Capítulo 3

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A Decepção

É fato! Ninguém pode fugir da sua história ou ser um mero espectador da vida, na sua existência você sempre será o ator principal, não importa o que aconteça!

Foi com essas palavras grifadas no meu coração que decidi encarar os acontecimentos e enfrentá-los. Eu sempre fui uma pessoa muito pacata e acomodada, na realidade eu era fã da lei do menor esforço, era muito mais fácil acreditar que eu tinha um casamento perfeito do que debater as diferenças, acreditar em tudo que Luiz Cláudio me falava do que tentar melhorar... Digo isso por mim e não por ele, muitas vezes deparei-me com minhas insatisfações, mas ignorei-as. Quantas vezes olhei-me no espelho e disse: Preciso emagrecer!, e ele dizia: Você está ótima. Era mais fácil acreditar que eu estava ótima para ele, do que enxergar que eu tinha que mudar para me fazer feliz. Não era simplesmente os dez quilos a mais que adquiri depois que casei, era a minha falta de identidade: os meus amigos eram os amigos dele, as nossas viagens eram para os lugares que ele queria, o tipo de música, a comida, o que bebíamos... Tudo! Tudo o que meu “mestre” mandava... Respirei fundo e chorei de raiva... Até o filho que eu tanto queria ter, ele me convencia que não precisávamos e tinha um filho com outra pessoa! Como isso era possível? Eu o odiei naquele momento. Anulei-me para viver a felicidade dele como se fosse minha e só agora conseguia enxergar isso. Quando o meu mundo caiu, percebi o quão imperfeita era a minha relação comigo mesma e através dos destroços, encontrei os meus sonhos e nos escombros o início da minha própria história.

— Alice! — Minha mãe bateu na porta do quarto. — Venha jantar.

— Já vou — respondi, enxugando as lágrimas e sem saber o que iria fazer com aquela informação bombástica. 

Recompondo-me, fui para a sala de jantar e sentei-me à mesa. Estranhei, pois estava posta para cinco pessoas e nós éramos apenas três, porém, antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa, a campainha tocou e Wilson foi atender. Minha cabeça desestruturada começou a doer ainda mais com a algazarra que minha cunhada Silmara fazia junto com meu irmão Gilson; minha mãe, inocentemente feliz, fez com que todos se acomodassem à mesa.

Não era um clima festivo, mas Silmara jamais perderia a oportunidade de exibir sua vida sexual, ela sempre fazia isso!

— Dona Josefa! — disse Silmara ironicamente segurando a mão de minha mãe. — Seu filho quase me matou ontem!

— O que houve? — perguntou minha mãe assustada, achando se tratar de algo muito sério.

— Ele quase me matou de tanto prazer... — respondeu Silmara fechando os olhos e suspirando.

Senti vontade de levantar-me da mesa, mas contive minhas frustrações.

— Pare com isso, menina — repreendeu minha mãe achando engraçado, mas ficando sem jeito. — Você não perde essa mania de falar besteiras.

— Não fique contando nossas intimidades — gracejou Gilson.

E todos à mesa riram, como se isso fosse uma cena engraçada em um programa de humor.

Silmara era do tipo de mulher sem-vergonha que vivia falando coisas obscenas para nós, minha mãe muitas vezes ria com suas aventuras eróticas e eu quase sempre a repreendia em meus pensamentos, eu não tinha uma prática tão desavergonhada com Luiz Cláudio, não que eu não quisesse, ele é que sempre foi contra. Lembrei-me de uma das vezes que fui tentar usar uma fantasia erótica e ele, de forma muito seca, disse: Não precisamos disso! Éramos muito básicos no nosso dia a dia, mas isso parecia satisfatório, eu acreditava que tínhamos uma relação segura e de cumplicidade... Mais uma vez me odiei por isso.

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