O Recomeço
Era o meu primeiro dia de trabalho depois das férias, cheguei cedo ao colégio e, ao entrar na sala de professores, fui recebida como um ser de outro mundo. Os que já estavam presentes me olhavam meio de banda, os que iam chegando se assustavam e evitavam longas conversas, só uns dois ou três mais chegados se aproximaram e tiveram coragem de manter uma conversa sadia comigo. Eu não entendia muito bem o porquê, mas o fato de ter levantado do caixão em pleno velório tinha causado certa distância de algumas pessoas, até mesmo meus irmãos às vezes me olhavam de forma esquisita. Eu acho que a única pessoa que pulou de alegria sem questionar absolutamente nada foi minha mãe. Antes que eu pudesse ir para minha turma, o diretor do colégio me chamou até sua sala:
— Como vai a senhora, dona Alice?
— Bem, e o senhor? — respondi atenta.
— Dona Alice, vou direto ao assunto. — Cruzando as mãos, ele colocou seu cotovelo sobre a mesa, e eu gelei. — Não podemos continuar com a senhora em nosso corpo docente.
— Mas, por que não? — argumentei, gaguejando.
— Eu poderia lhe dar uma explicação convincente, mas que não fosse verdadeira, só que, em respeito a todos os anos que a senhora dedicou a essa instituição, serei claro... Quando soube que a senhora estava em coma, rapidamente admiti uma nova professora, a senhora entende, não é? Estávamos a menos de dez dias de começar o ano letivo e não podíamos guardar a sua vaga.
— Sim, mas eu não morri! — repliquei em desespero.
— Isso é um problema à parte... — disse o diretor, arregalando os olhos e completando. — Ver a senhora se levantar do caixão foi algo terrível, a senhora não tem ideia do que nos aconteceu depois.
— Como assim? — bradei, levantando-me em protesto.
— Calma, dona Alice — suplicou ele, desconcertado.
— Como o senhor quer que eu tenha calma? — berrei. — Você está me demitindo por que eu não morri? Como eu vou poder entender esse mundo? Como eu entenderei as pessoas? — Eu grunhia, descontrolada.
— Ma-mas, dona Alice, procure entender, estamos apavorados com a sua presença!
Olhei indignada para ele por ouvir tamanho despautério e, a ponto de um ataque de nervos, bradei:
— Apavorados?! Que mal eu poderia causar a vocês?
— Não sabemos, dona Alice, mas na verdade tememos descobrir — disse ele em pânico.
— Seu frouxo! — despejei essas palavras em sinônimo de protesto, mas me sentindo uma perfeita idiota.
Se eu não estivesse tão fora de mim, cairia na gargalhada. O senhor Mauro, diretor tão temido no colégio, estava acuado no canto da sala, pois seu pavor era notório. Olhei aquela cena e por segundos desejei ter morrido de verdade, porque teria sido melhor para o Luiz Cláudio, para o senhor Mauro e eu temia descobrir quem mais seria poupado da minha presença vil se eu tivesse morrido de verdade. Esse dramalhão feito por mim me fez ter certeza de que a minha história estava sendo conduzida a mudanças e eu precisava continuar. Acompanhar a correnteza da vida e ver para onde tudo isso me levaria, além da trabalheira que estava tendo para voltar a ter uma identidade em vez de um atestado de óbito!
Nesse período, minha mãe insistiu para que eu ficasse em sua casa e, pra falar a verdade, imaginar que eu teria que encarar o senhor Cícero todas as vezes que eu fosse para o meu apartamento era constrangedor, por isso mudei-me temporariamente para a casa dela e quando tudo parecia estar ruim, meu irmão Wilson me trouxe a notícia mais cômica do ano... Eu tinha virado motivo de chacota nas redes sociais! Eu não sabia se deveria rir ou chorar, mas uma coisa eu não pude negar... Tive meus quinze minutos de fama!
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Simplesmente amigos
Любовные романыQuando tudo parece normal na sua história, vem a vida e muda as coisas de lugar, colocando sua casa de cabeça para baixo e lhe ensinando a reescrever a sua existência! Foi assim que Alice, uma mulher permissiva, que aceitava todas as situaçôes com...