Capítulo 3

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POV Manoel

Ela voltou, agora para ficar. Mas temo que me odeie depois da forma que terminei com ela e de como a tratei. Porém precisava a manter afastada, sabia que não resistiria se ela olhasse em meus olhos. Inventei viagem com namoradas, saí com garotas apenas para que ela desistisse de mim, acabei com todas as chances de que ela me perdoasse.

Agora, que decidi que sou digno de tê-la, ela não me aceitará. É o que acontece quando se é um bobo que dá ouvido a preconceitos. Mas se eu tiver uma oportunidade, não deixarei passar, não desistirei de nós uma segunda vez.

Saio tarde para a festa de meu amigo Juarez. Ele está inaugurando sua casa, que eu construí, e não posso deixar de prestigiá-lo, mesmo que meu desejo seja não ir.

Logo que entro, minha atenção se volta para cabelos volumosos e encaracolados, com os quais sonhei por 7 longos anos. Andréia conversa com Júlia e outras pessoas na sala. Fico petrificado na entrada, não consigo afastar meus olhos dela. Está ainda mais incrível do que me lembrava, sua linda pele em contraste com o vestido claro. O som de sua voz me atrai e quando percebo, estou caminhando para ela.

Para no meio do caminho quando o Matias começa a falar com ela. Nos conhecemos desde adolescentes, e ele sempre quis tirar ela de mim. Não é assim que sonhei nosso reencontro, não quero repartir sua atenção. Vou à procura do Juarez para cumprimentá-lo, enquanto espero meu coração desacelerar. Depois de conversar um pouco com o anfitrião, vou para a cozinha, onde encontro Mário conversando com alguns amigos.

- Pela sua cara, já viu quem veio à festa – me diz ao me estender a mão.

- Por que não me avisou?

- Achei que se soubesse, não viria e está na hora de conversarem.

- Não sei se aqui é um bom lugar.

- Por que não? Pelo menos te poupei de juntar coragem para procurá-la.

- Será que ela falará comigo?

- A Júlia disse que ela ainda pensa em você.

- E sua namorada me apoia, não é? – pergunto ironicamente, pois sei que ela tem muita raiva de mim.

- Cara, até eu acho que você foi um idiota, e olha que é meu melhor amigo.

- Não posso nem reclamar, sou da mesma opinião.

- Eu vou voltar para perto da Júlia e você me acompanha. Vamos lá!

Entramos na sala lotada, mas logo Andréia me percebe e o sorriso que tinha nos lábios desaparece. Sinto-me constrangido, mas não consigo tirar os olhos dela. Quanta saudade eu senti!

Aproximo-me, porém antes que eu fale qualquer coisa, ela pede para o Matias a levar para casa. Ele não perde tempo, aceita e me lança um sorriso presunçoso. Meu sangue ferve, mas me calo, abro espaço e os deixo passar. Fico mais alguns minutos, me despeço dos meus amigos e vou embora também.

Em meu quarto, pego a caixinha onde guardo todas as suas cartas. As li vezes sem conta desde que as recebi.

"Manoel

Qual seu problema? Por que me afasta de si? Já te atestei antes e confirmo: não me importo com sua profissão, desde que esteja satisfeito com ela. Quem eu amo é você.

Júlia acha que é um covarde, por se esconder de mim e também por não lutar por nós. Sempre te defendi, mas agora já não sei. Talvez o que vivemos foi real apenas para mim. Quando acreditava no seu amor, não me sentia humilhada por implorar que voltasse, mas começo a me sentir uma tola, que vive a correr atrás de quem não a quer.

Está é minha última tentativa, depois de 4 meses desta correspondência unilateral. Se não me responder, pararei de escrever para você.

Se eu fechar meu coração, nada do que fizer me fará abri-lo novamente.

Tire-me da incerteza. Se me ama, volta para mim.

Andréia"

Em resposta, fui passar uns dias com uns amigos, mas disse para todos que havia viajado para a praia com a família de uma nova namorada. Na próxima vez que ela esteve em casa, saí com uma garota qualquer e fiz questão de beijá-la na frente da Andréia.

- O que está fazendo, Manoel? – minha irmã pergunta quando me encontra sozinho.

- Só relembrando, Inês – falo enquanto dobro a carta e devolvo para a caixinha.

- Fiquei sabendo que a Andréia voltou e começará a trabalhar num hospital aqui perto.

- Mário me contou.

- Era nela que estava pensando?

- Sim, em como fui cruel para afastá-la.

- Como assim? Você não terminou porque achava estar fazendo o melhor por ela?

- Sim, mas ela não entendeu e para forçá-la a desistir de nós, desfilei com uma série de garotas em sua frente.

- E conseguir afastá-la?

- Sim, mas meu coração se despedaçou por fazê-la sofrer. Ela não sabe disso e não tenho esperança de reconquistá-la.

- Você ainda gosta dela?

- Nunca houve outra em meu coração.

- Então lute por ela.

Inês sai do quarto, mas permaneço muito tempo refletindo, tentando descobrir uma forma de me aproximar de Andréia e conseguir seu perdão.

Chega novamente o final de semana, e ainda não sei o que fazer. Meu irmãozinho Toninho me aconselha a enviar flores, diz que sempre funciona, como se tivesse muita experiência com seus 11 anos.

- Você tem é que sê sincero com a moça. Rasgá o coração e deixá de ser abestado – diz minha avó Severina sem rodeios.

- Mas e se ela não quiser me ouvir?

- Oxente, você continua tentando! Eu cansei de atender as ligações da menina quando foi morá com seu avô mais eu na Paraíba. E as cartas dela, então? Perdi a conta de quantas foram.

- Mas não funcionou, vovó. Eu não reatei nosso namoro apesar de tudo.

- Não, mais ficava sofrente e tristonho pelos quantos, e lia e relia as cartas.

- É isso que me aconselha? Escrever para ela?

- Funcionou para mim – meu irmão JC entra na conversa – Vovó me disse que mulheres gostam de cartas de amor e minha princesa voltou comigo quando escutei a D Severina.

- Música também, meu neto. Escarafuncha aquela tua viola e canta para a moça.

- Vou pensar, obrigada pelos conselhos.

Saio de casa para resolver algumas pendências do trabalho com a cabeça fervendo, não sei o que pode funcionar com minha Andréia. Resolvo mandar entregar um buquê de flores do campo, suas favoritas, em sua casa. Mas as encontro na sala de minha mãe quando chego para o almoço.

- O que aconteceu?

- Ela não deve gostar de flores. Foi mal, Manoel – Toninho se desculpa.

- Júlia trouxe há uma hora. Disse que Andréia agradece, mas não aceita e nem quer receber presentes seus – Inês me conta.

Terei que tentar outro conselho agora.



Readquirindo sonhos - Livro 2 - Série SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora