CAPÍTULO 1 - Amanda

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Muscatine/Eua - 2018


Enquanto o ônibus me levava, eu permanecia com os fones nos ouvidos e cantarolava baixinho a canção Freeze you out, deixando que a voz linda da Sia soasse dentro da minha cabeça. A música sempre teve o poder de me alegrar, mas, nos últimos anos, descobri que a sua magia ia além. Ela alimentava a minha alma, criando outras realidades e me transportava para um mundo onde a vida era mais fácil e bonita.

Nos meus 23 anos de vida, esta era a primeira vez que me sentia livre. Nunca tive essa liberdade de viajar sozinha e sem rumo, mas o melhor mesmo era a esperança de não ter aquele sentimento de medo e tristeza que me acompanhou por tantos anos.

Fugi de um marido louco e agressivo, que nos últimos anos do nosso casamento me batia quase todos os dias. Eu apanhei. Fui humilhada. Maltratada. E magoei pessoas que queriam o meu bem. Tudo porque estava cega e ainda acreditava no seu amor, no seu arrependimento e nas promessas vazias que ele fazia. O pior é que ele sempre conseguia me convencer que eu seria burra se não o perdoasse.

Acho que todas as mulheres que são agredidas têm a esperança de que seus maridos possam um dia mudar. Porém, depois de um ano, percebi que ele nunca mudaria e que a tendência seria somente piorar.

Aguentei firme durante todo o tempo que estivemos casados, pois sabia que o único jeito de conseguir sair inteira daquela relação era fugindo e não queria abandonar meu pai, que estava velho e doente. Por isso suportei tudo e planejei durante anos a minha fuga.

Alguns dias antes do meu pai morrer, ele me contou que já sabia tudo o que eu passava com o Paulo e que pensando no meu futuro, tinha aberto uma conta bancária em meu nome, onde colocou todas as suas economias. Ele me fez prometer, que assim que ele morresse eu iria fugir. Parece que ele já sabia que iria morrer, pois duas semanas depois ele faleceu enquanto dormia.

Quando papai faleceu, a tristeza de perdê-lo foi muito grande e quase me fez desistir de tudo, até mesmo da minha própria vida, mas, depois de raciocinar melhor, me lembrei da promessa que fiz a ele e finalmente criei coragem para fugir.

Agora, eu era apenas uma casca. Uma mulher triste e sozinha, que lutava diariamente para conseguir, enfim, ter uma vida tranquila e feliz. Era somente isso que eu ansiava: ser feliz. E eu lutaria para conseguir.

Voltei a olhar para a janela e percebi que o ônibus diminuía a velocidade, indicando que finalmente tinha chegado ao meu destino. Assim que coloquei meus pés para fora do ônibus, fui envolvida pelos aromas e ruídos do meu novo lar, Muscatine — Iowa, que me convidava a esquecer o passado e explorar essa minha nova vida.

 Assim que coloquei meus pés para fora do ônibus, fui envolvida pelos aromas e ruídos do meu novo lar, Muscatine — Iowa, que me convidava a esquecer o passado e explorar essa minha nova vida

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Muscatine não foi escolhida ao acaso, tudo foi pensado e planejado para que eu pudesse viver em segurança e ainda conseguisse me sentir em casa, mesmo estando tão longe.

Através do Tempo - AMOSTRAOnde histórias criam vida. Descubra agora