Capítulo 9

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Gaby

Para selar o fim do primeiro semestre do ano, a festa da Cindy prometia ser enorme, daquelas que rendem as melhores histórias. Eu continuava sem falar com a Clara, mas não queria deixar isso me abalar. Se ela não queria mais falar comigo, eu não iria me importar com isso (na verdade eu me importava, mas não podia deixar isso me afetar, não podia esperar minha amiga para sempre).

Aceitei por fim o convite das outras colegas da sala e combinamos um horário para se encontrar e entrar na festa juntas. Uma delas, a Bianca, descobriu que a Clara perguntou para Cindy no vestuário se podia levar uma pessoa com ela para a festa.

Fiquei me perguntando quem seria essa tal pessoa. Será que Clara tem novos amigos agora? Será que ela tinha uma nova MELHOR amiga? E se fosse um namorado? Por que ela não me diria sobre um novo namorado? Será que eu não aprovaria?

Milhares de perguntas vieram à tona, e não pude evitar de sentir saudade da minha melhor amiga. Nós éramos muito próximas, quase irmãs, e em um período de quase seis meses tudo mudou. Algo deve estar acontecendo, eu sinto. Mas Clara não quer falar comigo na escola de jeito nenhum, quanto mais tento me aproximar, mais ela se afasta, se esquivando com qualquer desculpa. 

Vejo agora uma oportunidade. Posso descobrir quem é essa pessoa misteriosa durante a festa. Sim, é isso! Vou descobrir quem está tirando minha amiga de mim e cobrar a amizade que tínhamos antes. Não irei aceitar qualquer desculpinha dessa vez. Preciso de respostas claras e objetivas. 


O horário combinado para estar na frente da casa da Cindy era nove horas. Como sempre, metade da turma estava atrasada e iriam atrasar pelo menos uma hora para chegar na festa. Resolvi esperar as meninas dentro da casa então, já que era mais seguro. Aliás, eu pensei estrategicamente em esperar na cozinha. Primeiro porque era por onde todos os convidados passavam pelo menos uma vez, já que era possível pegar snacks, petiscos e pizzas, além de bebidas quentes e não alcoólicas, e segundo porque ela suspeitava que Clara poderia passar por lá pelo menos uma vez.

E ela precisava disso, pelo menos uma vez. Apenas um sinal de que sua amiga estaria naquela festa seria um grande motivo para sair de onde estava e começar a procurar minhas respostas. 

E lá fiquei. Dez minutos. Quinze minutos. Trinta minutos. Quarenta e cinco minutos. Uma hora.

Nada.

Nem suas colegas de sala, nem Clara. Comecei a achar que estava ficando para trás, que tudo deveria ser uma grande piada contra mim, e que em algum momento ia cair alguma parede, as câmeras iriam se revelar e que tudo não passaria de uma grande piada para o todos. 

A questão é que não era piada, era real. Olhei o celular e encontrei a mensagem das meninas falando que possivelmente demorariam mais meia hora, porque usariam o mesmo Uber para irem para a festa, e o trajeto entre uma casa e outra estava com um leve trânsito por causa de um acidente causado por um motorista em fuga.

Já que eu ficaria pelo menos mais meia hora sozinha, resolvi pegar um refrigerante e ir para a porta da festa esperar as meninas. Durante o caminho até a entrada, não pude deixar de notar que a festa da Cindy estava realmente bombando. A quantidade de pessoas haviam triplicado, e agora eu tinha me espremer em alguns momentos para passar nos corredores.

Quando finalmente cheguei até a porta, vi de relance na rua um carro desgovernado estacionando de forma perigosa na calçada, quase atropelando um grupo de jovens que acabavam de chegar para a festa. Quando finalmente consegui chegar na varanda da casa, consegui reconhecer quem eram a menina que saia do carro do lado do passageiro.

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