Jacinto

253 32 11
                                    

Tord

Branco, azul, carmesim.

Sentia-me afogar nessas cores, beirando o desespero quando me desapegava de uma delas.

Branco, assim como os corredores frios e sem vida do hospital, azul me fazia lembrar do casaco de Tom; Me sentia ambíguo a tal cor, ao mesmo tempo ele trouxe-me a liberdade, ao doce ar do exterior e o que era sentir o abraço caloroso da mãe natureza, porém ao mesmo tempo esta cor me trazia de volta aos tempos solitários nos quais passei encarando a cortina de peixes inabitada, me trazia de volta a todos momentos solitários que tive, a cada suspiro mal executado, a cada erva daninha- lágrima.

E finalmente tinha o carmesim, derramando sobre mim um quente liquido; lembrete que estava vivo, assim como dias antes,respirava dessa vez, mesmo que significasse o fato de que estaria com uma - provável- infecção por conta do band-aid mal feito.

Falando em tal, o autor dele me carregara até minha 'casa' - Com certeza não um lar, meu coração não pertencia a tal lugar - Seus olhos que tanto apreciava focados num desconforto preocupante para mim, sinto muito, Thomas, você não merecia uma interrupção em suas aventuras como eu.

Pouco me lembro da fatídica noite na qual fui diagnosticado, como antes mencionei, tudo passando tão rapidamente diante de inocentes olhos que fiquei perplexo com minha nova rotina nas semanas seguintes, dos detalhes que posso agarrar de minha apagada memória, simplesmente a tristeza vejo; Os olhos de um dos meus pais tão marejados que o outro começou a chorar ao apenas vê-lo neste estado, a pena na expressão das enfermeiras que ajudavam meu doutor era evidente, e todos agindo como se estivessem em um estado permanente de luto me irritava-Eu não estou morto, não ainda, eu irei deixar minha marca nesse mundo- Nem que esta seja a última coisa que faça.

Hoje não é nada diferente daquele dia, eu posso sentir o amargo gosto dos olhares sob minhas costas enquanto Tom me carregava até a bancada da recepcionista, por um momento penso em impedi-lo, em promete-lo que estou bem somente para que não precise desistir de nossas saídas sem elas nem sequer terem começado direito, porém hesito; A febre que se espalha por meu corpo não mente, meus olhos semi-abertos também não.

Fecho os olhos e finjo estar sonhando um terrível pesadelo quando sinto as mãos gélidas das enfermeiras a me carregarem na maca igualmente fria pelos corredores pálidos do quieto local até um quarto separado onde ficarei, só consigo pensar em quão sozinho estarei novamente, não que elas liguem.

Não que ninguém ligue, nem mesmo as pessoas que me adotaram.

Até por que é isso que sou para eles, não? Um filho adotado no qual eles gastam grandes quantidades de dinheiro anualmente, apenas para prepará-lo a sua inevitável morte antes dos dezoito, apenas mais um número para suas egoístas estatísticas.

Imagino meu funeral quando sinto a agulha perfurar meu braço -Mais uma estrela!- Estarei com um terno tão negro quanto meus lábios, meu cabelo bagunçado estará por uma vez arrumado perfeitamente pelas mãos hábeis de um embalsamador, penso também nas flores que estarão presentes enquanto me enterram no esquecimento; Copos de leite, represando a idade jovem na qual parti, junto com elas uma única rosa vermelha se localiza no centro- amor que ninguém nunca sentiu por mim,mas precisavam colocar lá pelo simples fato de preservação de aparências- e então terá alguém -Um dos meus pais, talvez?- lá em cima, fazendo um discurso de lágrimas falsas e falando na minha grande marca nesse mundo, seja lá o que ela for.

Sim, parece legal,até mesmo sorrio com o pensamento enquanto as vejo sair em fila indiana do meu quarto singular, bem, pelo menos não sou mais assombrado por aquela cortina de peixes maldita; Talvez até faça dela minha pegada aqui, a queimando e a destruindo até que lhe sobrem apenas cinzas- Ninguém de importante vai saber, mas ao menos os funcionários deste local lembrarão.

Encaro o teto e memorizo seus padrões, me lembram de um tabuleiro de xadrez, só que ao invés do penetrante preto vejo um azul bebê calmo- Claro, o que mais poderia esperar?

"Knock Knock" Imita alguém do outro lado da porta de madeira clara.
"Temos uma porta pra isso, não precisa imitar, sabia?"
"Você parecia muito menos evasivo cantando ao meu lado, sabia?"
"Tom?"
"Primeiro e único."

Ele entra com a jaqueta vermelha que eu usava em suas mãos; Quando a tiraram de mim é um total mistério o qual eu não tenho vontade de responder.

"O que veio fazer aqui?" Perguntei, minha garganta está seca.
"Te devolver isso, e começar nossos 'experimentos'." Do bolso da jaqueta que me entregou um minuto depois, tirou uma rosa branca meio amassada - porém não era feia, tinha sim suas falhas, contudo sua beleza as sobrepunha de uma forma delicada e pura; um pedaço de nuvem caído do céu e materializado, emanando um perfume familiar, cheirava ao jardim onde estávamos a pouco tempo.

"Já?"
"Uhum, acho que seria um bom começo depois dos acontecimentos." Disse ele, pegando um copo de água de uma daquelas mini-geladeiras que somente estão presentes em quartos singulares, diluindo a pequena rosa branca na gelada água.
"Vou ter que beber isso?" Disse pensando que tipo de gosto teria, com certeza, não um bom.
"É...Eu acho, a não ser que tenha uma ideia melhor."

Com suas mãos tremendo me entregou o copinho com um liquido levemente amarelado, culpa da flor provavelmente, olhei para o mesmo com desgosto; Mas se é isso que eu tenho que fazer para viver, que assim seja.

Tapei meu nariz com os dedos, engolindo de vez todo o conteúdo do copo de plástico; Fechei meus olhos e rezei, eu nunca fui religioso e tampouco sabia para quem estava rezando- porém estou desesperado, só preciso que isso funcione. 

"E então, como se sente..."
"Cansado, sinceramente...Acho que não foi dessa vez."
"Tudo bem, só precisamos tentar mais."

======

Mais um capítulo trago a vocês pelo final do meu mês de provas •w•

Aliás pra quem não viu no meu perfil, eu dei um mal jeito no meu pulso tocando violino então não pude escrever!

E eu tenho uma pergunta a fazer, como vocês preferem que eu escreva? Primeira ou terceira pessoa?

Chauzinho~

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Sep 04, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

CamelliaOnde histórias criam vida. Descubra agora