O Ferreiro

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A cara fechada de Scarr deixava a caminhada mais tensa, sua preocupação com algo desconhecido por Violet aumentava sua curiosidade, mas não era a melhor hora para perguntas.

- Estou isolando as áreas afetadas por essa coisa. Nenhum dos animais se aproximará de lá. - Avisa Mayandra para Scarr.

- Teremos que neutralizar isso para que não se espalhe. - Complementa Scarr.

A curiosidade matava a garota, ela batia seus dedos na perna enquanto rangia os dentes. O cachorro parecia despreocupado com tudo, pulava atrás de borboletas, se esfregava no barro da estrada, e ignorava os "assuntos humanos". Violet se aproxima de Mayandra, e puxa seu vestido dizendo.

- O que era aquela coisa?

- Não temos certeza, então não poderei afirmar nada para você. - Responde Mayandra após se virar para a garota que estava em suas costas.

- Mas do jeito que vocês estão falando ai, parece que sabe muito bem o quê é. - Diz a meninas aborrecida.

Mayandra se vira para continuar o caminho enquanto pensa, não sabendo se conta algo para a garota ou deixa ainda o mistério no ar. Scarr parecia ignorar o que se passava com as duas, mas acaba chamando Violet para seu lado com um gesto de sua mão.

- Não temos tanta certeza mas... - Dando uma leve pausa ele continua. - Antigamente, houve uma guerra que não se relacionava a roubo de território ou coisa parecida, foi por causa de uma das entidades do Reino. Um homem velho que todos da vila conhecia, ele tinha uma função muito importante lá que ajudava o exercito de Negrast. Era um ferreiro e sua origem não veio do próprio reino, o homem diz vir do oeste, em um vale que se encontra do outro lado do deserto Anuvia, seus céus estão sempre cobertos de nuvens mas nunca houve uma chuva se quer. O lugar é uma enorme área feita de areia, ela não é tão quente mas pode te enlouquecer com o tempo por causa da falta de água e alimento, para poder passar de um lado do deserto para o outro dura em cerca de 26 semanas de cavalo, sem parada para acampamento ou descanso. Algumas criaturas que vagam por lá, vendem coisas para os viajantes que podem ajudar-lhes, como poções, machados, espadas, escudos etc... Alguns dizem que vieram do coração de Fresna, considerada deusa por alguns e aberração para outros, mas nunca soubemos a real origem deles. Alguns duvidam que Fanur, como era chamado o ferreiro, veio mesmo daquele vale. O problema com esse homem começo quando seu coração avistou a princesa de Negrast, seu amor acabou levando-o por um caminho perverso que não teria volta. 

- Ele pediu ajuda para a entidade corrompida. - Acrescentou Mayandra. -  Uma criatura que foi isolada dos ancestrais por causa de sua interferência no mundo mortal. Ela não estava aqui para ajudar ninguém, todos os acordos que fazia com os mortais resultava em sem próprio benefício, como a posse de um fragmento de alma dos envolvido ou uma alma inteira. A Entidade Corrompida usava essas almas para aumentar seu poder e conseguir invadir o mundo mortal para colocar suas mãos no coração de Ovanam, uma pedra que controla a realidade e magia de todo o mundo, essa pedra está agora no monte Moji que é protegido pelos monges Keguin. Seu poder vem de seu astral, uma criatura conjurada após o termino do ensinamento de cada um. Se essa pedra chegar as mãos da Entidade... não sei o que aconteceria com Ovanam.

- O acordo de Fanur com a entidade era ter o coração da princesa, e seu sacrifício, era o poder que carregava em sua forja. Por isso ele ajudava tanto o reino de Negrast, ele encantava as armas e armaduras que forjava, espadas que abençoava seus portadores permitindo-os andar sobre águas, escudos que criavam uma enorme barreira contra ataques diretos ou magias. Fanur fez sua parte sacrificando a magia, mas ninguém garantiria que a Entidade faria o mesmo. Quando Fanur entregou sua bigorna e martelo, a Entidade se aproveitou e fez um segundo acordo. Ela pediu para que Fanur usasse de seu poder para encantar as armas, e assim foi feito, Fanur começou a fabricar mais armas e amaldiçoa-las. A parte da Entidade de entregar o coração da princesa não foi comprida, Fanur enlouqueceu perdendo o controle de sua mente, e acabou entregando sua consciência a Entidade que fez com que todas as ferramentas amaldiçoadas possuíssem seus portadores, que foram nomeados de Condenados,  eles agora estavam ao comando dessa horrível criatura que fez do exercito marionetes inertes. Todos os que podiam ajudaram a combater isso como elfos, anões, feiticeiros, magos e druidas. - Continuou Scarr.

- Que coisa terrível, e o que era aquela coisa no rio? - Perguntou Violet.

- Esse liquido gosmento, saia dos corpos dos Condenados. - Respondeu Mayandra.

Em troca de olhares eles continuaram a viagem, a preocupação de Scarr quase aparentava medo. Mayandra colocou sua mão no ombro do amigo e disse.

- Mas não precisamos nos preocupar tanto assim, a magia de Fanur está sendo contida em um lugar muito longe daqui, por magos poderosos e não será capaz de nos atingir. Isso deve ser apenas uma bobagem, mas é melhor avisar logo Somnus para selar isto também - Termina a frase com um sorriso de despreocupação.

- Talvez esteja certa, vamos logo para o castelo. - Fala Scarr enquanto apalpava o cabelo da menina.

A expressão de preocupação do homem logo sumiu, havia um ar de serenidade. O caminho para o castelo parecia inacabável, os pés de Violet doíam a cada passo, a menina dava passos leves e cuidadosos. Mayandra reparou o desconforto da garota e disse.

- Parece que temos que dar uma aceleradinha. - Deu um assovio alto que assustou o cachorro e a menina. - Então vou chamar alguns amiguinhos.

Era possível ouvir algumas criaturas se aproximando, dois veados pularam os arbustos que separavam a estrada de terra e a floresta, uma criatura desconhecida derrubou algumas árvores para passar. Seu corpo assemelhavasse a de um gorila, mas era um pouco maior que um, todo seu corpo era feito de madeira que estava coberta por alguns ramos de grama e flores. Sua cabeça tinha o mesmo formato da cabeça dos veados mas era um pouco mais larga, no lugar dos olhos estavam pequenos rubis que não faziam reflexo algum. Violet caiu no chão após a chegada da grande criatura que não demonstrava ameaça alguma.

- Mas o que é isso Morb? - Perguntou Mayandra dando bronca na fera. - Já não disse que não deve derrubar as coisas assim?

A criatura deu um grunhido enquanto balançava a cabeça como resposta.

- Espero mesmo que não aconteça de novo. - Respondeu Mayandra. - Violet suba nele, ele irá te levar até o castelo. Estaremos logo atrás.

Apenas Violet subiu na criatura, Kod não teria maiores problemas de acompanhá-los. O cachorro tinha um tamanho médio, seu pelo era um marrom claro que reluzia na luz do sol, sua boca era longa, os olhos eram negros como a noite. Ele tinha disposição para correr grandes distâncias. A criatura se deitou sobre o chão de peito para que a garota pudesse montar, a menina não teve dificuldade de escalar a criatura até suas costas já que havia algumas lacunas de madeira para madeira. A criatura se levantou e começou a andar, Scar, Mayandra e Kod estavam logo atrás, a velocidade da criatura aumentava cada vez mais, e com os outros não era diferente.

Pouco tempo se passou, todos estavam chegando até o limite da floresta. Quando chegaram até a última árvore, Morb parou de correr e se deitou novamente.

- Pronto, até aqui já é o suficiente para continuar a caminhada. - Fala Mayandra enquanto descia do veado.

A garota também desceu da grande criatura, Kod chegava logo atrás com sua língua pendurada para fora de sua boca.

- Um pouco de água não seria uma má ideia. 

Mayandra pegou uma pedra um pouco maior que sua mão, com os quatro dedos da mão passava na pedra de um lado para o outro, até que formou um oco. Scarr pegou de seu saco uma garrafa de couro, virou para a pedra enchendo-a. O cachorro esperava sentado ansioso pela água, quando Scarr colocou o pote improvisado no chão, Kod dava longas linguadas no líquido. Depois do animal se saciar, eles continuaram a caminhada até os portões que já eram possíveis serem vistos. A estrada de barro já tinha acabado, e agora estavam em uma trilha fina de cascalhos que leva até os portões do reino.

- Já estamos chegando! - Disse Scarr com alegria na voz.




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