CAPÍTULO 2 - Niall

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- Eileen! - chamei feliz.

A imagem de nós dois cavalgando por uma planície cheia de flores em um pôr do sol lindo, encheu a minha alma de alegria.

Alegres, ríamos de alguma coisa que ela falava. Uma sensação de paz invadiu o meu ser. Eu estava verdadeiramente feliz, em um momento descontraído que deixava meu corpo e minha alma leve e tranquilo.

Ouvi a risada da Eileen apontando algo à nossa frente. Ela virou seu rosto lindo e tive o vislumbre do seu sorriso maravilhoso e dos seus olhos que transmitiam a verdadeira felicidade que ela estava sentindo.

Apesar das circunstâncias da minha vida e mesmo sabendo que aquilo era errado, ali, eu tive a certeza que jamais amaria outra mulher como amava aquela. Meu amor por ela, era forte e avassalador como uma chama que queima eternamente.

Eileen, era linda e alegre. Sua aparência era de um anjo inocente, mas ao mesmo tempo, parecia que dentro dela existia o espírito de um cavalo selvagem, livre e feroz. Eu costumava brincar que ela amava tanto os cavalos, porque possuía um bem dentro de si.

Depois, tudo se estraçalhou. Toda alegria se partiu dando lugar a uma feroz tristeza. Em um segundo eu estava vivendo um momento feliz e, no outro, não havia mais nada que tristeza e escuridão.

- Eileen! - Comecei a gritar seu nome, procurando-a desesperado, mas eu não conseguia enxergar nada.

Um grito de horror ecoou pelos meus ouvidos e reconheci sua voz em meio a escuridão. Saí desesperado tentando encontrá-la, mas não a encontrei. Eu ouvia somente seus gritos pedindo por socorro.

De repente, uma explosão balançou tudo ao meu redor e um clarão surgiu a minha frente. Saí desesperado quando a luminosidade do fogo me permitiu enxergar e ví que a casa onde ela morava estava pegando fogo. Conforme o tempo foi passando, os pedidos de socorro diminuíram até sua voz ser calada por outra explosão.

Meu corpo começou a tremer sem controle. Minha pele ardia como se eu estivesse sendo atingido pelas chamas, mas isso era impossível, eu estava longe demais.

Quando meu corpo conseguiu reagir e dei o primeiro passo rumo aquela cena de terror, a imagem a minha frente se deteriorou como num passe de mágica e tudo voltou a escuridão.

Irlanda - 2018


- Ahhhh! - gritei.

Como sempre acontecia, acordei assustado e sem saber onde estava. Assim que me sentei na cama e abri os olhos, a escuridão me causou um incômodo inesperado. Depois das tentativas falhas em acender o abajur, deitei-me novamente, lembrando onde eu estava.

Queria que as lendas que diziam que os vampiros não dormiam fossem reais. Seria muito mais fácil não reviver o passado todas as vezes que eu dormia. Sempre que isso acontecia, eu era transportado ao começo do inferno que eu vivia a quase dois séculos.

- INFERNO - Praguejei alto. O pior é que era isso mesmo. Depois que Eileen morreu, passei a viver num inferno.

Levantei da cama e puxei as pesadas cortinas, buscando iluminar um pouco mais o ambiente. Com as cortinas abertas, a claridade da lua cheia infiltrou dentro do quarto, e lentamente, abri a enorme janela de vidro a minha frente. Imediatamente, o frio do inverno Irlandês bateu em meu rosto, causando um arrepio inesperado. O desconforto era mais pela mudança brusca de temperatura, do que pelo frio em si. Há muito tempo meu corpo já não sentia mais esses incômodos com as intempéries da natureza.

Uma chuva fina caía naquela madrugada e fiquei olhando perdido para o nada.
Encostei a testa na janela e sem que eu desejasse, as imagens do pesadelo daquela noite retornaram. Podia ficar tempo sem tê-los, porém, eles sempre vinham repletos de lembranças dolorosas de um passado que mesmo cheio de sofrimentos eu não queria esquecer. Esquecer o passado, seria como esquecer a Eileen e isso eu jamais faria.

O que mais doía e corroía a minha alma por todos esses anos, era o remorso. Foi tudo culpa minha. Eu não tive coragem de largar tudo para ficar com ela, mas também não consegui deixá-la livre para viver sua vida longe de mim.

Eu fui egoísta, a coloquei no meu mundo louco e usei seu amor para mantê-la comigo. Mesmo nunca dizendo o quanto a amava, ela preferiu ficar comigo e acabou enfrentando, mesmo sem saber, o ciúme e a maldade do Padraig.

Hoje não vivo, apenas sobrevivo nesse mundo a sua procura. Eileen. Ela era meu sol, meu tudo e mesmo assim não fui capaz de dar o meu amor e de protegê-la.

Tudo o que sou hoje é reflexo dos meus atos edas decisões que tomei há mais de 180 anos para ter a oportunidade de vê-lanovamente. Só não esperava que nosso reencontro fosse demorar tanto tempo. Masjamais desistirei, mesmo que para isso eu precise viver a minha eternidade asua procura.

Através do Tempo - AMOSTRAOnde histórias criam vida. Descubra agora