Capítulo XX- Reunião familiar

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Os dias seguintes a cirurgia foram repletos de cuidados tanto por parte de Mary como de Alec. Kate esteve muito bem assistida, a cada instante Mary lhe oferecia alguma comida e Alec vinha e a medicava para que não sentisse dores e viesse a ter uma rápida e tranquila recuperação.

Dias se passaram sem que ela pudesse deixar seus aposentos. Apenas depois de retirar as bandagens dos olhos é que pôde descer as escadas para ficar algumas horas na sala ou ir ao jardim respirar um pouco de ar fresco.

Seguiu-se um período de grandes expectativas durante as primeiros dias, especialmente por parte de Mary e Alec, que contra toda a sua lógica científica, acreditava que poderia ocorrer um ato miraculoso.

Como fora ensinado desde menino por seus pais, aonde terminam as possibilidades humanas Deus age realizando o impossível.

Entretanto, nem sempre os atos divinos correspondem aos nossos anseios e cabe a nós aceitarmos o bem feito com prazer, pois tudo tem uma razão de ser. Todas as coisas que acontecem visam um bem maior...

Com a retirada dos curativos foi constatado que assim como o previsto pelos médicos que acompanharam o processo cirúrgico, a moça não havia recuperado a visão. Em contrapartida ela já não sentia mais as suas frequentes e terríveis dores de cabeça e, parecia que um grande peso havia sido retirado da mesma.

Era reconfortante para ela poder se sentir livre mesmo sem conseguir enxergar. Ela estava livre das dores, livre da culpa, do remorso, do ressentimento pela morte dos pais. E principalmente, liberta das amarras impostas pela sociedade que a qualificavam como uma pessoa inferior, inapta, incapacitada de desempenhar as atividades mais básicas ou até mesmo de exercer seus direitos e tomar suas próprias decisões.

Kate agora já não se sentia como um fardo a ser carregado pelos outros, uma pessoa por quem sempre teria alguém responsável.

Ela, agora era outra vez, Katherine Williams-Cosworth, porém com grandes diferenças que a tornavam diferente como se fosse outra, sendo ela mesma.

Kate, sentia que era responsável por sua vida, por seu destino e suas escolhas. Ela havia se transformado na melhor versão de si mesma e estava amando isso. Pretendia aproveitar cada milésimo de segundo dessa sensação de liberdade.

Certa vez, no meio da manhã quando se encontrava sozinha no jardim, Mary adiantava alguns dos serviços da casa e os demais cuidavam de seus próprios afazeres, Kate ouviu passos suaves vindos de algum lugar bem próximo a ela. A pessoa se movia lenta e sorrateiramente, no entanto, não escapou da aguçada audição da moça que estava mais e mais sensível a tudo que ocorria a sua volta. Ela fingiu não ouvir nada para comprovar suas suspeitas. O fato é que o modo de andar era bastante conhecido por ela, na verdade, era inconfundível.

Kate esgueirou-se discretamente por trás de uma cerca viva e esperou que a outra pessoa se aproximasse. Quando isso aconteceu, ela o surpreendeu lançando-se em seus braços e dando-lhe um grande susto. Alec caiu perplexo por cima das plantas enquanto Kate ria a vontade de sua expressão assustada.

- Céus, assim você irá me matar!! - Apesar da ênfase da frase e o tom um pouco exíguo, ele mantinha um grande sorriso no rosto.

- Nem pense nisso, acha que irá se livrar de mim tão facilmente? Acho bom o senhor ficar bem calmo e deixar de ser tão medroso afinal, eu sou penas uma pobre dama indefesa. - Ela sorria travessa e fazia-o rir também.

Alec tinha ido avisá-la de que os preparativos para sua partida estavam ocorrendo como imaginado. Kate se sentia aliviada e feliz por poder voltar a sua tão querida rotina e ao seu amado lar. Ela e Mary, voltariam ligo após a ida de Alec. Ele iria na frente para poder organizar a viagem das duas e também deixar a casa de acordo com as necessidades da moça. Pois com a ausência de Mary, a moradia deveria estar de pernas para o ar. Afinal Joseph nunca foi muito organizado ou habilidoso com as tarefas domésticas.

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