Capítulo 7

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Domingo não é um bom dia para se reunir com seus amigos quando se está bêbado e de ressaca por causa de uma noitada de sábado. Max e Jane estavam claramente morrendo com os efeitos da farra, pois fecharam as cortinas da sala e não se permitiam mover nem um músculo sequer naquele sofá.

Gaby e Victor preferiram deixar os dois vegetando no sofá e foram para a cozinha descobrir o que Jane tinha pensado em preparar para o grupo. Por sorte tinha massa congelada, molho de tomate e muito queijo na geladeira, coisas que exigiam o mínimo de conhecimento culinário para preparo e que ficaria delicioso.

- Bom, parece que seremos os cozinheiros da vez - diz Gaby ao se virar para o armário à procura de onde ficam as panelas. 

- E massas é a minha especialidade - Victor levanta uma panela que achou, em sinal de vitória - você verá, ficará incrível!

- Tomara que rapidez também, porque estou começando a sentir fome.

- É rápido de se preparar, relaxa.

Victor enche uma panela de água e coloca o molho semipronto na outra.

- Então Victor, me conte o que está achando da escola - sentando na ilha da cozinha, Gaby se inclina para Victor, tentando alcançar a garrafa de água.

- É legal - ele ajuda Gaby com a garrada de água - vocês meio que me acolheram no grupo, e sou muito agradecido por isso. A escola é grande, tem muita gente legal com quem conversei essa semana.

- Acho que você vai se dar super bem ainda. É bonito, simpático e novato. As características preferidas das meninas da escola.

- Ah, bom... - ele fica meio sem graça, se encolhe dentro dos ombros e esboça um sorriso envergonhado enquanto encara o caminho até a sala, onde Jane está - eu meio que estou começando a gostar de uma pessoa, você sabe...

- E faz muito bem! Desde que vi vocês juntos da primeira vez sabia que ia ser sucesso.

- A é? Você tem tanta certeza das coisas assim? - ele encara ela com um sorriso misterioso.

- Não diria certeza, mas sou bem decidido em relação ao que eu acho. E eu acho que você e Jane fazem um lindo casal.

- Que bom que tenho o seu aval, sinto que agora sim posso continuar essa relação.

Ambos caíram na gargalhada, que foi interrompida com a panela de água que começou a borbulhar. Depois de colocar a massa para cozinhar, Victor se vira para Gaby com uma cara mais sério de quando virou.

- Gaby, quando mudei para cá, fiz umas pesquisas sobre a cidade e a escola, e um evento em especial me chamou a atenção.

- Hm, sim, imagino do que irá falar.

- Se você imaginou o acidente, então está certa. Pelo que consegui extrair em minhas pesquisas, uma garota foi encontrada morta há dois anos em uma casa abandonada, acho que perto da casa da Cindy né? O mais macabro é que ela tinha algumas indícios de ter participado de uma ceita, ou algo assim. Você sabe de alguma coisa sobre o assunto?

Gaby se ajeitou na banqueta da ilha, terminou de beber a água que tinha posto em seu copo e fez como se escolhesse as melhores palavras para abordar o assunto.

- Esse caso foi o maior acontecimento de todos os tempos, parte porque aqui não acontece muitos assassinatos e parte pelo fato de ser totalmente misteriosa a forma como se desenrolou as investigações. A menina que foi achada morta se chamava Clara, e se estivesse viva ainda teria a nossa idade. Ela foi encontrada morta na casa abandonada da rua sem saída, perto da casa da Cindy. Aliás, foi constatado que a morte aconteceu durante uma das grandes festas da Cindy. Nem preciso dizer que todos os participantes da festa - que podemos gentilmente resumir para todos os jovens da cidade - foram considerados suspeitos, mas as investigações não levaram a muitos lugares. No final, a investigação segue em aberto, pois não conseguiram evoluir nenhuma teoria para uma possível suspeito.

- Nossa, que triste. Parece que você acompanhou de perto as investigações - Victor estava de costas agora, terminando de preparar a refeição deles.

- Na verdade sim, minha mãe foi advogada dos pais da menina. Eles ainda tentam processar a polícia, por falta de empenho nas investigações e pela falta de resolução do caso.

- Não consigo imaginar o que a família está passando.

- É, foi uma barra para todo mundo -  ela abaixa a cabeça, como se esse assunto tivesse mais desdobramentos para ela do que realmente falou. 

Victor percebe o desconforto que o assunto trouxe para Gaby, e trata de mudar de assunto rapidamente. Ali não era o lugar ideal para falar sobre isso.

- Uma barra vai ser você comer esse prato sem me elogiar no mínimo duas vezes - e entrega para Gaby um prato de ravioli com molho e muito queijo por cima - tenho certeza que ficou uma maravilha.

- Victor, pelo amor de deus, você fez massa congelada, sua dificuldade foi tipo, 5%.

- Esses 5% foram o suficiente para preparar essa maravilha, mas apenas com as mãos de um chefe de cozinha que o sabor é evidenciado.

- Incrível - Gaby indaga ao provar uma porção do prato - está com o mesmo gosto de sempre.

Os dois caem na gargalhada, que acaba despertando Jane e Max. Eles se juntam na cozinha e apreciam a massa congelada que Victor preparou.

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