POV Andréia
A noite parece não ter fim. Cada mínimo barulho me sobressalta. As horas se arrastam, e a tensão e o medo só aumentam. Quando percebo que o amanhecer se aproxima, volto a ter esperança. Conforme vou distinguindo o local onde me encontro, me acalmo e aquilo que parecia aterrorizante no escuro, se torna banal com a claridade.
Decido caminhar e tentar encontrar a saída, porém cada vez adentro mais à mata. Percebo que as árvores estão mais próximas uma das outras e o caminho pior. Retrocedo então, mas não demora muito para perceber que não tenho a mínima ideia de onde estou e para onde ir.
Não sei o que fazer, ficar parada ou continuar em movimento. A sede aperta e ando em busca de água, mas não encontro nada. Já perdi a noção de tempo, porém a fome que sinto me diz que estou perdida há muito tempo.
Quando estou totalmente desesperançada, ouço alguém me chamando. Tendo gritar com todas as minhas forças, mas sei que o som não é tão alto como desejei. Estou exausta, faminta e sedenta. Meus nervos estão à flor da pele, e nem sei dizer se ouvi meu nome ou se estou alucinando.
Escuto passos apressados e por um momento temo que seja o Matias, mas vejo que é um bombeiro. O alívio é tão grande que só sei chorar e caio de joelhos. Ele me faz perguntas, meu nome, se estou machucada. Respondo e o rapaz ajuda-me a levantar e me guia para fora do bosque. Demora em chegarmos ao parque e ele me carrega parte do caminho, pois não tenho mais forças.
Uma ambulância está de prontidão e sou rapidamente levada para o hospital. Vejo apenas minha mãe, que segue comigo, chorando sem parar. O médico me examina, constata minha desidratação. Sou internada e colocada no soro. Meu pai chega em seguida e me abraça sem querer me soltar.
Só vejo Manoel cerca de 90 minutos após minha entrada. Ele me encontra chorando baixinho, depois que meus pais deixam o quarto. Seu abraço abre uma comporta e desafogo meu peito num choro convulsivo em seus braços. Como é bom senti-lo perto de mim, tive tanto medo de não voltar a vê-lo.
Queria ficar assim toda a noite, mas meu namorado precisa ir embora. Durmo mal, com muitos pesadelos e sei que demorará até ter uma noite de sono tranquila.
Acordo de meu último cochilo com a entrada do médico que me atendeu. Ele examina-me de novo e me dá alta, porém preenche um atestado para que fique em casa por uma semana, para me recuperar melhor. Também prescreve uma consulta com um psicólogo, devido ao trauma emocional que sofri.
Manoel e meus pais me esperam quando saio e o carinho deles me fortalece. Porém, antes de ir para casa, precisarei ir até a delegacia para dar depoimento. Matias está em prisão preventiva. Miriam já testemunhou contra ele, mas precisam de minha versão dos fatos. Conto o que aconteceu, e é terrível reviver tudo novamente.
Vou para minha casa, e, durante todo o dia, sou mimada e paparicada por minha família e meu namorado. Júlia também aparece e fico feliz com a distração que ela me oferece.
- Amiga, foi tão lindo. Eu esperando pegar Manoel no flagra e encontro meu namorado ajoelhado com flores e anel.
- Acreditou mesmo que o meu lindo estava me traindo?
- Não queria acreditar, mas você foi muito convincente.
- E o Oscar de melhor atriz vai para Andréia! – me surpreendo com minha capacidade de rir e fazer piada, mas fico satisfeita. Sinal que logo estarei recuperada.
- Meu Mário foi um fofo. Sempre desejei um pedido de casamento bonito, mas não acreditava que ele se daria ao trabalho de preparar algo marcante.
- Faz mais de um mês que estamos combinando os detalhes.
- E eu não percebi nada... Só sei que estou ainda mais apaixonada.
- Uma pena que meu sequestro e desaparecimento estragaram sua noite.
- Não fala assim. Foi horrível mesmo, fiquei desesperada. Mas situações assim nos ensinam a valorizar o que temos e aproveitar cada momento. Há sempre algo bom para aprender.
- Sim, tem razão. Mas vamos falar do casamento. Já pensou no vestido, na data?
Durmo melhor nesta noite, e logo de manhã, me encontro com a psicoterapeuta Aline, indicada pelo hospital. Ela é muito simpática e tem uma ótima reputação. Ela tratou a mãe da Larissa e a ajudou bastante e D. Cristina a adora e recomenda. Conversamos bastante, coloco para fora muito do que me aterrorizou e atormentou, desde o momento em que Matias me pegou até ser salva. Terei que fazer um acompanhamento, pois um consulta apenas não é suficiente.
Recebo muitas flores, cartões e mensagens de solidariedade e votos de breve recuperação, de parentes, amigos e até pacientes. Tal atenção aquece meu coração.
Porém, o que mais me tocou, foi o gesto do sr. Magalhães. Ele que me magoou tanto com seu preconceito, além de se oferecer para ajudar nas buscas, foi todos os dias me visitar. Trouxe uma flor diferente a cada vez, diretamente de seu jardim. Pediu desculpas por sua atitude vergonhosa de antes e me agradeceu por salvar não só sua vida, mas sua integridade também. Sei que tenho nele um amigo.
Manoel me encheu de carinhos e amor, e também me enviou mais uma carta:
"Coração
Morri nessas horas em que esteve desaparecida, para apenas ressuscitar quando te tive novamente em meus braços.
Quero esquecer a agonia e desespero que senti, para aproveitar mais a alegria de tê-la comigo novamente. Dizer que te amo incontáveis vezes, pois quando estava perdida, só sabia pensar que não te disse o quanto te amava o suficiente.
Faço minhas as palavras de Pablo Neruda:
(...)Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi.
Ouvir a noite imensa, mais imensa sem ela.
E o verso cai na alma como ao pasto o orvalho.
Que importa que meu amor não possa guardá-la
A noite está estrelada e ela não está comigo.
Isso é tudo. Muito longe alguém canta. Muito longe.
Minha alma não se contenta em havê-la perdido.
Como para aproximá-la meu olhar a busca.
Meu coração a busca, e ela não está comigo.
Porque, em noites como esta, a tive entre meus braços,
minha alma não se contenta em havê-la perdido. (...)
Com amor, Manoel"
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Readquirindo sonhos - Livro 2 - Série Sonhos
Lãng mạnManoel desistiu de seu grande amor por acreditar que era simples e humilde demais para ela, que apenas atrapalharia sua vida. Andréia nunca esqueceu seu primeiro namorado que a abandonou. É possível perdoar quem tanto te machucou, mesmo com a melhor...