O ar quente do verão impertigava minha tarde com sua coloração laranja viva.
Cigarras, crianças e carros, tudo se orquestrava de forma a se criar uma indistinta sinfonia lá fora. O clima não estava ruim, apenas o quarto que não possuia ar condicionado.
Portas e janelas abertas. A recepção estava vazia. Não havia funcionários trabalhando àquele horário. Domingo, 3 da tarde, o expediente já havia acabado.
Vazio. A única coisa que deixaram para trás foi uma xícara de café tomada pela metade. De quem seria isso? Me pergunto.
Era uma xícara simples, o líquido preto se empenhava em se manter calmo e quieto. Teria ficado por horas, dias e meses, ou até mesmo para sempre, se não fosse interrompido pela minha presença.
Algo me chamava atenção naquela xícara. Até hoje não consigo explicar o que era. Talvez seu formato? Ou sua coloração esbranquiçada com seus detalhes dourados?
Ela era redonda, simples, com formato de xícara, como toda xícara deveria ser. Seu café era normal, instantâneo, de algum saquinho comprado em promoção no supermercado, assim como todo café instantâneo deveria ser. Mas... o que era essa sensação?
Não daria o nome de incômodo, pois, para se incomodar, primeiro é preciso ter amor próprio, coisa que já não tenho a um bom tempo. Não vou te incomodar com a estória de onde o perdi ou de onde acho que o perdi. Não vale a pena. É perda de tempo, com você que lê, e comigo. É como construir castelos de areia sem areia, ou pintar retratos sem retratos.
O que eu sentia para com aquele objeto melhor se explicava pelas minhas ações, visto que era incapaz de conciliar a ação da palavra: peguei a xícara e despejei seu conteúdo em um vaso da recepção, onde Jazia uma flor. Estava murcha e experimentando seus últimos instantes de vida.
Me senti no dever de regar aquela flor (mesmo que tenha sido com o resto do café). Talvez por piedade? Não, aquilo fora mais impulso do que dever, mais reflexo do que emoção. Interprete da maneira como quiser, o que importa é a intenção.
Terminada a boa ação me viro para trás e me deparo com uma voz interrogativa, tanto que, creio que a forma me veio a cabeça muito antes mesmo da imagem, a ponto de me dar um susto.
— O que você está fazendo?
— Err... Apenas regando a planta.
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NON-SENSE
Narrativa generale[reticências] Quando tudo parecer fazer sentido, lembre-se, nunca caminhe para o Norte! [reticências]