Primeiro pesadelo

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Acordei no meio da madrugada assustada. Tive um pesadelo muito estranho. Sonhei que tinha uma adolescente atravessando a rua e que ela foi atropelada e que morreu. Fui correndo pro quarto do meu pai.

Abri a porta devagar.

-Pai? Disse eu subindo na cama e mexendo com ele.

-O que foi filha?

-Eu tive um pesadelo. Estou com medo. Posso deitar com você?

-Nem pensar. Volte para o seu quarto.

Sei que não deveria fazer isso, mas precisava me recuperar desse pesadelo. Então eu peguei o livro de Willian Shakespere e subi no sótão da casa e olhei pela janela as estrelas no céu. Peguei uma lanterna e comecei a ler.

-~ Soneto 23 ~

Como no palco o ator que é imperfeito

Faz mal o seu papel só por temor,

Ou quem, por ter repleto de ódio o peito

Vê o coração quebrar-se num tremor,

Em mim, por timidez, fica omitido

O rito mais solene da paixão;

E o meu amor eu vejo enfraquecido,

Vergado pela própria dimensão.

Seja meu livro então minha eloqüência,

Arauto mudo do que diz meu peito,

Que implora amor e busca recompensa

Mais que a língua que mais o tenha feito.

Saiba ler o que escreve o amor calado:

Ouvir com os olhos é do amor o fado.

Com a lanterna fui iluminando o resto do sótão. Ali só tinha caixas e mais caixas. cobertas por panos. Deixei tudo ali quieto e intacto e continuei a ler, em voz alta.

-SONETO LXV

Se a morte predomina na bravura

Do bronze, pedra, terra e imenso mar,

Pode sobreviver a formosura,

Tendo da flor a força a devastar?

Como pode o aroma do verão

Deter o forte assédio destes dias,

Se portas de aço e duras rochas não

Podem vencer do Tempo a tirania?

Onde ocultar - meditação atroz -

O ouro que o Tempo quer em sua arca?

Que mão pode deter seu pé veloz,

Ou que beleza o Tempo não demarca?

Nenhuma! A menos que este meu amor

Em negra tinta guarde o seu fulgor.

Eu realmente amava ler livros e textos, não importa oque fosse. Gostava de ler até jornal. Gostava de ler de tudo. Escutei o barulho de um cachorro latindo e correndo muito e fiquei mais assustada ainda. Desci as escadas correndo e fui direto pra sala de estar pra ver o que estava acontecendo na rua. Tinha um garoto que aparentava ter uns 13 anos correndo atrás de um cachorro. Eu fiquei apenas observando, escondida atrás da cortina. Eu respeitava as regras do meu pai de não falar com ninguém e não deixar ninguém me ver. De repente, o cachorro começou a cavar no meu quintal. Eu então, entrei para dentro.

Você está segura em seu quarto,  AmélieWhere stories live. Discover now