POV aparentemente sem sentido*

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WIND POV

Acordo com um toque suave na porta.

Louis entra, com um sorriso amável, e fica encostado à ombreira da porta de olhos postos em mim. Epreguiço e bocejo, sem qualquer atenção ao facto de ele ser meu chefe.

-Acordei-te?

-Sim, mas tudo bem, já estava na hora. - puxei o cabelo atando-o.

-É o teu segundo dia oficial, gostava de causar melhor impressão. Desculpa por ter adormecido ontem à noite.

Estava claramente embaraçado, maçãs do rosto vexadas de um rosa adorável. Limitei-me a contemplá-lo, por segundos que pareceram horas. Respondi por fim:

-Esta é a sua rotina, deve estar tão farto dela... ontem foi a minha primeira vez, a adrenalina nas veias, a emoção... mesmo que fosse para casa não pregaria olho.

As feições tranquilizaram e suspirou aliviado.

-Bem... creio que por esta semana, não precisarei mais de ti. -esfregou as mãos sussurrando depois - só te dou folga se concordares esquecer que adormeci no trabalho.

-Você o quê?! Mr. Tomlinson, tinha-o mais em conta, dormir no trabalho?!

-Hey! Não estava a contar ainda! - olhou para o relógio de pulso e assobiou- alguém está atrasado... vai para casa Wind, volta segunda por favor.

-Obrigada Mr. Tomlinson.- agarrei a mala e saí depois dele.

O sol ainda vai alto no céu, um fenómeno raro nesta cidade. Os raios tímidos tocam-me a pele pálida trazendo memórias.

Lembra-me a minha pequenez, os campos verdejantes e solarengos de uma terra natal distante.

Vivia entre duas montanhas, num lugar tão remoto que não lembro o nome. Tudo era calmo, e belo, apesar dos dias quase sempre cinzentos, consumidos pela chuva. Não sei se alguma vez este corpo frágil teria coragem de retornar, os pedaços da minha pobre alma mal colados com fita-cola iriam decerto ceder. Lá cresci. Vivi o que foram cinco anos de uma vida que não mais me pertence, com o calor de uma família, uma "lareira do coração". Agora não tenho vida, mas vivo... lá deixei metade de mim, e o resto que trouxe, perdi-o algures.

São dias como este que me fazem lembrar a minha mãe. Apenas a mulher mais bela que conheci... o vermelho dos seus cabelos tão mais vivos que os meus ofuscavam a beleza do que quer que fosse, e eu sorria.

Tenho poucas memórias dela, mas amo cada uma, porque cada uma, me faz reviver os poucos momentos felizes de uma vida acabada.

Os carros passavam velozes e despreocupados, rugindo furiosos, sob o murmúrio calmo do vento.

-Wind! - trouxe-me de volta.

-Henry!- correu até mim, chocando com alguma brusquidão os lábios nos meus - Estava preocupado, podias ter avisado que não dormias em casa.

-Desculpa amor, o telemóvel ficou sem bateria, não te queria preocupar.

Vi no seu olhar que estava zangado, mas fez um esforço para o esconder.

-Queres ir comer qualquer coisa?

-Por favor.

Entrelaçou os dedos rudes nos meus, e caminhámos conversando até um café.

PIERCE POV

-Ora bem... eu até sou sincero, quando digo que não gosto de ser mau, mas não me deixas escolha.

O homem olhou para mim de esguelha. Tinha ambos os olhos negros e inchados, a ponto de mal os conseguir abrir.

-Ou me dizes quem o matou, ou morres.

A poça de sangue e o cheiro a desespero, diziam que estava quase a acabar. As cordas que lhe prendiam as mãos estavam apertadas e faziam feridas, que a todas as horas eram regadas com álcool e talvez um pouco de sadismo da minha parte.

-Achas que aguenta Nathan?

O médico ruivo nem precisou de se aproximar, pude ver pelo breu da sala um aceno negativo.

-Não vai falar Pierce, desiste.

-Ah... é por isto que sou contra a tortura de pessoas sem família, não há ninguém para ameaçar, não há motivos para viver.

-Bastardo...- cuspiu sangrando.

-Nem namorada... é triste. Oh bem, vejo-te do outro lado, caro amigo. - o ronronar suave da arma de eleição dispara sobre a sua cabeça.

-Vou para o hospital, entro daqui a meia hora.

-Certo, obrigado Nathan.

Deixei a cave obscura, e passei ao escritório. Nathan esteve claramente aqui, a secretária está forrada de livros de anatomia, páginas com um aroma adocicado amareladas, pelo tempo. Há rabiscos a caneta em quase todas as páginas, é normal, os livros são velhos e desatualizados, há que fazer correções. Levanto a crosta de enciclopédias de medicina, revelando o que procurava.

Liguei o portátil e comecei a verificar os pagamentos desta semana. Vamos ter problemas, faltava um.

A curiosidade leva a melhor e acabo por abrir a pasta com informações do devedor.

A tarde passou, como sempre passa, as ameaças do costume, o ambiente do costume, a mesma rotina, sempre.

Com o pôr do sol, os rapazes começaram a chegar a casa, e tudo se tornou demasiado barulhento para trabalhar.

Not about businessOnde histórias criam vida. Descubra agora