folear pelo caderno podia se ver todo tipo de informação sobre as flores, muito provavelmente pega do Foogle, tamanho,cores, significado..Tudo, até que uma informação diferente colada num post-it chamou a atenção do rapaz.

"Cara o que é comunismo?"
"Mas onde caralh- Ah droga então era aí onde estavam minhas anotações da aula de história...Huh, bem, comunismo é....Hm, um modelo político ou algo assim? Basicamente todo mundo é igual e....Isso."
"Todos são iguais? Isso é incrível!"

Tom não conseguiu se segurar e começou a rir, pensando que o comentário anterior fosse apenas uma piada de mal gosto vinda do norueguês, mas, ao ver seu olhar sério e desentendido, parou.

"Você...Não pode estar falando sério."

"Claro que estou! Se todos pudessem ser iguais então não haveria fome, pobreza..."
"É mais complicado do que pensa..."
"Hm, você fica me devendo uma explicação."
"Como quiser."

Silêncio recaiu sobre os dois rapazes, a hora era provavelmente três da manhã, mas nenhum dos dois tinha força de vontade o suficiente para ligar.

"Toca algo pra mim, nunca ouvi música ao vivo." Disse Tord num tom baixo, com medo que seu pedido fosse levado como algo infantil ou fútil pelo o outro, havia tantas coisas que ele não sabia ou não se lembrava sobre fatos de seu mundo, era sufocante viver numa bolha sem laços, começar a fabricar alguns -mesmo que fossem acabar- seria bom.

"Huh, claro..."

Tom tomou em suas mãos Susan e, com movimentos lentos e preguiçosos, começou a passar seus dedos por entre as cordas, Tord reconhecia essa música- era antiga, as enfermeiras adoravam a cantar- E logo os dois rapazes estavam cantando juntos, somente eles, as estrelas e as flores.

"When you were here before
Couldn't look you in the eye
You're just like an angel
Your skin makes me cry..."

Suas vozes não eram as melhores, tampouco eram bem afinadas ou chegavam a notas altas, porém o que importava naquele momento era que estavam lá, e não nas malditas bolhas que os prendiam anteriormente.

"You float like a feather
In a beautiful world
And I wish I was special
You're so fuckin' special
But I'm a creep, I'm a weirdo.
What the hell am I doing here?
I don't belong here."

Com as cabeças encostadas no ombro do outro, os dois rapazes cantavam observando enquanto os primeiros raios de sol encantavam o céu com uma mistura de laranjas, roxos e rosas.

"I don't care if it hurts
I want to have control
I want a perfect body
I want a perfect soul
I want you to notice
When I'm not around
You're so fuckin' special
I wish I was special
But I'm a creep, I'm a weirdo.
What the hell am I doing here?
I don't belong here."

"She's runn- Tord?" Interrompeu Tom, ao ver que seu agora companheiro de música havia parado de cantar completamente, com medo o garoto tocou a face do outro, sentindo ineditamente que sua temperatura estava altíssima.

O britânico entrou em pânico, escondeu Susan e seu caderno na caixa de papelão e colocou o outro em seu colo, como uma noiva seria segurada no dia mais importante de sua vida.

Parece que curativos não são o suficiente.

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Estou viva olha aí :D

Se bem que a prova de história e geografia é amanhã....

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Hora de rezar pela minha alma mortal

O nome da musica é Creep-Radiohead, deem uma olhada! É muito boa

Bem, esse capítulo é um pouco mais curto que os outros (eu acho) E eu acho que essa fanfic vai durar um pouco mais que o esperado, então yay!

Espero que tenham gostado de um pouco mais de terceira pessoa enquanto meu cérebro não me permite mais a escrita do POV do menino Tord

Créditos do lado bom do comunismo a minha prima, parabéns Vitória, a gente caiu na porrada ontem por isso mas eu fiz algo com suas frases :3

Chauzinho!

CamelliaOnde histórias criam vida. Descubra agora