Ser amigo, o que seria isso? Amizade é mais sobre estar, do que ser!
Ter ganhado a amizade de Artur foi naquela época uma das melhores coisas da minha vida, foi em 2005 se não me falhe a memória.
Posso lhes dizer que sem sombra de dúvidas Artur foi uma das primeiras pessoas para quem falei da minha sexualidade. Também lembro do que me fez criar coragem e falar para alguém.
Neste ano, como todos os outros eu assisti BBB, acho que vocês já sabem o que significa. Não? Tá, é Big Brother Brasil. Nesta edição tinha um candidato que se assumiu gay, diante de todos, inclusive da família que assistia o programa e não sabia de sua orientação.
Ele ter feito aquilo em rede nacional, fez a minha mente adolescente querer se libertar... Eu tinha planejado contar ao retornar da escola, iria passar na casa dele, do Artur e contar...
Porém, quando cheguei na escola, eu já estava entalado, eu precisava conversar, desabafar, contar para alguém, queria tirar um peso das minhas costas... Então, assim que vi Ariam, não tive dúvidas, eu a contaria.
Lembro-me como hoje, eu pedindo para conversar com ela, sentamos no recreio, e ali, no pátio da escola eu lhe contei. Não sei dizer qual o mix de sentimento que me percorreu naquela hora, mas o que me deixou abismado foi a reação de Ariam.
Ela me olhou bem nos olhos e me disse: - Eu já sabia, só não sei por qual motivo demorou tanto pra se assumir.
Naquela hora eu não sabia onde enfiar minha cara. Mas uma coisa que percebi foi que a partir daquele momento ficou mais claro para mim que a amizade da Ariam seria para sempre.
Spoiler: Nossa amizade dura até hoje, depois de 18 anos, inclusive compartilhamos a mesma casa, dividimos aluguel.
Sai da escola leve, leve, mas ainda iria passar pelo o Artur. Também queria contar pra ele, e ficava imaginando qual seria a reação dele, se seria a mesma da Ariam...
Cheguei na casa dele, bati no portão e logo ele veio.
Quando ele me viu, eu já estava com um sorriso no rosto, ao mesmo tempo que ainda estava nervoso, Artur perguntou logo o que era, e eu pedi calma...
Artur - argumentei - sabe o Jean do BBB? - ele fez positivo com a cabeca - Eu sou como ele!
Um silêncio de uns 5 segundos se instalou entre nós. Eu não sabia se era ruim, até que ele decidiu quebrar.
Tá querendo dizer sobre o que ele revelou no programa? - perguntou para mim que fiz que sim com a cabeça. - Oxe, de boa. Se você se sentir feliz assim, viva como quiser, ame como quiser. - depois dessas palavras nos abraçamos e senti um carinho enorme naquele momento.
***
Todos nós deveríamos ter alguém com quem compartilhar nosso dia a dia. Um amigo, um parente, um amor. Se você tem, faço por onde não o perder, isso é um privilégio. Não apenas fale, ouça também o outro. Muita das vezes precisamos apenas sermos ouvidos.
***
Depois que me assumi para os meus amigos me senti mais livre, pude ser quem eu realmente era quando estava com eles. Esse era meu pensamento aos 14 anos de idade, até perceber que nem todo mundo precisa saber tudo sobre você.
Mas me abrir com o Artur foi algo interessante. Parecia que ele também sentia o mesmo em relação aos garotos. E eu percebi que precisava ajudá-lo.
Aos poucos, a minha forma de ajudar não estava adiantando, então, minha mente adolescente preparou algo.
Na casa da minha vó tinha um poço de água, o que chamamos de cacimba, e quase todas as noites eu ia encher as vasilhas com água.
Certa vez pedi para o Artur ir comigo e me fazer companhia enquanto realizava tal tarefa. Enquanto eu puxava água íamos conversando sobre o nosso dia.
Tipo, como tinha sido na escola, pois não éramos da mesma e Artur é um ano mais velho que eu e está uma série a frente, os gritos que levávamos dos nossos pais, pois éramos bem sapecas. Esse tipo de coisa.
Eu sei que conversa vai, conversa vem, eu fiz o que já tinha planejado. Lasquei um selinho no Artur. Ele ficou sem reação, mais vermelho que um tomate por conta da sua pele clara.
Ficamos em silêncio um bom tempo, até ele decidir sair e sentar embaixo do alpendre do quintal. Fui até onde ele estava, pedi desculpas e pedi pra ele falar alguma coisa.
Não peça desculpas - foi o que ele me disse. - Eu também queria fazer isso - completou Artur.
Naquele momento eu que fiquei envergonhado. Pois eu queria que ele apenas se sentisse a vontade, não que dissesse que estava afim de mim, pois foi o que pensei que ele iria dizer logo em seguida, depois que falei que ele podia conversar comigo sobre tudo.
Eu gosto de um menino lá da minha escola, faz um tempo já, ele parece que também está afim, mas eu nunca fiquei com ninguém. - falou ele quase que em tom de choro.
Eu falei pra ele que o entendia, e o que disse para ele, em tom de brincadeira, foi que eu poderia fazer era treinar o beijo com ele, o que pra minha surpresa foi aceito.
Só sei que passamos uma semana nesse treinamento de beijo, pensei até que iríamos bagunçar nossa amizade, mas não, não passou disso, nossa amizade continua até hoje. No decorrer de todo esse tempo ficamos sim algumas vezes, mas só por ficar, nada sério, e fomos bem mais além dos beijos, se é que me entendem.
Mas eu não queria me apaixonar, não estava aberto a perder uma certa liberdade que eu tinha, mas o sábio sempre há de saber que não se manda completamente nas coisas do coração.
***
Bom galera, isso foi o que consegui escrever... breve, breve solto o próximo, pois um coração partido me faz querer ocupar a cabeça.
Ps.: Meu amor, caso leia, saiba que eu te amo, e vou continuar a te amar.
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Desventuras do amor (Drama Gay)
Não FicçãoAqui você saberá das mais impuras juras de amor que Caleb recebeu durante toda sua vida, entre outros fatos que marcaram seu crescimento familiar! Também saberás da tristeza em seu coração ao se reconhecer gay e tendo que carregar uma culpa que não...