Capítulo XI - Bons tempos

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A vista diante dele era magnífica. Um verdadeiro monumento aos olhos. Cosworth House, antiga construção datada do século XVII era, literalmente um castelo. Com seus mais de 35 quartos, inúmeras salas, de música, de costura, seus lustres de cristais, quadro com pinturas caríssimas, suas escadarias suntuosas, seus corredores, salão de festas, a enorme biblioteca, ala dos empregados, entre outros...

O imenso jardim adornando a frente do local trazendo ainda mais beleza e causando admiração a todos que pudesse ver seus atributos. Contando com diversas espécies de plantas e uma grande variedade de flores e arbustos que coloriram e espalhavam seus perfumes. A enorme quantidade de flores perfumadas eram o auge da beleza dos jardins.

Haviam tulipas, crisântemos, rosas e uma abundância de lírios em suas várias tonalidades e ainda de forma mais marcante, na cor azul. No passado, cultivar lírios era uma das tradições da família, a propriedade era conhecida como a Casa dos Lírios Azuis. Pois estas eram as flores preferidas da antiga condessa de Clarice, bisavó de Kate. Os lírios azuis simbolizavam a constância e a solidez da união do casal Cosworth. Ambos esbanjavam amor e cumplicidade. Jamais passavam muito tempo longe um do outro e sempre buscavam uma desculpa para estarem juntos. Eles se completavam e se entendiam perfeitamente. Eram um exemplo a ser seguido, e fora seguido, pelo menos pela maioria de seus descendentes, fora algumas raras excessões como Frederick e seu próprio pai, os demais homens da família jamais deram qualquer indício de desvio de caráter ou qualquer má ação que pudesse ser reprovada. Mas como dizem, para toda regra há uma exceção, e neste caso foram duas.

Na parte de trás do castelo haviam os estábulos que um dia contaram com a presença de belos exemplares de cavalos de raças puras como puros sangue inglês, árabes, espanhóis... Agora haviam somente uns poucos animais utilizados no serviço de condução das carruagens e para montaria do mestre da casa.

Toda a beleza dos anos dourados do Castle Blue Lily House se desvaneceu em grande medida desde a morte de William Cosworth, último conde de Winchcombedcotton, pelo menos o último digno desse honorável título....

A tradição familiar dos Winchcombedcotton era de longa data e apesar de não serem conhecidos como guerreiros todos os detentores dessa honraria possuía a mais nobre admiração e reconhecimento por seus serviços prestados ao reino e a sociedade. No passado, nos tempos das revoltas e guerras civis, como a Revolução Gloriosa e Revolta Puritana, os ancestrais do atual conde foram os mais célebres conselheiros das lideranças políticas.

O tataravô de Kate, William Henry Cosworth fora de grande importância na resolução de ambos os conflitos, o velho lorde era muito sábio e pressentia o momento certo de falar e de agir, bem como o de manter o silêncio e além da cautela de esperar a oportunidade para cada ato fosse este grande ou pequeno.

Sempre bastante cauteloso e gentil com todos conquistava o respeito até mesmo de seus adversários em debates políticos. Com sua habilidade retórica conseguia convencer até mesmo o próprio Rei a considerar suas opiniões. Sua eloquência era tanta que tornou-se um dos amigos mais próximos de Sua Majestade Real antes mesmo de tornar-se membro da família real através dos laços de casamento com uma prima do monarca.

Dentre todas as qualidades cultivadas pelos Cosworth Frederick herdara apenas a beleza e a eloquência. A mente irrequieta do atual conde jamais desenvolveu qualquer coisa semelhante a honestidade e honra. Sua arrogância era tremenda e seu sentido de justiça era deturpado ao ponto de ele considerar justo agir como dono da razão e da verdade, sendo estas sempre subordinadas a sua própria vaidade e discernimento sombrio.

As recordações das grandes festas, dos saraus, dos bailes oferecidos pelos pais no passado...
A casa era linda, enorme, um verdadeiro palácio. As aparências foram preservadas até certo ponto. A fachada e os arredores da construção se mantinham quase intactos, porém seu interior estava em crescente decadência. As paredes, os móveis, os pisos e até mesmo o teto com seu luxuosos lustres de cristais importados apresentavam desgastes visíveis. Até diante de olhos mais desatentos e não conhecedores do passado requintado seria fácil perceber as falhas na conservação dos ambientes.

Frederick, não conseguia mais ignorar a situação da moradia nem que essa fosse sua intenção. Há anos seguindo um ritmo vertiginoso de gastos desenfrenados, viagens caras, diversão, bebedeiras, festas e muitos outros prazeres luxuosos agora estavam cobrando seu preço. A riqueza escorreu por água abaixo!

Já não havia pessoas a quem recorrer com os frequentes empréstimos. Não possuía crédito algum diante da sociedade ou de qualquer banqueiro para solicitar ajuda financeira. A única maneira de reverter sua falência iminente era por meio do casamento.

Sob essa perspectiva Frederick, tentou fisgar uma herdeira entre as debutantes da temporada londrina, mas as mães casamenteiras sabendo de sua real condição financeira o rechaçaram não lhe permitindo sequer comparecer a seus famosos bailes. Foi desta forma que o plano de retomar o antigo compromisso rompido com sua prima se delineou em sua mente sagaz.

Pensando em procurá-la, ele voltou a pressionar Léfrév para obter as informações necessárias. Ao esgotar todos os seus meios de ameaça e coação optou pela vigilância. Contratou um homem sem escrúpulos para averiguar todos os passos e até as correspondências do advogado. Depois de certo tempo, descobriu tanto a localização como a feliz notícia do breve retorno de sua "noiva".

Pensando pela primeira vez na vida com um fio de sensatez, decidiu esperar a volta da moça para se apresentar como arrependido e terno apaixonado. Na mente dele Kate continuava sendo a mesma garota boba e inocente que caiu em sua lábia no passado. Certo de que ela aceitaria seu oferecimento e se renderia a seus encantos simplesmente por não ter ninguém mais interessado, ele sorriu vitorioso e congratulou a si mesmo por tamanha engenhosidade.

Frederick passou os dias seguintes feliz e cheio de satisfação brindando a si mesmo por ser um cavalheiro de renome e, com seu casamento tão próximo só podia imaginar como seria voltar as boas graças da sociedade como o filho pródigo que retornou depois de muito tempo longe de seu lar.

Assim era a convicção do rapaz alheio ao verdadeiro sentido das próprias comparações. Pois ao contrário do dito filho pródigo, ele não possuía um único fragmento de arrependimento, não sofrera ainda, nenhum castigo e pior do isso tudo, não assimilara nenhuma lição de moral, que é o verdadeiro sentido da parábola bíblica.

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Olá a todos!!!
Esse é um pequeno marco do meu retorno. Eu lhes ofereço essa pequena garantia de que estou sim trabalhando na história, mesmo que a passos lentos...

Eu estou tentando terminar, e confesso que não está sendo fácil como eu pensei lá no início...

Enfim, esse é meu presentinho a vocês:
Feliz Dia dos Namorados para meus queridos leitores!
Aproveitem o dia! E boa leitura!
Até breve!

Além do que os Olhos Podem Ver...A Luz do teu olharOnde histórias criam vida. Descubra agora