Madrugada

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— Elsta... — Uma voz distante chamava pela garota, mas ela não conseguia distinguir de onde. — Elsta, pelas barbas de Merlin, acorde!

Sentiu uma ardência no lado esquerdo de seu rosto e abriu os olhos rapidamente, respirando profundamente um ar abafado que cheirava a madeira apodrecida. Em poucos segundos a ardência se transformou em dor e lágrimas brotaram no canto de seus olhos claros e assustados.

— Ótimo, ela está acordada, está até chorando. — Cadmus falou com desdém, cruzando os braços e recostando na parede escurecida.

— Você não precisava ter batido nela... — Ignotus resmungou, mas não acrescentou mais nada. Estava sem energia nenhuma para discussões com o irmão mais velho.

Elsta piscou os olhos, confusa, tentando se acostumar à escuridão que a cercava enquanto esfregava o lado do rosto que seu irmão havia estapeado. Estavam em um quarto mal-cheiroso e castigado pelos anos, sacudindo com cada rajada de vento que tentava o derrubar, mas por algum milagre resistindo firmemente com suas madeiras apodrecidas e dobradiças enferrujadas.

"Eu não morri", a garota pensou consigo mesma, respirando aliviada. "Eu não morri, eu vou ficar bem."

Os irmãos mais tarde contaram para ela sobre o desmaio da mesma, mas que quando pararam para carregá-la conseguiram identificar uma casa entre as árvores mais distantes. Eles não poderiam conjurar fogo com o tão familiar Incendio!, mas por hora os cobertores e bebidas quentes que trouxeram em suas bolsas bastaria para mantê-los vivos pela noite.

— O dia de amanhã vai ser melhor. — Disse Ignotus, calando-se em seguida.

Antioch, que estivera morbidamente quieto durante todo o tempo, assentiu discretamente, virando de lado e dando o assunto como encerrado. Cadmus ainda derrubou algumas lágrimas por intermináveis minutos, mas enfim pegou no sono, deixando a jovem Elsta sozinha com seus pensamentos.

Havia recebido uma chance. Uma chance de viver. Esteve frente a frente com a morte ou foi apenas coisa de sua mente assustada? Não. Não deveria ser apenas isso. Ela sentiu a vida esvair pelos seus poros naquela tempestade, e mesmo assim ali estava ela.

— Viva... — Ela sussurrou, aliviada pelo abrigo da escuridão ao seu redor, onde ouvia-se apenas a respiração dos seus irmãos. Entornou seu copo de chá e aquietou-se naquela noite barulhenta, aconchegada em cobertores bolorentos e madeira podre, perdida nos mais diversos pensamentos.

Elsta havia recebido uma nova chance de viver, e não iria desperdiçá-la sendo tratada como peso para uma família que não queria. Não, Elsta iria fazer a própria vida daqui em diante, mesmo que isso a levasse a não ser mais uma Peverell. 


A Quarta PeverellWhere stories live. Discover now