Capítulo 6

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A Reconstrução

Por fora algumas coisas iam se acertando, mas dentro de mim ainda havia outras que precisavam ser resolvidas. Consegui fazer dois excelentes negócios, vendi um de meus imóveis e injetei dinheiro na finalização do empreendimento comercial que estávamos fazendo. O outro imóvel, de 300 metros quadrados, troquei por um apartamento de 170 metros quadrados em Laranjeiras, próximo ao prédio de minha mãe, e com a diferença que recebi em dinheiro, mobiliei o meu cantinho como eu queria. Nessa ocasião, minha mãe notava que algumas coisas haviam mudado em mim e por várias vezes ela falou: Essa roupa não está muito indecente?, Seu palavreado não está muito chulo? ou Olha lá, menina, não foi essa educação que eu te dei!, mas o que marcou de verdade nessa transformação pra ela foi a semana do Carnaval.

Viajamos para uma chácara no interior do Rio de Janeiro, buscávamos paz e tranquilidade para os dias mais agitados do ano. Wilson preferiu ficar, mas Gilson e Silmara vieram conosco.

Na manhã de sábado, eu e minha mãe tomávamos café da manhã quando Silmara sentou-se à mesa.

— Ai, estou toda dolorida! — disse ela com cara de acabada.

— Que isso, menina? — disse minha mãe, repreendendo-a.

— Isso, dona Josefa é sexo, a senhora lembra! S-E-X-O, sexo! — disse Silmara matreiramente. — A senhora não lembra mais, não é? A senhora precisa arrumar um parceiro e colocar essas coisas aí pra funcionar — afirmou maliciosa.

— Onde é que já se viu! Você ficou doida, é? — disse minha mãe com os olhos arregalados.

— E você? — Virando-se para mim, ela completou: — Você precisa arrumar um namorado viu, vai ficar sozinha até quando?

— Você perdeu o juízo, Silmara? — disse minha mãe irritada.

— Dona Josefa, que a senhora não queira fazer sexo eu até entendo, mas Alice é muito nova, ela precisa conhecer alguém.

— Não tem nem dois meses que o marido dela faleceu, você quer o quê?

— Eu não quero nada, porque tudo o que eu quero, seu filho me dá... É só minha opinião! — disse Silmara, dando duplo sentido ao que falava.

Cheguei a sentir inveja dela, desejei encontrar um homem que repetisse comigo as loucuras que Silmara e Gilson faziam.

— Silmara tem razão, mãe.

— Você precisa respeitar a memória de seu marido — defendeu minha mãe.

— Respeitar o quê? — falei, com uma ponta de revolta. — A senhora não sabe da missa um terço.

— Do que você está falando? — perguntou-me ela, sem entender o motivo da minha revolta.

— Nada! — gritei.

— Se eu achava que você estava precisando de sexo, agora eu tenho certeza — disse minha cunhada, assustada.

— Você acha que tudo se resolve com sexo, não é, Silmara? — disse minha mãe exaltada. — Pois saiba você que isso não é tudo em um casamento.

— Isso pode não ser tudo, minha mãe, mas acho que hoje é fundamental — falei baixo e vagarosamente.

— Casamento sem sexo, dona Josefa, não é casamento, aliás, sem um bom sexo também não é — afirmou Silmara com toda a sua “sabedoria”.

Como uma louca, eu deslanchei em rir. Assustada, minha mãe preocupou-se comigo, e Silmara, achando que tinha falado algo maravilhoso, ria como se minha gargalhada compartilhasse o mesmo motivo que a dela. Eu estava quebrada emocionalmente, porque superar o fracasso no casamento era uma missão muito árdua e deixa a pessoa entre altos e baixos, e se sentindo uma porcaria de ser humano. A rejeição era um dos sentimentos mais difíceis de ser superado, e era por isso que eu precisava aproveitar aquele período, longe do trabalho e das preocupações do dia a dia e dar continuidade a reconstrução do meu eu, sem máscaras ou mentiras. Sem restrições dei asas à minha imaginação e indaguei Silmara:

Simplesmente amigosOnde histórias criam vida. Descubra agora