Minhas férias foram meio monótonas, não sai de casa, o máximo que fazia era brincar com minha irmã e minha prima no quintal de casa, pensando bem, até que foi divertido. Nós brincávamos com as bonecas da minha prima Ângela, que é um ano mais nova que eu, ela tinha 10 anos. Na verdade, nós brigávamos mais do que brincar, pois era a discussão para saber quem seria a Barbie, eu sempre ganhava e ela tinha que aceitar, mas de vez em quando eu revezava com ela.
As férias estavam acabando e eu tinha medo do que eu teria que enfrentar na escola nova. Novas pessoas, como colegas de sala, professores... eu era muito introvertido, não me comunicava bem com gente desconhecida. Lembro de quando eu saia com meu avô, quando ele ia falar com algum cliente, Augusto, esse era o nome dele.
Meu avô trabalhava reformando sofás, que modéstia à parte, ele se garantia. Eu sempre tentava ajudar quando não estava na escola, se não fosse dando as ferramentas a ele, era segurando os tecidos para ele cortar. Eu gostava muito de ajudar, e quando não tinha nada em que ajudar, ia ver a minha vó, Maria, costurando os tecidos, eu ficava fascinado vendo ela fazer aquilo, achava impressionante uma coisa daquelas, a máquina, fazer um trabalho desses, apenas com o movimentar dos pés. Eu dizia que queria aprender, mas ela dizia que eu era muito novo e que poderia costurar minha mão, por isso não me atrevi a tentar escondido, morria de medo disso acontecer.
Mas sim, quando eu saia com meu avô, ou mesmo com minha avó para a casa de alguém, eu só aceitava o que me ofereciam depois de quem estava comigo dizer que eu podia aceitar. Muitas das vezes eu estava muito afim de comer, isso quando íamos para algum aniversário, mas só aceitava o que estavam oferecendo quando quem estava comigo, da minha família claro, trazia e me oferecia, podia passar o que fosse, mas eu não pegava. Besta não era eu!?
***
Era uma manhã de segunda, início de semana e das aulas na escola nova, para a série que eu iria fazer não tinha vagas de manhã, então fui matriculado de tarde. Não estava acostumado nesse horário, mas era o jeito, minha vó teve que insistir bastante para a diretora, pois as vagas já estavam todas preenchidas, mas como ela era amiga da família abriu uma exceção.
O que me lembro e que seja relevante a lhes contar dessa parte da minha vida, o ensino fundamental 2, são os amigos que fiz, os que tenho até hoje. Logo no primeiro dia de aula fiz amizade com uma menina, a Ariam, uma garota excelente, ela que me ajudou a ser menos inibido, também fiz amizade com a Carol e alguns meninos.
Aos poucos toda a sala foi se unindo, era incrível como todos, tipo, a coordenação, a diretoria e até o pessoal da limpeza, achava nossa sala a mais bagunceira, mas também era a mais estudiosa, vai saber como conseguíamos isso.
Lembro de uma vez, isso já foi na 6º série, um dos professores nos deixou de castigo trancados na sala, mas nós queríamos muito ir para o recreio, brincar de carimba, que era nossa diversão preferida, voltávamos para a sala pingando de suor, mas sim, daí quando o professor já tinha ido para a sala pedagógica, demos um jeito de arrombar o portão. O Carlos, um menino da sala, parecia ter muita força, ele mais a ajuda de alguns outros puxaram o portão até quebrar. Foi de mais, o professor ficou furioso, queria saber quem tinha feito aquilo, mas claro que toda a turma era cumplice, e não éramos dedos duros.
Fazíamos muita zoação. O Carlos era muito legal, mas ele tinha um problema, sovaqueira, e tinha dia que não dava para aguentar. Então o que fizemos, eu mais algumas pessoas da sala bolamos um plano.
O plano era o seguinte:
Cada um de nós traz 50 centavos, daí a gente compra um desodorante para ele – falava Ariam, quando estávamos na frente do colégio, depois do fim das aulas.
Isso, depois a gente coloca na mochila dele, quando ele não tiver na sala, claro, junto com um bilhete escrito USE-ME – disse Carol, todos rimos.
Pronto gente, então amanhã cada um traz o dinheiro – terminei nossa pequena reunião, tendo a resposta positiva de todos. Rimos e logo todos seguiram seus caminhos para nossas casas.
***
Conseguimos juntar R$ 4.50, dava de mais para comprar um Leite de Rosas para ele, e ainda dava comprar uns limões, lembro que minha mãe dizia que isso também ajudava a combater o odor.
Era uma quinta, depois da aula, e com dinheiro em mãos, eu e Ariam fomos na mercantil. Procuramos o desodorante e os limões. Agora só faltava chegar amanhã para colocar na mochila do Carlos. Eu fiquei de fazer o bilhete, pois minha letra, sendo nada modesto, era a mais bonita, mas claro que eu iria mudar um pouco, pois ele iria reconhecer, já que quase todo dia eu escrevia na lousa, a pedido dos professores. Decidi então fazer em letra de forma.
***
Eis que chegou o grande dia, esperamos dar a hora do recreio, eu e Carol ficamos na sala depois que todos saíram, Ariam ficou responsável de distrair Carlos lá no pátio da escola.
Fomos cautelosos, eu e Carol.
Pronto, agora é pedir para ele vê só quando chegar em casa – Falei, demos uma risada silenciosa e saímos da sala.
Por sorte a professora das duas últimas aulas tinha faltada, então fomos liberados mais cedo. Agora era esperar o final de semana passar e ver o que iria acontecer na segunda.
Ah como eu amava aquela escola, e todos os amigos que nela fiz (meu pensamento atual).
***
Era uma manhã de sábado, aproveitei para fazer as tarefas da escola que tinham sido passadas para casa. Era quase hora do almoço quando terminei, e um carro parou lá fora, era o traste do meu pai que estava retornando de uma viagem.
Minha mãe já não demostrava carinho por ele. Assim que entrou falou que tinha recebido muito dinheiro e fez uma proposta para meu avô.
Queria saber se o senhor me cedia um pedaço do terreno do quintal, que com o dinheiro que recebi dá para construir uma casinha para nós. – Falou o traste, que pela primeira vez pediu algo útil.
Com certeza, só quero ver minha filha e meus netos felizes – Falou meu vô.
Uma tia minha que estava com a gente hoje, tia Luiza, irmã da minha mãe, também tinha um terreno que era do lado casa dos meus avós, e ela não pensou duas vezes.
- Também cedo o mesmo tamanho que o pai for ceder para a construção da casa de vocês. – Falou tia Luiza.
Eu pensava só comigo – Não quero ir morar nesta casa, jamais – algum ruim me passava naquele momento... não queria viver debaixo do mesmo teto que ele, não queria sair do lado do meu vô, que era mais meu pai do que ele, pois foi paizinho, que era como eu chamava meu vô, que cuidou de mim a vida toda.
Passei o final de semana pensando nisto, de como eu iria convencer minha mãe de que eu queria ficar na casa dos meus avós, e também pensando de como seria a reação do Carlos na sala.
***
Enfim segunda, nunca estive mais ansioso por uma nova semana, primeiro que seria o resultado do plano para acabar com o odor do Carlos, e também porque hoje o paizinho e tia Luiza iria passar as partes dos terrenos para o nome de minha mãe, e o traste já ia mandar começar a construir a casa.
Mais algumas mudanças viriam pela frente, mas também quem não passa por mudanças, mas uma coisa que aprendi bastante foi que mudanças sempre são boas, quando positivas ou quando negativas, pois tudo serve para nosso crescimento pessoal, é só saber absorver o que te serve e o que não prestar é só jogar no lixo.
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Galerinha, aí está uma outra parte, espero que gostem, escrever está me ajudando muito. Espero não demorar muito para postar novamente, mas é que escrevo, reviso e já coloco aqui no mesmo dia. Então não esquece de deixar aquela estrelinha e comentar o que quiser. Xoxo.
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Desventuras do amor (Drama Gay)
Non-FictionAqui você saberá das mais impuras juras de amor que Caleb recebeu durante toda sua vida, entre outros fatos que marcaram seu crescimento familiar! Também saberás da tristeza em seu coração ao se reconhecer gay e tendo que carregar uma culpa que não...