Capítulo 1

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O INÍCIO

Era uma situação incômoda... Eu não conseguia definir o que estava acontecendo comigo naquele momento, me parecia escuro e desesperador. Atordoada, procurei manter a calma e analisar os detalhes. Consultei minhas lembranças e percebi que não possuía ciência dos fatos, senti-me desorientada porque eu não tinha nenhuma informação. Santo Deus! O que era aquilo?

Meu corpo estava inerte e minha mente funcionava lentamente, mas mesmo assim ouvi vozes que sussurravam palavras que a princípio não compreendia. Desnorteada, tive vontade de chorar. O que poderia estar me acontecendo?, questionei-me sem resposta. Não podia desesperar-me, tinha que fazer um esforço para me manter equilibrada. De alguma forma, eu sabia que era preciso ter controle. Procurando por um fio de sanidade, voltei a concentrar-me e foi nessa hora que ouvi alguém falar:

— Ela era tão jovem! — Agucei minha audição e redobrando a atenção temi em saber o que iriam dizer a respeito disso.

— Sim, apenas uma menina com uma vida inteira pela frente... — disse a segunda voz, caindo no choro.

Eu não queria acreditar, mas aquela era a voz da minha mãe! Pai do céu!, pensei, sem conseguir disfarçar o meu desespero e com uma vontade louca de gritar. Prestei atenção em tudo e perguntei desconfiada: Eu estou morta? Isso não era possível, eu estava falando comigo, como eu poderia estar morta? Comecei a gritar mentalmente: Alguém me escuta? Por favor, me ajudem. Hello... eu não estou morta! Ahhh, alguém... Por favor..., mas era inútil. Eu poderia me debulhar em lágrimas ou gritar o quanto fosse porque tudo o que estava me acontecendo, acontecia somente dentro da minha cabeça, ninguém me ouvia e ao que parecia, eu deveria mesmo estar morta!

Comecei a verificar os fatos: meu corpo estava inerte e tive a sensação de que estava frio; sentia também um cheiro forte de flores e o toque de alguém acariciando o meu rosto; ouvia todas aquelas pessoas que falavam e minha mãe chorando inconsolavelmente. Sem entender o que me acontecera, procurei minha última lembrança de quando estava viva e briguei comigo: Não é sua última lembrança, sua retardada, você não está morta, lembra?! Choramingando, retruquei: É óbvio que estou morta... O que vou fazer agora?

Completamente sem direção, achei melhor não lutar contra o destino, porém eu não parava de me debater interiormente: Como assim? Você não percebe? Vão sepultá-la viva... Parei por um instante e, imaginando-me em um caixão completamente fechado, gritei: Não! Vocês não podem me enterrar!

O diálogo que eu estava tendo comigo mesma era desanimador, não estava ajudando-me em nada e sem opção fiz um breve resumo das minhas lembranças, e recordei da viagem que havia feito com Luiz Cláudio.

Estávamos desfrutando nossas férias no sul do Brasil. Recordei de beijos, abraços e algumas poucas palavras. Havíamos colocado tudo na mala do carro e fazíamos planos para quando chegássemos ao Rio de Janeiro... De repente, as lembranças foram ficando distantes e se desfazendo como fumaça...

Ai, minha cabeça!, pensei, amargando uma forte dor momentânea, podia jurar que havia contraído as feições do meu rosto. Por isso, voltei a prestar atenção no que estava acontecendo e ouvi um pranto. Minha mãe chorava e falava coisas lindas a meu respeito, cheguei a sentir-me orgulhosa de mim e, sem noção de nada, eu me deliciava com aquele momento, mas o meu lado conformista suspirava satisfeito quando minha voz interior bradou: Sua louca! Faça alguma coisa! Como se eu tivesse saído de um transe, senti que conseguia mexer os meus dedos muito lentamente, mas os mexia! Fiquei animada, porém foi por pouco tempo, porque ouvi alguém dizer à minha mãe:

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